Quais os riscos?

Os distúrbios da Tiroide e a mulher grávida

Atualizado: 
09/09/2022 - 14:40
As doenças da tiroide são relativamente frequentes na população em geral, afetando, particularmente, mulheres em idade fértil. Durante a gravidez as necessidades de hormonas tiroideias estão aumentadas, pelo que é perfeitamente normal a tiroide aumentar a produção de hormonas nesta fase. No entanto, adverte Helena Alves, endocrinologista, “se houver disfunção da tiroide prévia à gestação, ou se esta se desenvolver durante a gravidez, poderá afetar negativamente a sua evolução, a grávida e o feto”.
Os distúrbios da Tiroide e a mulher grávida

A gravidez está associada a alterações, quase sempre normais e reversíveis, quer do doseamento de hormonas tiroideias, quer das dimensões da glândula. Estima-se, aliás, que esta esteja aumentada em 10 a 30% das mulheres grávidas, sem que seja comprometida a sua função. No entanto, em certos casos podem surgir alterações ao seu funcionamento.

“O hipotiroidismo (défice na produção de hormonas tiroideias) é a disfunção mais frequentemente encontrada na população em geral, e também na gravidez. A causa mais frequente de hipotiroidismo nesta idade é a inflamação crónica da tiroide, de etiologia autoimune – a tiroidite crónica autoimune (ou linfocítica ou de Hashimoto), na qual se desenvolvem anticorpos contra o tecido tiroideu e conduzem à sua destruição progressiva, limitando a sua capacidade de produção das hormonas tiroideias”, começa por explicar Helena Alves, especialista em Endocrinologia. Por outro lado, acrescenta a médica, os níveis baixos de iodo podem originar na mulher grávida aquilo a que se chama hipotiroidismo subclínico – uma forma mais ligeira da doença -, daí que seja tão importante recorrer à suplementação desde o início da gravidez.

Segundo a especialista, as mulheres grávidas podem não notar os sintomas clássicos da doença, porque muitos destes sintomas aparecem associados também à gravidez normal. São eles: “aumento de peso, falta de forças, cansaço, obstipação”, e, em alguns casos, aumento do volume da glândula tiroideia, conhecido por bócio.

Embora ocorra com menos frequência – em menos de 1% de todas as gestações –, o hipertiroidismo é outra das disfunções da tiroide que podem afetar a mulher grávida. De acordo com Helena Alves, “se (o hipertiroidismo) existir previamente à gravidez e se for severo, conduz a abortamento precoce (no primeiro trimestre de gestação)”. Contudo, e embora a gravidez possa “causar sintomas similares aos do hipertiroidismo”, “se a grávida experienciar sintomas como palpitações, perda de peso ou vómitos persistentes, deve contactar o seu médico assistente, alerta a especialista.

Por que é tão importante a avaliação da função da tiroide na grávida?

“A avaliação da função da tiroide na grávida (sem alteração da função da tiroide conhecida antes da gravidez) deverá ser realizada assim que houver confirmação da gravidez (durante o primeiro trimestre)”, chama a atenção a endocrinologista, uma vez que, quando não tratada, qualquer disfunção pode ser prejudicial tanto para a mãe, como para o bebé.

“O hipotiroidismo se não estiver devidamente controlado, conduz geralmente a infertilidade ou dificuldade em engravidar. A presença de anticorpos anti-tiroideus (tiroidite crónica autoimune), por si só, aumenta o risco de aborto precoce”, começa por explicar Helena Alves.

A verdade é que, os níveis adequados de hormonas da tiroide são fundamentais para que a gravidez se desenvolva de forma normal, sobretudo para que ocorra o desenvolvimento fetal adequado, em especial ao nível do desenvolvimento neurológico do feto.

De acordo com a especialista, “vários estudos mostram que filhos cujas mães apresentaram hipotiroidismo não compensado durante a gravidez podem ter, mais tarde, dificuldades de aprendizagem, e ainda que, o hipotiroidismo severo materno pode conduzir a défices cognitivos graves nas crianças”.

Por outro lado, o hipotiroidismo pode ainda conduzir a hipertensão arterial na mãe, “pode levar a alterações no volume de líquido amniótico e a placenta abrupta (deslocamento prematuro de placenta)”. Existe ainda evidência de maior incidência de malformações fetais, nomeadamente fissura anal, comunicação intra-auricular (canal entre as duas aurículas do coração do feto), palato pequeno, polidactilia (dedos dos pés e/ou das mãos a mais) e atrésia biliar (falta de desenvolvimento dos canais biliares).

Quanto ao hipertiroidismo, como já foi referido, este “associa-se a aumento da incidência de abortamento”, e ainda à prematuridade e baixo peso ao nascer, pré-eclâmpsia, insuficiência cardíaca materna e morte fetal intrauterina.

“O tratamento do hipotiroidismo consiste na toma diária da hormona levotiroxina (T4), uma vez por dia, em jejum, dado que os alimentos, alguns medicamentos e suplementos interferem com a sua absorção” e não tem qualquer contraindicação durante a gravidez.

No caso do hipertiroidismo, o tratamento com iodo radioativo está absolutamente contraindicado durante a gravidez e “as cirurgias eletivas da tiroide (por exemplo, por nódulos), deverão ser adiadas para depois do parto”.

De entre as mulheres que apresentam maior predisposição para o desenvolvimento destas disfunções, durante a gravidez, estão “as mulheres com hipotiroidismo previamente conhecido e as mulheres com tiroidite crónica autoimune”.

“Se a mulher já tem doença tiroideia conhecida, a função da tiroide deverá estar controlada antes de planear a conceção. Deverá ser feito o doseamento das hormonas da tiroide (TSH, T4 livre) no sangue, em análises antes da conceção, para assegurar que estas se encontram nos níveis adequados para uma gravidez”, reforça a especialista em endocrinologia, sublinhando que “tendo em conta que os valores de referência para as hormonas tiroideias durante a gravidez são diferentes daqueles para a população em geral, as mulheres grávidas com disfunção tiroideia (estas) devem ser acompanhadas por um médico especialista”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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