Comportamento

A Parentalidade Positiva e o Desenvolvimento Infantil

Atualizado: 
23/05/2024 - 09:44
A família representa a principal estrutura organizadora no desenvolvimento infantil. Os pais são considerados o primeiro contexto de socialização e de desenvolvimento das crianças, possuindo um papel determinante na adaptação e no ajustamento ao longo da vida das mesmas. Neste sentido, estes são as figuras responsáveis por assegurar o bem-estar, para além do ajustamento individual e social dos seus filhos no contexto da comunidade onde se encontram inseridos. É, pois, compreensível que ao longo dos anos a parentalidade tenha sido alvo de diversas investigações, tendo em vista que se trata de um processo basilar para o desenvolvimento da saúde mental infantil (Cruz, 2005). Contudo, apesar de ser importante para o desenvolvimento e bem-estar das crianças, nem sempre os pais, devido aos desafios e à sobrecarga que muitas vezes enfrentam, conseguem ter ou aplicar os recursos e as estratégias mais adequadas para serem responsivos às necessidades dos filhos.

A parentalidade positiva é considerada um comportamento parental baseado no superior interesse da criança, garantindo a satisfação das suas necessidades e a sua capacitação. Esta foca-se na compreensão do comportamento das crianças, na validação das suas emoções, bem como na promoção de um vínculo seguro e de uma comunicação saudável entre pais e filhos. Desta forma, a parentalidade positiva defende que não é necessário recorrer a nenhum tipo de punição (e.g., física), mas sim ao estabelecimento de regras e limites ao comportamento das crianças de forma a permitir o seu pleno desenvolvimento (Recomendação 19 do Conselho da Europa, 2006).

As investigações na área da parentalidade positiva têm revelado que a utilização da punição física apresenta um impacto negativo na autoestima das crianças e surge associada a problemas de saúde mental a longo prazo (e.g., Perturbações de Ansiedade; Perturbações Depressivas; Schavarem & Toni, 2019). Importa compreender que quando a criança é submetida à violência isso pode desencadear uma resposta de medo e conduzir a dificuldades de vinculação e de relacionamento. Sabe-se também que esta tende a aprender ao observar os comportamentos dos adultos ao seu redor e, por isso, com a utilização da punição física, aprende que é legítimo recorrer à violência quando está frustrada, zangada e/ou é contrariada. Tal pode levar a uma maior probabilidade de repetir o comportamento no futuro. Para além disso, ao atuar desta maneira, o adulto apenas está a demonstrar que não é capaz de se autocontrolar, transmitindo à criança uma mensagem contraditória acerca de como lidar com as emoções e com os conflitos de forma saudável e construtiva. Assim, a punição física pode até funcionar para parar um comportamento (i.e., porque leva ao medo), mas, a longo prazo, as crianças tendem a tornar-se mais agressivas. Isso ocorre porque estas aprendem que a violência é a resposta mais adequada e aceitável para a resolução de problemas e para a modificação dos comportamentos das pessoas ao seu redor.

A literatura tem também demonstrado a existência de um número significativo de pais que apresentam dificuldades na imposição de regras e limites, acabando por se tornar permissivos. Em alguns casos, acaba mesmo por existir uma distorção de papéis, onde os menores assumem um papel dominante e têm o poder de dar ordens aos adultos que, por sua vez, respondem de forma positiva aos pedidos (i.e., possivelmente para evitar frustrações ou estados de tristeza nos filhos; Sampaio et al., 2011). No entanto, é importante que a criança tenha conhecimento do que é esperado de si e tenha orientações concretas acerca do que é ou não aceitável em termos comportamentais. Quando a disciplina é apresentada como um momento de aprendizagem conjugada com a afetividade, as crianças tendem a possuir uma maior satisfação e motivação no cumprimento das regras e dos limites definidos pelos adultos.

Em suma, torna-se possível compreender a importância da existência de programas ao nível da parentalidade positiva, de modo a ajudar os pais a adquirirem recursos e estratégias que promovam interações positivas entre eles e os seus filhos. O investimento nesta área poderia contribuir para a prevenção de futuras problemáticas no desenvolvimento infantil. Além disso, é na infância que o ser humano se molda como pessoa e tudo aquilo que ocorre nesta fase desenvolvimental não se limita apenas a este período, mas estende-se até à idade adulta.

Autor: 
Mariana Fernandes - estagiária de Psicologia Clínica e da Saúde
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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