«A psoríase pode ter um impacto na qualidade de vida dos doentes semelhante a doenças oncológicas»
Considerada uma doença sistémica, estima-se que a psoríase afete cerca de 250 mil portugueses. Uma vez que ainda é mal compreendida, começo por lhe perguntar que doença é esta e a que sinais devemos estar atentos?
A psoríase é uma doença inflamatória crónica bastante comum. É uma doença que pode afetar a pele, mas também as unhas e as articulações. Sabemos hoje ainda que a psoríase, nomeadamente nas suas formas moderadas a graves, tem um impacto significativo no risco cardiovascular. Desta forma, os sinais a ter em atenção incluem as lesões típicas da pele – placas eritematosas (avermelhadas) e com descamação esbranquiçada, sendo os locais mais frequentemente afetados o couro cabeludo, cotovelos, joelhos e região sagrada (fundo das costas). Além disso, podem surgir alterações nas unhas, de diversas apresentações, sendo que o dermatologista é o profissional mais indicado para a sua avaliação. Por fim, quando afeta as articulações pode dar dor, que habitualmente melhora ao longo do dia.
A partir de que idade podem surgir as primeiras manifestações da doença? Quais as faixas etárias mais atingidas?
A psoríase pode surgir em qualquer idade, apesar de ser mais comum em adultos do que em crianças. No entanto, existem picos de incidência em algumas idades, como na casa dos 30 e dos 50 anos. Importante ainda realçar que a psoríase afeta de igual forma homens e mulheres.
Apesar das causas exatas ainda permanecerem desconhecidas, quais os fatores de riscos associados a esta doença? E quais as principais complicações?
Sabemos que os fatores genéticos influenciam o risco de uma determinada pessoa vir a ter psoríase. Além disso, existem fatores médicos e comportamentais que aumentam o risco de psoríase, como o tabagismo, obesidade e abuso de álcool.
Quais as comorbilidades mais comuns da psoríase? Por exemplo, qual a sua relação com a diabetes ou com a doença cardíaca?
Tal como referido anteriormente, as formas moderadas a graves de psoríase aumentam o risco cardiovascular. Além disso, pode associar-se a doenças como hipertensão arterial, diabetes ou obesidade. Importante realçar que o controlo destes fatores é essencial na gestão clínica de um doente com psoríase.
Quanto aos tipos de psoríase, quais as principais diferenças entre cada um deles? E qual o mais frequente?
A psoríase tem diversos subtipos, sendo a psoríase crónica em placas o mais comum. Além disso, existem outros subtipos, como a psoríase gutata, psoríase pustulosa e a psoríase eritrodérmica.
Existem ainda algumas variantes regionais como a psoríase inversa, que afeta principalmente as pregas (como axilas, virilhas), e a psoríase palmoplantar. Relativamente às principais diferenças, a psoríase crónica em placas apresenta tipicamente placas eritematosas (avermelhadas) com descamação esbranquiçada, em locais como os cotovelos, joelhos ou couro cabeludo; a psoríase gutata pode surgir com inúmeras lesões de menor dimensão, dispersas pelo tronco e membros; a psoríase pustulosa apresenta pústulas (pequenas “bolhas” com pús no interior) que podem surgir em vários locais do corpo; e a psoríase eritrodérmica é uma forma grave em que mais de 80% da pele do doente está com eritema, além de outras alterações que podem estar presentes.
O que pode ativar ou agravar os sintomas da doença?
Além dos fatores de risco já referidos, como o tabagismo, obesidade e alcoolismo, que também podem piorar a psoríase, outros fatores que podem agravar a psoríase incluem medicamentos, como betabloqueadores (usados por exemplo para tratar doenças cardíacas e hipertensão arterial), o lítio e fármacos antimaláricos; e infeções víricas e bacterianas, como o VIH e amigdalites bacterianas, esta última em especial ligação à psoríase gutata.
Qual o impacto da doença na qualidade de vida e na saúde mental de quem convive com a psoríase?
A psoríase pode ter um impacto significativo na qualidade de vida e saúde mental dos doentes. Aliás, existem estudos que mostram que a psoríase pode ter um impacto na qualidade de vida dos doentes semelhante a doenças oncológicas. Além disso, do ponto de vista de saúde mental, a psoríase pode levar a baixa autoestima, disfunção sexual, ansiedade e depressão.
Qual o seu tratamento? Que opções terapêuticas se encontram disponíveis? E quais os principais desafios quanto a esta matéria?
Felizmente, hoje em dia dispomos de muitas opções de tratamento para a psoríase. Desde tratamentos tópicos (como cremes, pomadas) até à fototerapia ou tratamentos sistémicos (orais e injeções), o controlo da psoríase é hoje muito diferente do conseguido há algumas décadas. Não só houve evolução constante no tratamento tópico, com algumas opções e formulações recentes que permitem o controlo da maioria dos doentes com formas leves, como uma revolução no tratamento dos doentes graves, com o surgimento dos chamados fármacos biológicos. Em particular, os fármacos biológicos apresentam características que os diferenciam dos restantes, nas quais destaco a elevada eficácia no controlo da doença, a segurança e a comodidade de administração. No entanto, realço que o tratamento de cada doente deve ser individualizado. O dermatologista é o profissional mais indicado nesta matéria, capaz não só de avaliar e tratar as consequências cutâneas da doença, mas também de rastrear e orientar o tratamento das comorbilidades da psoríase, onde têm um papel crucial várias outras especialidades como a Medicina Geral e Familiar ou Reumatologia.
Após o diagnóstico, que cuidados deve o doente ter?
Importante sempre destacar o papel do próprio doente no sucesso do controlo da sua doença. A gestão dos fatores comportamentais, bem como o cumprimento rigoroso do tratamento instituído, são fundamentais. Por fim, o doente poderá sempre recorrer ao seu dermatologista para dúvidas que possam surgir, quer sejam relativas à doença, bem como ao tratamento. É numa relação médico-doente sólida que reside o sucesso do controlo da psoríase.