RECOVERY – O Terapeuta de Referência no nosso processo de recuperação

Saúde Mental, os jovens e o seu processo de recuperação!

Atualizado: 
17/08/2022 - 16:03
Nas nossas Unidades, tanto na Unidade Sócio Ocupacional, como na Unidade de Residência de Treino de Autonomia, todos os nossos jovens têm um terapeuta de referência, que é definido pela equipa Multidisciplinar, em reunião, consoante o processo e as informações que esta recebe, antes de os conhecermos pessoalmente. Adaptamos o terapeuta às caraterísticas de cada jovem e, na maior parte das vezes, funciona muito bem, sendo que o terapeuta inicia o processo e acompanha o jovem até ao momento da sua alta.

O terapeuta de referência, como designamos na RECOVERY IPSS, é, basicamente, o gestor do processo:

  • Recebe o jovem e apresenta as caraterísticas da Unidade onde irá ser inserido, os seus direitos e os seus deveres. No momento em que o terapeuta recebe o jovem, deve ser criada uma relação de confiança e empatia entre ambos. Por vezes, pode ser mais demorada, mas acaba por acontecer, dependendo das caraterísticas de cada jovem e do próprio gestor do processo. Devendo ser, por isso, a pessoa de confiança para com o jovem, caso este necessite de alguma coisa.
  • Realiza o seu Processo Individual de Intervenção (PII), que é revisto, normalmente, de três em três meses, com o apoio de toda a equipa multidisciplinar. Todos os jovens têm um PII, com diferentes objetivos e consoante o seu diagnóstico (Perturbações Alimentares, Fobia Social, Autismo, Depressão, entre outras), sendo que têm, também, objetivos comuns a todos, sendo eles: a realização de ABVD`s (Atividades Básicas de Vida Diárias) e as AIVD`s (Atividades Individuais de Vida Diárias), como por exemplo, tratamento de roupa, manter os espaços comuns higienizados, bem como o cumprimento da terapêutica, entre outros.
  • Acompanha o jovem a todas as consultas no exterior, consultas essas, de médico de família, dentistas, entre outras, caso haja necessidade, bem como de Pedopsiquiatria, que, apesar de esta valência fazer parte da nossa equipa multidisciplinar e de, normalmente, terem uma consulta semanal, os jovens mantêm consultas com o Pedopsiquiatra que os encaminharam, e já os acompanha antes do internamento e irá acompanhá-los após a alta.
  • É a pessoa que mantém o contacto mais próximo, dando as indicações necessárias aos seus familiares responsáveis e/ou ao seu representante legal. Neste sentido, existe uma proximidade entre o terapeuta e os responsáveis pelo jovem, são realizadas reuniões mensais, bem como chamadas telefónicas semanais, no sentido de dar orientações aos familiares para melhor lidar com a problemática específica de cada jovem.
  •  Na integração no meio escolar, o papel do terapeuta é o de perceber, junto do jovem, as suas escolhas escolares, realizando a matrícula na escola que mais se adequar ao perfil do jovem traçado pela equipa multidisciplinar. Após realizar a matrícula, o terapeuta de referência passa, também, a ser o encarregado de educação do jovem, fazendo o pedido do passe e dos manuais escolares, justificando as faltas, estando presente nas reuniões de encarregados de educação no final de cada período letivo.

Ser terapeuta de referência é muito importante no processo de reabilitação de cada jovem, sendo que temos que ter a capacidade de criar uma relação empática com o jovem e, ao mesmo tempo, distanciar-nos do processo.

De referir que estou nestas Unidades desde o seu início, como psicóloga e terapeuta de referência, e refletindo sobre estes anos, tenho a dizer que é um trabalho árduo, mas muito gratificante. Não posso deixar de referir, então, a minha primeira experiência como terapeuta de referência, que foi com uma jovem, que entrou na Unidade após tentativa de suicídio, “Suicídio Perfeito”, termo utilizado pela própria. Tinha como diagnóstico, para além de risco de suicídio, CAL (Comportamento Auto Lesivo) e Perturbação Alimentar. Teve alta da Unidade após quase dois anos de internamento. Ao realizar o follow-up (que é realizado a todos os jovens que estiveram na Unidade de Infância e Adolescência, via chamada telefónica, após três meses da alta, após seis meses e cadência anual), fui informada, pela própria, de que terminara o 12º ano e que iria ingressar na Universidade, no curso que escolheu. Quando, por vezes, olhamos de tão perto para o desespero dos nossos jovens, não posso deixar de referir que os casos de sucesso são marcantes e completam o nosso dia a dia. É por eles que trabalhamos todos os dias. A todos os jovens que passaram nesta Unidade, todos ouviram a expressão: “Antes de entrares cá, sobrevivias, mas nós, RECOVERY, queremos que saias daqui para Viver!”

Trabalhar em Saúde Mental é:

«Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho, caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar». (Paulo Freire)

 

Autor: 
Juliana Esteves - Psicóloga
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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