Cancro

Os pequenos tumores do Pâncreas podem passar despercebidos

Atualizado: 
21/11/2019 - 10:01
Um cansaço persistente, falta de apetite, algum emagrecimento ou o aparecimento de uma diabetes recente deve pôr o médico de sobreaviso. Em especial se quem se queixa é um fumador ou apresenta excesso de peso.

O Pâncreas é um pequeno órgão escondido atrás do estômago e do duodeno e por cima do intestino. A observação por ecografia por vezes pode ser difícil em especial se há algum gás intra-abdominal.

Os pequenos tumores do Pâncreas podem passar despercebidos. E quando crescem só se detectam muitas vezes se dão sintomas e sinais como a icterícia. Crescem de forma irregular e facilmente ultrapassam as paredes do órgão.

Um cansaço persistente, falta de apetite, algum emagrecimento ou o aparecimento de uma diabetes recente deve pôr o médico de sobreaviso. Em especial se quem se queixa é um fumador ou com alguma obesidade.

O cancro afecta igualmente homem ou mulher e pode aparecer pelos 55 anos. Geralmente é mais tardio, mas a incidência tem vindo a aumentar - até pela maior longevidade. Continua a ser a 4ª causa de morte por cancro.

Dos tumores pancreáticos, alguns poucos, são de origem neuroendócrina, com melhor prognóstico (ex. insulinoma, glucagonoma, vipoma...) e geralmente com bom resultado cirúrgico.

Mas a maioria são de origem exócrina e o adenocarcinoma é o que apresenta pior prognóstico. Cerca de 80% surge na cabeça do pâncreas e tende a envolver e obstruir a via biliar com o desenvolver de icterícia e prurido. Só cerca de 15% aparecem no corpo e 5% na cauda.

Alguns outros apresentam aspectos parcialmente quísticos, ou zonas mais heterogéneas (ex: cistadenocarcinoma mucinoso, linfomas, metástases de tumores de outros órgãos...).

O tabaco continua a ser um risco major no desenvolvimento de 30% destes tumores.

A incidência familiar é rara. Mas há linhas genéticas com algumas mutações (ex. no gene BRCA2) encontradas em 10-20% de algumas famílias.

O risco de carcinoma do pâncreas pode estar aumentado na pancreatite crónica de longa duração, nos casos de pancreatite hereditária, nos casos de pancreatite idiopática. Pode haver associação com alguns casos de diabetes mellitus em especial em doentes mais idosos, com casos de tumor familiar da mama e ovário, com casos de fibrose quística ou casos de polipose familiar adenomatosa.

Fadiga persistente, perda de peso, dispepsia vaga, anorexia e por vezes dor no dorso devem obrigar-nos a tentar excluir o tumor pancreático. O aparecimento de icterícia sem dor e posterior prurido são manifestações de aumento da lesão.

A ecografia abdominal é o primeiro exame para excluir a lesão. É simples e indolor e na menor suspeita deve ser pedida. Pode não ser muito eficaz se gás ou obesidade. Se dúvida e a suspeite se mantém considerar a TAC abdominal.

A TAC abdominal mostra bem a lesão e é excelente para fazer o seu estadiamento (dimensão e localização do tumor, suas relações com os vasos adjacentes e com a via biliar, a existência de adenopatias adjacentes).

A Ressonância Magnética pode ser necessária para melhor definir as relações com os vasos e a via biliar – em especial se é previsível a cirurgia.

A estratégia terapêutica tem evoluído com alguns benefícios. O uso de quimioterapia e quimio-radioterapia pré-operatória parecem melhorar a sobrevida com boa qualidade de vida. Aproveita a boa vascularização do tumor e parece reduzir o risco de disseminação operatória e a recidiva locorregional. A radioterapia é importante na redução da dor. Tem sido tentado o uso concomitante de terapêutica biológica com algum efeito de prolongamento de sobrevida. Mas são necessários mais estudos.

Na caracterização do tipo de tumor para a quimioterapia é necessário a sua histologia. A ecoendoscopia permite a punção direta da lesão e nalguns casos ajuda a definir se há ou não invasão de vasos adjacentes o que é uma condicionante importante para eventual exclusão de cirurgia ou considerar a necessidade de uma cirurgia mais alargada.

Se obstrucção biliar importante e necessidade de quimioterapia pré operatória é necessária colocação de prótese biliar de drenagem, por CPRE.

Toda a abordagem e terapêutica do tumor pancreático deve ser multidisciplinar e aproveitar os centros com maior experiência.

Autor: 
Dr. António Marques – Gastrenterologia Coordenador da unidade de Gastrenterologia do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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