Entrevista | Dr. Gonçalo Sarmento e Costa

"Os idosos apresentam-se especialmente vulneráveis às complicações" do Vírus Sincicial Respiratório (VSR)

Atualizado: 
09/05/2024 - 15:02
Apesar de ser conhecido por provocar bronquiolites em bebés e crianças, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) não distingue idades, podendo ser fatal entre a população mais idosa. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Gonçalo Sarmento e Costa, Assistente Hospitalar de Medicina Interna com Competência em Geriatria, sublinha a importância de "reconhecermos" que este vírus é "particularmente nocivo nos extremos de idades, sobretudo nas populações mais idosas e nos portadores de doença crónica", e que a imunização é uma "arma" segura contra a infeção.

Embora, quase sempre, oiçamos falar de Vírus Sincicial Respiratório (VSR) associado à idade pediátrica, a verdade é que também a população adulta pode ser afetada por este vírus. Neste sentido, quais as principais complicações do VSR nos idosos?

É fundamental que as pessoas conheçam o VSR como vírus que causa uma infeção respiratória aguda potencialmente fatal nas idades mais avançadas. O VSR carateriza-se por causar uma particular inflamação brônquica, que se traduz num broncoespasmo duradouro e menos respondedor à terapêutica “standard of care”, prolongando muitas vezes os internamentos, em especial dos idosos, que se vêm a expostos a uma maior exposição a sobreinfeções bacterianas, confusão ou “delirium” hospitalar, e à perda da sua autonomia (muitas vezes irreversível), que muitas vezes dita uma institucionalização à data de alta.

Quais os principais fatores de risco associados ao VSR nesta população? A que outras comorbilidades se pode associar, conduzindo ao seu agravamento?

Os idosos apresentam-se especialmente vulneráveis às complicações do VSR, essencialmente devido a três fatores: a imunosenescência (que se pode resumir a um envelhecimento com perda de eficiência do nosso sistema imunitário), a maior prevalência de doenças crónicas e a fragilidade que surge com o envelhecimento biológico dos vários sistemas de órgãos. Além dos idosos, os doentes portadores de doença cardiovascular, oncológica e, claro, respiratória crónica são também doentes muito sensíveis a este vírus.

Para quem não sabe muito sobre este tema, que vírus é este e como pode ser prevenido e combatido?

De uma forma muito simplificada, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), tal como indica o seu nome, é um vírus que pode provocar doença respiratória em pessoas de todas as idades, e é muito contagioso, podendo sobreviver várias horas nas mãos ou em objetos. Os seus sintomas podem variar, dependendo de fatores como a idade ou o estado de saúde da pessoa.

Sendo um Vírus de atingimento do sistema respiratório, as medidas básicas de utilização de máscara, limitação de contatos sociais quando estamos doentes e medidas de higiene das mãos são fundamentais no controlo e disseminação desta infeção que na maioria das vezes se apresenta como um síndrome gripal (não confundir com gripe, mas antes uma infeção respiratória vírica). Transmite-se pelo contacto com secreções ou objetos com o vírus através do nariz, dos olhos ou da boca e o período de incubação varia entre 2 a 8 dias.

Quais os principais sintomas desta infeção?

Tosse, coriza (corrimento nasal), febre e falta de ar (dispneia) são os sintomas mais comuns.

Existe vacina para o VSR? Que estratégias de imunização estão disponíveis para esta população?

Sim, existe vacina desde 2023. Foi um ano de boas notícias no que concerne ao VSR, com a chegada de duas vacinas que mudam o paradigma da abordagem aos doentes de risco. Desde então, podemos recomendar com segurança aos nossos idosos que se vacinem contra o VSR, de forma a que possam estar mais protegidos deste vírus que injustamente é abordado relativamente à idade pediátrica, apesar de ser mais mortal nos doentes idoso.

No entanto, há um longo caminho a percorrer, no sentido de avançarmos com a imunização destes doentes, que passa pela sensibilização dos decisores para a comparticipação das vacinas que se encontram a preços que constituem um obstáculo para a maioria dos nossos doentes de risco.

Houve alguma mudança no comportamento pós-pandemia?

Com a era pós-pandemia, houve avanços na forma como passámos a encarar as infeções respiratórias, sendo que, por exemplo, hoje podemos realizar testes respiratórios, adquiri-los nas farmácias a preços acessíveis e despistar infeções com VSR, Covid, ou mesmo a Gripe. Neste sentido, e mesmo nos Hospitais, houve um aumento significativo de diagnóstico destas doenças, pelo que tem sido mais percetível.

O que precisamos saber e reter sobre este vírus?

Precisamos de saber que é um vírus particularmente nocivo nos extremos de idades, sobretudo nas populações mais idosas e nos portadores de doença crónica, e que anualmente é responsável por muitos internamentos no nosso SNS.

É fundamental que entendamos que, uma vez infetado por este vírus, não existe um tratamento dirigido, pelo que a prevenção através da vacinação e medidas de contenção, como a utilização de máscara em caso de suspeita de infeção respiratória e desinfeção das mãos, são fundamentais. A infeção é aguda, mas pode associar-se a complicações crónicas, como a perda de autonomia ou o agravamento de outras doenças preexistentes.

No âmbito deste tema, que mensagem ou recomendação gostaria de deixar?

Não deixe de perguntar ao seu médico assistente qual será o seu plano vacinal tendo em conta a sua idade, estado de saúde e complicações associadas. Utilize máscara em caso de infeção e higienize as mãos. Mesmo que seja uma pessoa saudável, pode transmitir uma doença como VSR a uma pessoa mais vulnerável.

Nem todos os adultos têm indicação para se vacinarem, mas todos têm a responsabilidade de diminuir o risco de transmissão da sua infeção, que pode eventualmente até ser causada pelo VSR.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.