Opinião

A relação entre Brincar e Brinquedo

Atualizado: 
28/01/2021 - 10:43
Já está amplamente estudado e comprovado o quanto o ato de brincar é importante para o desenvolvimento infantil, já que é a forma que as crianças têm de se expressar e de se conectarem com o mundo. É também através do brincar que a criança encontra oportunidade para resolver os seus conflitos internos, refletindo medos, alegrias e preocupações. Partindo deste pressuposto, os brinquedos acabam, inevitavelmente, por assumir um papel de destaque na vida de uma criança. A questão que se levanta é a seguinte: qual a relação entre BRINCAR e BRINQUEDO?

Citando a pedagoga Maíra Gomes, “Brincar é um processo. Brinquedo é um resultado. O que acontece é que o brinquedo, quase sempre, já vem com um manual de instruções feito por um adulto. O adulto projeta o brinquedo para que a criança lhe dê um determinado uso.” Desta forma, o brincar acaba por ser uma atividade de reprodução (daquilo que foi planeado pelo adulto) e não uma atividade de criação espontânea da criança. Não é por acaso que, frequentemente, observamos crianças que se entusiasmam mais com o papel de embrulho do que propriamente com o brinquedo que vem dentro. Um papel de embrulho, uma caixa de cartão ou um bocado de madeira podem rapidamente transformar-se num carrinho, numa casa, num boneco, numa nave, num animal ou qualquer outro tipo de coisa. Porquê? Porque são elementos que não vêm previamente formatados e dão à criança a possibilidade de os transformar naquilo que ela entender. Resumindo: dão-lhe a possibilidade de criar! É importante perceber que estimular a criatividade e incentivar o brincar, não significa ter que oferecer à criança uma quantidade enorme de brinquedos. Valorizar o brincar é diferente de oferecer todos os modelos e feitios de brinquedos. Se há coisa que uma criança faz naturalmente é criar brincadeiras e criar brinquedos por si própria. Basta dar-lhe diferentes materiais para confirmá-lo. Diferentes texturas como papel, madeira, borracha, madeira ou tecido têm tanto ou mais potencial para despertar a imaginação do que brinquedos já formatados e preparados para um fim muito específico e pré-concebido. Agora reflita:

Os brinquedos dos seus filhos:

  • Dão vida à imaginação da sua criança ou são apenas meros objetos que se vão acumulando lá por casa?
  • São valorizados ou postos de parte com frequência?
  • Ocupam bem o tempo de brincadeira ou esgotam-se em 5min?
  • Têm potencial para brincadeiras diferentes cada vez que são usados ou tornam-se aborrecidos em pouco tempo?
  • São estimados ou descartados com facilidade?
  • São únicos ou apenas mais 1 em 1000?

Brinquedos Passivos vs. Brinquedos Ativos

Antes de escolher um brinquedo para oferecer, conheça as diferenças entre um brinquedo passivo e um brinquedo ativo. Descubra-as e faça uma escolha equilibrada!

Brinquedos passivos:

  • são multifunções
  • estimulam a aprendizagem ativa
  • provocam a curiosidade e a imaginação
  • só funcionam se forem manipulados pela criança
  • exercitam a capacidade para resolver problemas
  • a criança cria as suas próprias regras
  • sem a participação ativa da criança, o brinquedo não existe

Ex.: brinquedos tradicionais - legos, blocos de madeira, puzzles, jogos de peças, figuras de animais, jogos de tabuleiro, bolas, brinquedos sensoriais e com diferentes texturas.

Brinquedos ativos:

  • têm uma funcionalidade limitada e bem definida
  • servem apenas um propósito
  • a criança segue as instruções do brinquedo
  • a criança tem a expectativa que o brinquedo a entretenha
  • requerem pilhas, bateria ou motor
  • inibem o pensamento crítico e a aprendizagem ativa
  • oferecem uma gratificação imediata e constante
  • podem provocar dependência

Ex.: brinquedos digitais, jogos eletrónicos, robots, drones, brinquedos telecomandados, tablets.

Relação Quantidade - Qualidade

Ter muitos brinquedos não é mau. Mas ter muitos brinquedos disponíveis de uma só vez, poderá provocar excesso de estímulos, sobrecarga do sistema sensorial e superexcitação. A criança tende a dispersar-se na quantidade de brinquedos, alternando entre um e outro sem explorar todo o potencial que cada brinquedo, individualmente, tem para oferecer. Demasiados brinquedos de uma só vez causam distração e reduzem a qualidade do brincar. Por outro lado, se houver uma quantidade menor de brinquedos à disposição, a criança tem oportunidade de os explorar devidamente e com eles criar um tempo de brincadeira muito mais enriquecedor. Neste caso, menos é mais! Experimente e veja os resultados: estabeleça um sistema de rotatividade dos brinquedos. Todas as semanas ponha à disposição da criança um conjunto selecionado de brinquedos. Na semana seguinte selecione um novo conjunto, e assim sucessivamente. Dependendo da idade da criança, a seleção pode e deve ser feita com a participação da mesma.

Sabia que

  • a duração do tempo de brincadeira é maior e melhor com apenas 4 brinquedos do que com 16
  • com menos brinquedos, as crianças criam melhores e mais variadas formas de brincar
  • com menos brinquedos, a brincadeira é mais profunda, consistente e sustentada
  • menos brinquedos estimulam a criatividade e favorecem o desenvolvimento cognitivo

Se o seu filho tem um brinquedo favorito, é sinal que teve oportunidade para estabelecer ligação com ele, perceber-lhe as características, dedicar-lhe tempo e criar diferentes brincadeiras com ele.

Agora pergunto-lhe: qual era o seu brinquedo favorito? Partilhe com os seus filhos a história dos seus brinquedos e as brincadeiras que criou com eles. Se ainda guarda algum, mostre-o aos seus filhos. Pode ser que um dos seus velhos brinquedos ainda consiga uma segunda vida nas mãos e na imaginação dos seus filhos!

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www.saranunes.pt

 

Autor: 
Sara Nunes - Coach Infantil e Parental
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay