Cancro da orofaringe

A sensibilização para o HPV em diversas áreas médicas permite um melhor controlo das doenças associadas

Atualizado: 
30/06/2021 - 15:35
Os vírus do papiloma humano (HPV), dos quais existem cerca de 200 genótipos, têm uma apetência para infetarem células epiteliais, quer sejam da pele ou das mucosas.

Podem provocar lesões benignas (papilomas) ou malignas (cancro) em várias localizações do corpo, nomeadamente no colo do útero, nos genitais externos femininos e masculinos, na região anal e perianal, na pele (verrugas), na orofaringe (amígdalas), na boca, na laringe, entre outras, mas mais raramente.

A transmissão do vírus para a boca, faringe e laringe pode ser por contato direto boca a boca, sexual (sexo oral), autoinoculação ou através de transmissão no parto.

A maioria das pessoas (80-85%) têm uma infeção por HPV ao longo da sua vida. No entanto, na maioria das vezes, as infeções curam espontaneamente nas pessoas saudáveis, num prazo de cerca de 1-2 anos. O HPV pode ficar “adormecido” nas células epiteliais e só manifestar a doença passados alguns anos. O HPV não tem tratamento e não existe nenhum medicamento que o elimine, no entanto, existem vários métodos para eliminar os tecidos onde ele está localizado.

Os vírus do HPV são agrupados pelo risco de provocar cancro: alto risco (16,18), risco intermédio (31,33,35,39,45,51,52,58,59,68), e baixo risco (6,11,42,43,44).

O cancro da orofaringe tem uma incidência em Portugal de 2,2/100.000/ano, isto é, em cada ano surgem 220 novos casos de cancro da orofaringe. Em cerca de 35% dos casos de cancro da orofaringe (amígdalas palatinas e linguais) já se encontra o HPV, associado ou não ao tabaco e álcool. O HPV 16 é o mais encontrado nos carcinomas das vias aerodigestivas superiores: 68,2% na boca, 86,7% na orofaringe e 69,2% na laringe.

Ter múltiplos parceiros sexuais é considerado um comportamento de risco para contrair o HPV, bem como o contato oro-genital ou oral com pacientes HPV+. No entanto, não devemos esquecer a disparidade entre o alto número de infeções por HPV (75% da população em Portugal) e o baixo número de cancro da orofaringe HPV+ (35-40% dos 220 casos por ano).

Em relação ao cancro do colo do útero, este é quase exclusivamente provocado pelo HPV.

Assim, o controle do HPV e das doenças que provoca passa por um conhecimento do vírus, do seu comportamento, das suas várias localizações, do modo de transmissão, e da sua prevenção.

A vacina contra o HPV tem especial interesse na idade pré-sexual em raparigas e rapazes. E foi apoiada pela Food and Drug Administration (FDA) americana para a prevenção do cancro da orofaringe. Além da prevenção, o diagnóstico precoce tem muita importância no controle e tratamento destes cancros.

Posto isto, torna-se evidente a pertinência da abordagem multidisciplinar ao tema do HPV, pelo impacto que terá no estudo e controle destas doenças provocadas pelo vírus, que envolvem as seguintes áreas: Ginecologia, Otorrinolaringologia, Proctologia, Gastro, Cirurgia Geral, Urologia, Dermatologia, Pediatria, entre outras.

Neste sentido, importa destacar iniciativas como a 3.ª Edição do “HPV Clinical Cases”, sob o tema “HPV como um todo”, uma reunião direcionada para todos os médicos das várias especialidades

que contactam com as doenças provocadas pelo HPV, com o objetivo de trocar experiências e conhecimentos e atualizar a evidência científica para a prática clínica, sensibilizando para a doença do HPV.

Os profissionais de saúde estão, assim, convidados a submeter os casos clínicos até dia 16 de julho, para serem, posteriormente, avaliados pelo júri. Os critérios a ter em conta serão a pertinência do caso clínico, a originalidade, o rigor científico, o raciocínio clínico, e o impacto do caso clínico no conhecimento da comunidade médica e nos cuidados a prestar aos doentes.

Esperamos uma grande adesão, de múltiplas especialidades, com concurso de excelentes casos clínicos, e com uma participação relevante no evento de apresentação das melhores submissões, em outubro.

Autor: 
Dr. Pedro Montalvão - Otorrinolaringologista do H. CUF Descobertas; Coordenador da Unidade de Cancro da Cabeça e Pescoço do Instituto CUF Oncologia; Assistente Graduado Sénior de ORL do IPO de Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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