As relações sexuais aumentam com o bom tempo?
O hipotálamo é uma região cerebral que conecta o sistema nervoso ao sistema endócrino, regulando várias atividades (como fome, sede, temperatura corporal, ritmo circadiano) e processos metabólicos. É ele que comanda a hipófise que, por sua vez, comanda o sistema reprodutor masculino e feminino. Além disso, está ligado ao sistema límbico, um sistema envolvido no controlo das emoções, da recompensa e da atividade sexual.
Com a chegada da Primavera e dos dias maiores, o feixe retino-hipotalâmico sinaliza ao hipotálamo um período diurno maior, modulando a sua expressão e conexões entre o sistema nervoso central e o sistema endócrino. Uma das primeiras alterações sentidas é a redução da síntese e secreção de melatonina (responsável pela indução do sono e por alterações do estado do humor) e o aumento da secreção de serotonina e de endorfinas, responsáveis pela sensação de felicidade, energia e bem-estar, que tão bem caracterizam a “Spring Fever”.
Mas também a pele pode modular o comportamento sexual. Com uma exposição moderada à luz solar, a radiação ultravioleta estimula a síntese da Vitamina D3. Uma vitamina com reconhecidos benefícios na saúde metabólica e cardiovascular, protetor do desenvolvimento de alguns tipos de cancro, mas também fundamental para a produção de hormonas, como a testosterona. Recentemente, foi descrita uma maior atração e interação românticas entre os sexos masculino e feminino após uma exposição solar controlada, com comprovado aumento das hormonas sexuais. Ora isto pode explicar o já bem conhecido caráter sazonal da produção de testosterona pelo nosso organismo, com aumento gradual durante a Primavera até ao pico no Verão. Mas nem tudo são rosas, pois a exposição solar está igualmente associada a um maior apetite e ingestão calórica, bem como a aumento da agressividade no comportamento masculino.
Os estudos científicos têm mostrado resultados contraditórios em termos de fertilidade e reprodução na Primavera. Alguns sugerem que o esperma é mais saudável no inverno e no início da primavera porque a temperatura é menor, o que se pode traduzir num aumento no número dos espermatozoides, mais móveis e com menos anomalias da sua forma. Nos meses mais frios, há também menos que fazer no exterior – os casais passam mais tempo dentro de casa e têm mais relações sexuais. Por algum motivo há mais bebés a nascer em setembro. Existe de facto maior intimidade emocional e social nos meses de inverno, com maior propensão para o aconchego e para o nosso desejo de maior proximidade.
O comportamento sexual vai além da biologia e fisiologia humanas, sendo influenciado por fatores ambientais, sociais e comportamentais. Apesar dos efeitos sazonais e do bem-estar físico e psíquico, que aumentam o desejo sexual, fatores extrínsecos podem prejudicar esse mesmo desempenho e pulsão.
O que se sugere então? Que se seja saudável, durante todo o ano, isto é, que se assegure uma boa alimentação e hidratação, que se faça exercício físico, que se faça uma boa gestão dos níveis de stresse, bem como das horas de sono e de exposição solar, e que em caso de dúvida se realize uma consulta com um profissional de saúde credenciado.
Dra. Joana Menezes Nunes, Endocrinologista
Prof. Dr. Nuno Tomada Marques, Urologista e Andrologista
Clínica Espregueira, no Porto