Porque evitamos falar de Esquizofrenia?
O ser humano é um ser social que constrói permanentemente relações com os outros. Entenda-se como relação capacidades sociocognitivas que nos permite interagir com os nossos pares, compreendendo as suas intenções e respondendo de acordo com o expectável. É precisamente a falta destas capacidades, um dos aspectos fundamentais da esquizofrenia.
A distorção da perceção da realidade é um aspeto nuclear da esquizofrenia. Esta doença pode igualmente caraterizar-se por alterações a nível do pensamento, atividade social, afetos e comportamento motor. Também se podem verificar-se disfunções neurocognitivas que influenciam e comprometem o funcionamento social do indivíduo.
Lamentavelmente, com demasiada frequência, as pessoas com este diagnóstico são rotuladas como menos capazes comparativamente às que não têm uma doença mental.
O preconceito pode surgir nas formas mais variadas. Assim, estes doentes, para além de enfrentar as consequências da doença propriamente dita, têm que se confrontar com o estigma, contribuindo para este a ideia generalizada de que a esquizofrenia se associa a comportamento violento.
A par do preconceito, disfunções sociais e ocupacionais (que por vezes caraterizam de forma significativa a doença), repercutem-se numa dificuldade em manter o emprego. Por outro lado, as estatísticas dizem-nos que a maioria dos doentes com esquizofrenia são solteiros e têm contactos sociais limitados fora do seu núcleo familiar restrito.
Os indivíduos com esquizofrenia parecem ser mais vulneráveis a estímulos ambientais geradores de stress. Em particular, são muito suscetíveis a ambientes familiares conflituosos com o chamado alto nível de “emoções expressas”. Assim, discussões com contacto ocular direto podem contribuir (e frequentemente são um dos principais fatores) para a descompensação clínica que pode culminar com um internamento.
A esquizofrenia é uma doença crónica e tem tratamento.
À semelhança de um diabético que cumpra a sua terapêutica, a pessoa com esquizofrenia, com boa adesão à consulta, terapêutica farmacológica adequada e bem integrada socialmente, pode ter uma vida estável.
Autores:
Dra. Margarida Albuquerque
Dra. Margarida Fraga
Dr. Pedro Cintra
Dr. Pedro Espada Santos
Médicos do Departamento de Saúde Mental do Hospital de Cascais