Parasitas

Pediculose capilar: prevenir e tratar

Atualizado: 
18/01/2021 - 12:00
Aquilo a que chamamos piolhos da cabeça é uma infestação que afeta o couro cabeludo do ser humano. É muito frequente nas crianças, mas pode ocorrer em qualquer idade. É independente do nível socioeconómico e dos hábitos de higiene.

É causado pelo piolho da cabeça, Pediculus humanus capitis, um parasita que se transmite pelo contacto direto cabeça com cabeça e mais raramente pela partilha de objetos (por exemplo chapéus) que contactam com o cabelo.

Comichão

O sintoma principal é o prurido (comichão) do couro cabeludo. Podem observar-se pequenas pápulas eritematosas (borbulhas) próximas à linha de implantação do cabelo, reativas à picada do piolho, principalmente na nuca. Pela coceira repetida podem surgir escoriações e até mesmo infeções da pele. Os gânglios linfáticos da nuca e do pescoço podem aumentar de tamanho e poderão ser palpados.

Para detetar as lêndeas e os piolhos, devemos usar um foco de luz, de preferência com o cabelo húmido.

Os piolhos têm 3-4 mm, são transparentes ou castanho-avermelhados (após se alimentarem) e movem-se rapidamente o que os torna difíceis de detetar.

O que também temos que procurar são as lêndeas (ovos do piolho) que são acinzentadas e estão aderentes aos cabelos a menos de 1 cm da raiz, tipicamente nas áreas da nuca e atrás das orelhas. Poderemos também encontrar lêndeas desvitalizadas de cor acastanhada ou o involucro de lêndeas que já eclodiram que são brancos e parecidos com a caspa.

Tratamento

O tratamento consiste na aplicação de um produto na forma de champô, loção ou creme que vai matar o piolho, quer por ação direta da substância (pediculocidas), quer pelo efeito oclusivo do produto aplicado, o que origina a asfixia do piolho. O tratamento com um pediculocida requer a sua repetição cerca de uma semana depois, enquanto as substâncias oclusivas poderão requerer 2 ou mais ciclos de tratamento semanais.

A remoção manual repetida diariamente durante 2 a 3 semanas das lêndeas e dos piolhos, realizada com o cabelo húmido, utilizando um pente específico de dentes finos, é um adjuvante importante a qualquer terapêutica aplicada.

Outro método é a dissecação pelo calor realizada por um dispositivo desenhado para o efeito, o AirAllé™. É uma alternativa segura e muito eficaz nos casos refratários. Tem a desvantagem de ser uma técnica dispendiosa, realizada em estabelecimentos específicos.

Para além do tratamento, outras medidas complementares são importantes:

  • Lavar e secar toda a roupa utilizada nos 2 dias anteriores ao início do tratamento, a temperatura superior a 60ºC
  • Ferver pentes e escovas durante 5 a 10 minutos.
  • Aspirar o chão ou mobília, particularmente os locais onde a pessoa com piolhos se sentou ou deitou.

Qualquer pessoa pode ter piolhos

A ideia de que só pessoas com falta de higiene têm piolhos é um mito que tem que ser desmistificado. Ter piolhos não significa falta de higiene. Qualquer pessoa pode ter piolhos. Os piolhos propagam-se através do contacto direto entre cabeças ou através da partilha de peças de roupa (chapéus, gorros).

Medidas preventivas

As únicas medidas preventivas eficazes são o diagnóstico precoce da infestação, o tratamento eficaz da criança afetada e a vigilância dos contactos próximos visando o diagnóstico precoce dos casos de contágio e o seu tratamento em simultâneo.

As crianças devem ser aconselhadas a não partilhar objetos pessoais que estão em contacto com o cabelo como pentes e chapéus. O contágio ocorre frequentemente pelo contacto entre cabeças durante as brincadeiras.

Nos infantários e nas escolas os chapéus e os casacos devem ser sempre colocados em cabides separados. As meninas devem manter os cabelos mais curtos pois facilita a remoção mecânica dos piolhos e das lêndeas em caso de infestação. Os cuidadores devem observar periodicamente o couro cabeludo da criança para identificar possíveis reinfestações

Mensagens a reter

  1. O método ideal não existe, até porque nenhum impede a reinfestação.
  2. Devem-se seguir as recomendações acima descritas e na ausência de resultados deve-se consultar o Dermatologista para se delinear a melhor estratégia de tratamento.
  3. A pediculose da cabeça é uma das parasitoses mais frequentes.
  4. O diagnóstico precoce é muito importante, podendo evitar o contágio dos contactos diretos e o surgimento de surtos.

 

Autor: 
Dr. Pedro Serrano – Dermatologista Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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