Poluição ambiental é um importante fator de risco para a doença respiratória crónica
Dispneia, tosse e expetoração são os principais sintomas de doença respiratória crónica. Um problema que afeta cerca de 800 mil portugueses e está associado a complicações graves que conduzem a perda de qualidade de vida ou morte prematura.
Tratando-se de uma doença progressiva, cujos sintomas se instalam de forma insidiosa, estima-se que o subdiagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica seja elevado. De acordo com Ana Sofia Oliveira, Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia e Membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, estima-se que apenas 1% destes doentes sabe que tem a doença.
“A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença respiratória progressiva, que resulta da obstrução das vias aéreas, ou seja, da dificuldade na passagem do ar pelas vias respiratórias”, começa por explicar a pneumologista adiantando que, o facto de os seus sintomas se irem “instalando lenta e progressivamente, levando o doente a adaptar-se no seu estilo de vida”, pode conduzir à sua desvalorização.
“A dispneia, ou falta de ar, ocorre inicialmente para grandes esforços e progressivamente para esforços cada vez menores. Frequentemente presente nestes doentes, estão também a tosse e a expetoração de predomínio matinal”, acrescenta.
Quanto às causas, a especialista sublinha que embora o consumo do tabaco seja o principal fator de risco para o desenvolvimento da DPOC e seu agravamento, há outros fatores importantes a ter em consideração. “Cerca de 85%-90% de todos os casos de DPOC ocorrem devido ao tabaco. Fumadores ativos, ex-fumadores ou fumadores passivos, têm um risco acrescido de ter esta doença”, explica. No entanto, “a poluição atmosférica e ambiental ou a exposição ocupacional” são apontados como importantes fatores desencadeantes.
“É reconhecido o papel da poluição ambiental no aumento do risco da doença, sobretudo nas áreas urbanas, onde as altas concentrações de gases têm sido responsabilizadas não só pelo desenvolvimento da doença como por agudizações da mesma”, afirma a especialista.
Os dados demonstram aliás que cerca de 81 mil pessoas morrem prematuramente em Portugal, todos os anos, devido à exposição a poluentes, sendo a maioria das mortes causadas por partículas provenientes dos motores de combustão.
Considerada uma das principais causas de morbilidade e de mortalidade na população adulta de todo o mundo – a DPOC é responsável por cerca de 3 milhões de mortes por ano -, é extremamente importante que o diagnóstico desta doença seja feito precocemente.
“O diagnóstico da DPOC é efetuado por um teste respiratório simples que se chama espirometria. Este exame permite não só diagnosticar a doença como avaliar a gravidade da mesma, podendo detetar os casos ligeiros, moderados ou graves”, explica acrescentando que, embora, esta patologia não tenha cura, o seu tratamento permite melhorar os sintomas, reduzir e impedir complicações ou agudizações, o que contribui para uma melhor qualidade de vida destes doentes.
Ainda assim, a especialista alerta que é essencial melhorar o acesso aos cuidados de saúde, facilitando a realização de espirometrias. Por outro lado, admite ser necessário ainda a “ampliação das estruturas dedicadas à reabilitação dos doentes” e “o aumento da dinâmica entre os cuidados de saúde primários e a especialidade”.
Entre os principais cuidados, a pneumologista aconselha a evicção do tabaco bem como a adoção de estilos de vida saudáveis. “Em primeiro lugar o doente deve deixar de fumar para evitar a progressão da doença e fazer exercício físico, sempre adaptado as suas limitações, para melhoria da sua condição de saúde. A vacinação antipneumocócica e da gripe, são meios de prevenção das frequentes infeções respiratórias e que desta forma poderão ser evitadas nestes doentes”, enumera.
“A DPOC é uma doença prevenível. Se não quiser sofrer de DPOC não fume ou se fuma deve deixar de fumar!”, sublinha.
Em plena pandemia, Ana Sofia Oliveira, deixa ainda o alerta: “embora o risco de terem a doença não seja comprovadamente maior, podem existir mais problemas se contraírem a doença e isso já está descrito também com o vírus da gripe”.
Os doentes com DPOC grave e enfisema estão entre aqueles considerados com maior risco de complicações da COVID-19. “Isto porque os pulmões são afetados pela COVID-19 e, se os pulmões já estiverem ligeiramente danificados, têm menor capacidade para combater o vírus”, explica.
Assim, para minimizar o impacto da doença COVID 19, as pessoas com DPOC devem seguir os conselhos do seu médico e das equipas de Saúde Pública e manter a terapêutica regular.