Perturbação do Espetro do Autismo: sinais de alerta e a importância de uma equipa multidisciplinar
Os primeiros sinais, que aparecem habitualmente antes dos 3 anos, são referidos pelos pais na primeira consulta que indicam habitualmente que a criança terá tido um desenvolvimento normal até ao primeiro ou segundo ano de vida apresentando, posteriormente, uma regressão ao nível das aquisições da linguagem e comportamento:
- Apresenta o contacto ocular alterado, comummente os pais referem que a criança deixou de olhar para eles;
- Não aponta;
- Não usa o gesto;
- Não sorri em resposta à interação do outro;
- Não responde ao nome;
- Apresenta ecolália (discurso caracterizado por repetição de sons, palavras);
- Tem pouco interesse pelas outras crianças, isola-se;
- Imita pouco;
- Não brinca ao faz de conta, ou brinca pouco;
- Tem comportamentos/movimentos repetitivos (ex. abanar os braços);
- Tem dificuldades em tolerar as mudanças nas rotinas;
- Gosta de objetos estranhos;
- Tem interesses muitos restritos, específicos;
- Reage excessivamente às novas sensações, dor e temperatura ou demonstra pouca reatividade.
A sinalização e acompanhamento precoces são importantes para um bom prognóstico, pelo que consideramos essencial que professores/educadores e famílias sejam sensibilizados para o reconhecimento de sinais de alerta e para atuar de imediato para
responder às necessidades destas crianças. Perante estes sinais, e para uma correta avaliação, a criança deve ser avaliada por pediatra de desenvolvimento.
E perante o diagnóstico, o que fazer?
O diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo não é uma notícia fácil para as famílias que têm que lidar com uma realidade desconhecida e ajustar toda uma dinâmica familiar às necessidades da criança.
Quando olhamos para a criança com Perturbação do Espetro do Autismo (ou com outro tipo de alterações no desenvolvimento), precisamos de ver mais além do diagnóstico. Devemos observar aquela criança com as suas competências e dificuldades permitindo assim definir um perfil de funcionalidade global e o encaminhamento para as respostas de intervenção mais adequadas. É essencial o trabalho em equipa multidisciplinar, a definição de prioridades a cada fase do processo de desenvolvimento e objetivos realistas. Equipa médica e equipa terapêutica (psicólogos, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, …), a escola e a família, deverão ser aliados, parceiros nesta jornada que é potenciar o desenvolvimento das crianças com PEA. Assim, a intervenção com a criança não poderá ser meramente um trabalho de competências individuais, mas a capacitação da comunidade escolar e o apoio e desenvolvimento das famílias.
Margarida Sabino
Terapeuta Ocupacional pós-graduada em Neurodesenvolvimento em Pediatria. Trabalha na equipa terapêutica Fale Connosco Saúde Personalizada com psicólogas, terapeutas da fala, fisioterapeuta e musicoterapeuta, sendo a sua intervenção maioritariamente com crianças com PEA, ADPM e outras perturbações do neurodesenvolvimento.