O foco desta abordagem é a pessoa, não a doença

Promover o RECOVERY – Recuperação pessoal da pessoa na Saúde Mental

Atualizado: 
17/08/2021 - 15:14
A recuperação pessoal, na área da saúde mental, é completa quando a experiência na primeira pessoa é considerada. Os serviços de saúde não têm o poder de fazer ou desencadear as transformações por si, podendo, no entanto, contribuir com profissionais que apoiem a pessoa no seu processo rumo à sua recuperação pessoal. Este processo é único e individual, vivido de uma forma íntima, diferente de pessoa para pessoa.

O conceito de recuperação, particularmente na saúde mental, tem duas valências amplamente estudadas, a clínica e a pessoal. A recuperação clínica, advém essencialmente da experiência dos profissionais e tem no seu foco o tratamento dos sintomas e restabelecimento do normal funcionamento da pessoa. Por sua vez, a recuperação pessoal emerge das vivências das pessoas com comprometimento da saúde mental, diferindo assim de acordo com emoções, valores, objetivos de vida, funções de cada um. A recuperação pessoal almeja a transformação da sua existência, crescimento e descoberta, mais que um retorno à normalidade, é um renascimento de uma nova versão da pessoa dentro dos limites e condicionantes impostos pelo desenvolvimento ou superação da doença mental.

Atualmente, os serviços de saúde mental, estão organizados na direção da recuperação clínica, nesta exposição serão apresentadas as principais diferenças entre esta abordagem mais tradicional e a aposta numa abordagem centrada na recuperação pessoal, fundamentada no guia “100 Modos de apoiar a Recuperação Pessoal: Um Guia para Profissionais da Saúde Mental” – da autoria da Comissão Consultiva para a participação de utentes e cuidadores; Coordenação Nacional para a Saúde Mental.

Uma abordagem centrada na recuperação pessoal, foca-se nos valores, na responsabilidade em todo o processo (mais do que nos profissionais), é orientada para a escolha (mais do que para o controlo extrínseco da situação), despertando o poder sobre a situação. Esta abordagem é humanística, centrada na vida da pessoa e não na sua patologia, no significado pessoal atribuído ao diagnóstico, ao invés do diagnóstico em si.

Os objetivos do Serviço de Saúde Mental são notavelmente mais orientados para a promoção de saúde ou invés de se centrarem no combate à doença. A abordagem centrada na recuperação pessoal, em termos de práticas de trabalho promove maior compreensão, salientando as competências e potencialidades da pessoa, incluindo na análise feita e na totalidade da intervenção, as suas esperanças e sonhos, desvia o foco da descrição da situação, do problema e na redução dos efeitos danosos. O foco desta abordagem é a pessoa, cada uma individualmente, não a doença que apresenta, convergindo assim numa prestação de cuidados diferenciada que reforça o empoderamento e a humanitude de cada pessoa que experiencia a sua saúde mental comprometida.

Autor: 
Dra. Angelina Senra - Coordenadora-Geral da Infância e Adolescência e Psicóloga
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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