Opinião

Ser enfermeiro em tempos de Pandemia

Atualizado: 
12/05/2020 - 10:09
Hoje, dia 12 maio, dia Mundial do Enfermeiro foi-me lançado o desafio de escrever sobre o que é ser enfermeiro, no contexto atual de pandemia por COVID-19. Coloco aqui uma perspetiva pessoal do que penso representar o enfermeiro nos dias de hoje: reinvenção e orgulho.

Historicamente, assim como na atualidade, os enfermeiros estão na primeira linha de combate a epidemias e pandemias que ameaçam a saúde em todo o mundo, atuando na prevenção, tratamento e contenção das mesmas. Atualmente eles são elos fundamentais da qualidade e segurança dos cuidados de saúde, da prevenção de infeção associada aos cuidados e elementos ativos na promoção e garantia de boas práticas dos cuidados. Hoje com a realidade da COVID-19, em que a higiene das mãos, a desinfeção das superfícies e o distanciamento físico são determinantes para a contenção, o seu papel é crucial. Prestamos cuidados globais de excelência e o desafio que a pandemia COVID-19 lançou ao mundo é também o nosso desafio: REINVENTARMO-NOS diariamente a todos os níveis de atuação.

Na prestação de cuidados, a COVID-19 e o equipamento de proteção individual acrescentaram barreiras muito maiores que a barreira da nossa proteção. Acrescentou a distância, o ficarmos irreconhecíveis, a alteração da sensibilidade no tocar e na realização de procedimentos e alterou a forma como abordamos, vemos e ouvimos os pacientes. Foi preciso parar, para repensar e reinventar, treinar como colocar e retirar equipamentos de proteção individual e ajustar a nossa prática na realização de procedimentos junto dos pacientes. Mas sobretudo, foi necessário reajustar o olhar e o ouvir, para continuar a ver e a escutar, para além dos óculos e viseiras embaciadas, cogulas, máscaras e fatos e manter o foco no paciente de forma eficiente, ao mesmo tempo que nos ajustamos aos novos procedimentos, circuitos e dinâmicas.

Foi e é preciso um enorme e constante esforço de reajuste, flexibilidade e capacidade adaptação. Exigiu e exige diariamente planear, planear e voltar a planear, mantendo o foco na segurança dos pacientes e famílias, na nossa e de todos os profissionais que connosco partilham o espaço de cuidados de saúde. A atualização e a gestão da informação, que muda a cada momento, são também prioridades diárias.

Muitos processos foram melhorados e inevitavelmente treinados e otimizados para dar resposta às novas necessidades. Estou certa de que muitos se irão manter e acrescentar valor à nossa prática futura. A gestão do equipamento de proteção individual foi e continuará a ser uma realidade diária, a sua racionalização e adequada utilização exige todos os dias uma energia extra que só pode compensar. Pela nossa segurança vale a pena manter mais esta pequena “grande” luta dentro da luta global.

Para terminar, reiterar o meu orgulho por continuarmos, enquanto enfermeiros a promover o acesso aos cuidados de saúde, assegurar promoção da saúde e prevenção da doença, constituindo mais uma vez um dos pilares basilares dos cuidados de saúde globais em todo o mundo.

Orgulho por muitos dos enfermeiros que saíram das suas zonas de conforto de prestação e passaram a prestar cuidados noutras áreas, mantendo o rigor e profissionalismo e contagiando colegas pelo seu espirito de equipa e colaborativo. Orgulho pelo profissionalismo com que vejo diariamente os enfermeiros trabalharem no meu hospital, na comunidade e outros hospitais do país e do mundo. E orgulho pelo espírito de colaboração global que tem unido não só os enfermeiros como todos os profissionais que trabalham na prestação de cuidados de saúde em todo o mundo, numa luta global.

Autor: 
Raquel Francisco – Enfermeira Responsável da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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