Peso e autoestima
É importante entender que a imagem que construímos do nosso próprio corpo é muito influenciada pelas pessoas que nos rodeiam e, de uma forma mais ampla, pela sociedade em geral. Um estudo realizado na universidade de Waterloo, no Canada, demonstrou que para nos sentirmos bem com a nossa imagem/corpo é necessário estarmos rodeados de pessoas que não estão demasiado focadas num determinado aspeto físico, num tamanho ou num tipo de alimentação (Miller, K., Kelly, A., Stephen, E. 2019). A mesma investigação, também comprova que a própria relação que se tem com a alimentação é mais intuitiva e positiva quanto menor for a pressão exercida por parte das pessoas com quem convivemos.
De um ponto de vista social, somos repetidamente bombardeados com promessas por parte das indústrias de emagrecimento, estética, cirurgia plástica, entre outras, de alcançar uma imagem corporal ideal para nos sentimos parte integrante de um grupo social exclusivo e aparentemente feliz. Todas estas pressões, fazem-nos percecionar a gordura como algo negativo e consequentemente fator de exclusão social.
O que distingue uma simples preocupação em ter peso ou gordura a mais de um problema psicológico mais grave com o peso?
Frequentemente, estas pressões condicionam as pessoas, ao longo das suas vidas, e por vezes durante vários anos, a correrem desesperadamente atrás de um número na balança e/ou de medidas consideradas perfeitas. Começam a acreditar que só quando eliminarem o excesso de gordura, serão felizes ou irão ser reconhecidas como pessoas mais atrativas e consequentemente mais bem-sucedidas na vida. Optam então por iniciar dietas drásticas como se este fosse o preço a pagar ou o sacrifício que se tem de fazer para que a vida seja mais bonita. Porém, o que a maioria das pessoas desconhece é que uma grande parte destas dietas restritivas tem uma taxa de insucesso a longo prazo de 95% (Deram, 2018). Surgem então sentimentos de culpa e de frustração, que vão impulsionar uma perceção cada vez mais negativa da própria imagem, reforçando a necessidade de tentar encontrar outra solução, isto é, outro tipo de dieta. É neste sentido que surge o fenómeno do efeito ioiô muitas vezes consequência de distúrbios alimentares graves e da obesidade.
No que concerne à obesidade, durante muitos anos, foi considerada como um simples problema de gordura e/ou sobrepeso. Hoje sabemos que a obesidade está ligada a problemas somáticos tais como a diabetes ou a síndrome do ovário poliquístico, mas também, e principalmente, a perturbações emocionais como a baixa autoestima, depressão, ansiedade e insatisfação corporal (Giusti, V., Panchaud, M., 2007). Vários estudos demonstraram que melhorando o funcionamento psicológico e emocional do indivíduo, aumenta-se a taxa de sucesso no tratamento da obesidade, a curto e longo prazo. Estes resultados vêm de certa forma, desmistificar a ideia de que “fechar a boca” é muito fácil. Qualquer transtorno alimentar vai para além de controlar o tipo de alimentos, ter horários específicos para comer ou contar calorias. Estas variáveis são apenas a ponta do iceberg. Tais atitudes só deveriam ser pensadas e colocadas em prática quando o indivíduo estivesse emocionalmente equilibrado. Na maioria dos transtornos alimentares, a comida torna-se uma compensação emocional, um refúgio. Por não conseguir conter ou ultrapassar as dificuldades emocionais experienciadas, por não estar bem “por dentro” e se sentir consumido interiormente, a comida surge como um alívio rápido, porém com efeito pontual. Em suma, não é mudando o aspeto físico que se consegue alcançar uma plenitude emocional.
Por outro lado, nem sempre que uma pessoa come em demasia ou um prato menos saudável, se deve necessariamente a uma perturbação psicológica. A comida faz parte da nossa cultura, o essencial é sentirmo-nos equilibrados e assertivos perante as nossas escolhas.
O que devemos fazer para nos sentirmos bem com o corpo?
Mais do que nunca, devemos encarar o corpo e a mente como um todo indivisível. Se não estamos bem emocionalmente, o nosso corpo somatiza este mal-estar e vice-versa. Desta forma, para nos sentirmos bem com o nosso corpo, é fundamental passar por um processo de aceitação da nossa imagem. Aceitar esta nossa “máquina” que irá, quer queiramos quer não, estar connosco até ao fim da nossa vida. Este processo passa também por aceitar o peso e as medidas que se tem. O movimento body positive ou corpo positivo que está a inundar progressivamente as nossas redes sociais, apela à inclusão e à aceitação do corpo que se tem. Todos nós temos o direito de sentir que não há nada de errado no nosso corpo.
Contudo, é importante não descurar as consequências do sobrepeso na saúde, mais especificamente quando este afeta a qualidade de vida. Esta consciencialização deve gerar, nestas situações, uma análise potenciadora de alterações comportamentais ao nível da alimentação e hábitos saudáveis, não em função dos padrões sociais e estéticos, mas sim em prol do bem-estar e da saúde.
Desta forma, ter uma estrutura emocional equilibrada é o primeiro passo no processo de aceitação. Conseguindo alcançar este bem-estar e confiança na autoimagem, fazendo da palavra bem-estar o seu mantra. Em suma, a vida é muito mais do que caber num determinado tamanho de calças, merece muito mais do que isso!