Entrevista | Isabel Magalhães, Presidente da Pulmonale

Rastreio do Cancro do Pulmão tem "de ser visto como um investimento"

Atualizado: 
26/11/2024 - 11:57
As abordagens no tratamento do cancro do pulmão têm tido uma evolução muito expressiva nos últimos 10 anos, mas os resultados continuam a ser modestos, uma vez que o seu diagnóstico continua a acontecer em fases avançadas da doença. Isto traduz-se em elevados custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em entrevista, Isabel Magalhães, Presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, explica o que falta fazer para melhorar os dados relativos a esta doença, sublinhando que o "rastreio do cancro do pulmão será fundamental para que os diagnósticos ocorram em fase inicial, reduzindo a mortalidade em pelo menos 20%".

Como é que, com o avanço que tem sido conseguido em saúde, ainda continuamos a registar 4.800 mortes anuais devido a cancro do pulmão?

O cancro do pulmão continua com uma incidência crescente, na ordem dos 6000 novos casos ano e a mortalidade tem acompanhado essa tendência, atingindo quase 5000 casos por ano.

O facto de os diagnósticos continuarem a ocorrer maioritariamente em estadios avançados, com taxas de sobrevivência ainda reduzidas, impede que os muitos avanços ocorridos na abordagem desta patologia atinjam o patamar desejável.

Mas tem havido alguma melhoria nestes números?

Só haverá melhoria dos números por via da redução da incidência e/ou com uma mudança de paradigma, refletida em diagnósticos em estadios iniciais da doença.

A Pulmonale tem sido bastante vocal relativamente à necessidade de estratégias robustas de rastreio. Quais são as principais medidas preventivas que deveriam ser adotadas?

A Pulmonale tem sido fundamentalmente proactiva no que se refere ao rastreio, sendo a entidade que desde 2021 tem defendido junto das entidades da saúde a implementação deste rastreio populacional, a exemplo do que ocorre com outras patologias oncológicas.

E, como tal , apresentou ainda em 2022, um projeto piloto de rastreio, elaborado por uma equipa multidisciplinar de experts, perfeitamente alinhado com os grandes estudos europeus, mapeado e orçamentado.

O nosso projeto segue um modelo de proximidade ao cidadão, a exemplo do que acontece na Grã Bretanha, onde desde 2019 passaram de projetos locais à implementação do rastreio a nível nacional, assente numa estratégia de proximidade com resultados animadores.

Qual é o impacto do tabaco?

O tabaco é a principal causa de cancro do pulmão, responsável por mais de 85% dos diagnósticos. Desse modo, o cancro do pulmão, embora não exclusivo de fumadores, ocorre maioritariamente em fumadores e ex-fumadores, podendo ser considerada uma doença em grande parte evitável.

De que forma poderia Portugal combater este componente?

A sensibilização para o tabagismo efetuada de forma assertiva e sistemática afigura-se crucial, devendo ser a prioridade.

Num segundo plano surgem as medidas restritivas ao tabagismo, sendo que, a esse nível, o aumento do preço do tabaco tem gerado melhores resultados comparativamente a outras medidas.

Pensando nos fumadores, importa promover a cessação tabágica, nomeadamente através da disponibilização das consultas de cessação tabágica.

Relativamente ao diagnóstico e tratamento, quais são os principais entraves para o sucesso destes?

Como referido, os resultados estão muito associados ao estadio em que o diagnóstico ocorre, sendo fundamental promover o diagnóstico atempado. Porém, muitas vezes os sintomas são leves/inexistentes ou transversais a outras patologias numa fase inicial.

Assim , embora se deva continuar a informar a população sobre esses sintomas, sabe-se que o rastreio do cancro do pulmão será fundamental para que os diagnósticos ocorram em fase inicial, reduzindo a mortalidade em pelo menos 20%.

O rastreio terá de ser visto como um investimento, numa patologia em que o diagnóstico em fase inicial permite mais e melhor qualidade de vida para os doentes e contribui para uma maior sustentabilidade do SNS. Os custos do tratamento em estadios avançados são muito elevados.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão