As perturbações da leitura e da escrita
Clinicamente, as perturbações da leitura e da escrita são classificadas como “Perturbação Específica da Aprendizagem”. É uma perturbação do neurodesenvolvimento que dificulta a capacidade de aprender ou utilizar competências académicas específicas de leitura e escrita que são a base fundamental para as restantes aprendizagens escolares (DSM-5).
A Perturbação Específica da Aprendizagem tem uma incidência na população escolar de pelo menos 5%.
A identificação e avaliação
É fundamental a avaliação precoce de sinais de dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita. Todas as crianças têm o seu ritmo de aprendizagem mas havendo um padrão persistente destas dificuldades torna-se fundamental uma avaliação especializada.
O Terapeuta da Fala tem um papel preponderante na avaliação, diagnóstico diferencial e intervenção destas perturbações. Desenvolve a sua intervenção em colaboração com os educadores e professores, outros profissionais de saúde e as famílias.
Diagnóstico diferencial
Atualmente é definido do diagnóstico de Perturbação Específica de Aprendizagem com défice na leitura e/ou na expressão escrita, ao que se classificava como:
- Perturbação de Leitura e Escrita consequente de atraso/dificuldade em diferentes componentes da linguagem ou perturbação específica da linguagem;
- Dislexia – perturbação do neurodesenvolvimento multifatorial caracterizada por um défice no processamento fonológico e na memória de trabalho verbal (componentes da linguagem) apesar do nível cognitivo adequado e da condição educativa;
- Disortografia – perturbação que envolve a organização e codificação da escrita, apresentando-se os textos mal estruturados e verificando-se inúmeros erros ortográficos;
- Disgrafia – alteração funcional no ato motor da escrita, que afeta a qualidade da escrita, sendo a caligrafia bastante irregular no traçado e na forma das letras.
Sinais de alerta na 1ª infância
Embora o diagnóstico de Perturbação Específica de Aprendizagem só possa ser realizado após o início da escolaridade, é possível identificar alguns sinais de alerta durante a 1ª infância que devem ser alvo de avaliação especializada:
- Atraso na aquisição da linguagem oral;
- Dificuldade na produção dos sons da fala, referida como “linguagem de bebé” que continua para além do tempo “normal”. Pelos cinco anos de idade a criança deve pronunciar corretamente a maioria das palavras;
- Dificuldade em aprender os nomes das cores, de pessoas, de objetos, de lugares;
- Dificuldade na evocação e definição de palavras;
- Dificuldade na nomeação de imagens. Utiliza, frequentemente, as palavras “isto”, “aquilo”, “a coisa que serve para”;
- Dificuldade em memorizar canções, lengalengas e recontar uma história;
- Dificuldade em perceber que as frases são formadas por palavras e que as palavras se podem segmentar em sílabas.
Sinais de alerta durante a escolaridade
- Dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas (sons);
- Dificuldade em associar as letras aos seus sons;
- Dificuldade na discriminação auditiva dos sons da fala;
- Omissão de letras, adição de fonemas, sílabas ou inversão de letras nas palavras;
- Erros na escrita referentes à pontuação e/ou acentuação, junção ou separação de palavras inadequadamente;
- Leitura lenta com baixa expressividade e com pouco ritmo;
- Dificuldade na leitura e interpretação de problemas matemáticos;
- Substituição de letras visualmente semelhantes ou escrita de palavras em espelho;
- Desorganização espacial na folha ou nos textos;
- Recusa ou insistência em adiar as tarefas de leitura e escrita;
- História familiar de dificuldades de leitura e ortografia noutros membros da família.