Psoríase: uma pele livre de lesões? Sim, é possível!
A psoríase é uma doença imuno-inflamatória crónica que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal estima-se que existam cerca de 250 mil doentes. No entanto, admite-se que, por desconhecimento ou desvalorização dos sintomas, muitos casos estejam ainda por diagnosticar.
De acordo com o dermatologista Paulo Ferreira, a patologia, para além de ter uma componente genética, pode ser influenciada por fatores ambientais e endógenos. Quer isto dizer que, “infeções bacterianas e viroses, fármacos, tabaco, álcool, stress e os traumatismos locais ou agressões repetidas na pele”, podem desencadear a doença. E, embora esta possa surgir em qualquer idade, a maioria dos casos surge entre os 20 e os 40 anos, “não sendo significativa a diferença entre os sexos”.
Entre os principais sintomas, o especialista destaca a presença de “lesões avermelhadas, com espessura e descamação prateada aderente”. “É mais frequente no couro cabeludo, cotovelos, joelhos e região lombo-sagrada (fundo das costas), mas pode atingir as mãos e pés, palmas e plantas”, revela Paulo Ferreira. Unhas e genitais também podem ser atingidos.
Embora a inflamação da pele seja a principal característica da doença, a verdade é que a psoríase atinge cada doente de forma diferente, pelo que tratamento deve ser personalizado e envolver uma abordagem multidisciplinar “tendo em conta a idade, extensão e locais envolvidos, comorbilidades e fatores comportamentais, entre outros”.
Enquanto as formas ligeiras da doença podem atingir menos de 5% da superfície do corpo, as formas moderadas a graves afetam uma maior extensão de pele, “o que torna a doença mais visível”.
“O facto de ser uma patologia visível afeta fortemente a autoestima e autoimagem dos doentes, levando-os a uma desvalorização pessoal e isolamento, o que propicia comorbilidades a nível psicológico”, revela o dermatologista quanto ao impacto pessoal da doença.
Hoje tenho a pele limpa!
Maria Gomes Janeiro foi diagnosticada com psoríase há 30 anos e nunca antes tinha ouvido falar na patologia.
“Comecei por ter placas no couro cabeludo que também surgiram nos cotovelos e um pouco por todo o corpo. A seguir as unhas começaram a ficar grossas e a levantar, apresentando na superfície uns pontinhos”, recorda revelando que também a avó paterna tinha a doença, embora, por ser uma entidade clínica desconhecida, sempre se pensou tratar de eczema.
O diagnóstico “foi um alívio”, diz, até porque foram precisos três anos para diagnosticar corretamente a doença. “Desde que a doença apareceu até ao diagnóstico passaram três anos de enorme angústia sem saber se tinha uma doença contagiosa, se podia ir ao cabeleireiro, se podia ir à piscina…”, conta.
E apesar de hoje ter uma pele limpa de lesões, nem sempre foi assim. “Durante mais de 20 anos usei diariamente produtos tópicos mal cheirosos e gordurosos fortemente perturbadores da minha vida familiar e social”, recorda admitindo que ainda assim nunca sentiu preconceito. “Pessoalmente, nunca senti que fosse tratada de forma diferente. Como professora do Ministério da Educação estive colocada em muitas escolas e fazia parte da minha apresentação dizer que tinha psoríase e que não era contagioso. Apesar disso, eu é que sentia essa diferença”, afirma revelando que, ao contrário do que se aconteceu consigo, conhece “muitos doentes que sofreram muito com esse estigma social”.
Quanto ao tratamento, revela que já passou por várias etapas. De acordo como o dermatologista Paulo Ferreira, existem várias opções terapêuticas para tratar a psoríase: as terapêuticas tópicas, indicadas para as formas ligeiras a moderadas e localizadas da doença; a fototerapia “alternada com terapêuticas sistémicas convencionais”, habitualmente utilizada em “algumas formas moderadas a graves”; e os “biotecnológicos, com altos níveis de eficácia e efetividade”, dirigidos aos doentes cujas terapias anteriores já não são alternativa. Maria Gomes Janeiro passou por todas estas opções. “Comecei por usar tópicos, depois diferentes comprimidos que iam sendo alterados, ou porque não eram eficazes ou porque as análises regulares de controlo revelavam alterações nos valores do fígado ou do rim, até que cheguei ao medicamento biológico”, revela.
Hoje tem a pele limpa e gostava de reforçar a mensagem de que existem tratamentos eficazes que permitem manter a pele livre de lesões. “Hoje existe conhecimento e medicamentos eficazes para todos os casos. Apesar de ainda não existir cura, um doente tratado pode ser mais produtivo e feliz no seu dia a dia”, afiança.
Para tal, o especialista é peremptório: “o acompanhamento médico contínuo é essencial e obrigatório de forma a manter uma vigilância da doença, assim como, a terapêutica deve ser seguida de forma rigorosa”.
Paulo Ferreira aconselha ainda a adoção de um estilo de vida saudável, “tendo em especial atenção a alimentação e a prática de exercício físico”. E pede aos doentes se mantenham informados: “quanto melhor conhecer a patologia, mais facilmente encontrará equilíbrio na sua vida”.