'Road rage': o fenómeno de agressividade que se verifica cada vez mais no trânsito
Qualquer pessoa pode sofrer um episódio de “road rage”, basta que sejam conjugados determinados fatores internos e externos que, ao atuarem em simultâneo, se sobrepõem a qualquer tipo de atitude ajustada à realidade.
Podemos considerar três conjuntos de fatores que podem funcionar como gatilho para este tipo de fenómeno, os individuais: sexo (mais comum no masculino); idade (mais comum nos jovens); fadiga; comportamentos de risco (e.g. consumo de álcool ou condução em excesso de velocidade) e personalidade; os ambientais- ruído e poluição, stress do dia-a-dia (problemas pessoais e estados emocionais); e sociais- influência de terceiros e acumulação de stress diário. Estes fatores poderão promover a noção de desrespeito mútuo na estrada e constituirem um gatilho subsequente de “road rage”.
Segundo um estudo de 2007 realizado em Portugal, foi verificado que aproximadamente 56,6% dos participantes já tinham passado por algum tipo de acidente tanto enquanto peão/passageiro, como condutor ou ambos. Foram identificadas como principais causas a falta de civismo dos condutores, a sua formação inadequada, velocidade excessiva, stress e distração. (ENSR, 2007) Acrescento também que, de acordo com a minha experiência e análise da situação atual, existem outros fatores que podem estar a interferir: económicos, saída do confinamento e efeitos colaterais da pandemia, o que pode ter provocado maior intolerância.
Ou seja, pode acontecer a mesma pessoa ter vários episódios de “road rage”, nomeadamente se estiverem a coincidir diversos fatores que possam influenciar a condução, transformando-a numa condução mais agressiva. O facto também do condutor ter poucos recursos de autocontrolo, ou dificuldade de regulação emocional, acaba por promover o surgimento de episódios de “road rage” no futuro.
Quando se é vítima de um episódio destes o melhor é não reagir, evitar o contacto visual e reações bruscas que possam encorajar o comportamento agressivo. Deve afastar-se da situação, protegendo-se fisicamente (e.g. trancar o carro), sem confrontar o outro condutor e não adotar uma postura agressiva que possa aumentar ainda mais a “road rage” da outra pessoa. Se necessário, contactar as autoridades e fornecer informações, como a matrícula e descrição do outro veículo ou condutor envolvido.
Quem assiste a uma situação deste género deve ter uma postura defensiva e de proteção. Como? Mantendo a calma e entrar em contacto com os agentes de autoridade para tomarem conta da ocorrência. Se possível, tentar em segurança fotografar ou filmar o veículo e o condutor.
Episódios de "road rage" podem causar danos à saúde mental de todos envolvidos. A vítima pode sentir ansiedade, medo e trauma, estando mais suscetível a associar a condução a esses eventos traumáticos, podendo-se autorresponsibilizar por algo (e.g. será que fui eu a provocar aquele comportamento no outro?) tendo como risco, no limite, levar a um processo de recusa em conduzir. A autoconfiança pela condução pode ficar comprometida.
Quanto ao agressor pode sentir vergonha, culpa e arrependimento. As testemunhas, principalmente crianças, podem sentir medo e ansiedade a longo prazo. Procure ajuda de um profissional de saúde mental caso sinta sintomas de trauma ou ansiedade após um episódio de "road rage".