Opinião

Orientação precoce para consulta de Reumatologia e acompanhamento multidisciplinar: pilares para a boa evolução dos doentes com Artrite Reumatoide

Atualizado: 
05/04/2022 - 10:23
A Artrite reumatoide (AR) é uma doença reumática, inflamatória, crónica, de etiologia desconhecida. Nela ocorre desregulação do sistema imunitário, com consequente ataque imunológico a tecidos do próprio doente. É uma doença crónica porque não tem cura, mas quando é tratada de forma adequada tem um bom prognóstico vital e funcional.

Afeta as articulações, os tecidos periarticulares e causa também um conjunto variado de manifestações sistémicas extra-articulares. A sua causa é desconhecida, mas pensa-se que para o seu aparecimento concorrem fatores ambientais diversos, entre os que se encontra o tabagismo, que em pessoas geneticamente predispostas serão capazes de levar ao aparecimento da doença.

A sua prevalência nos países industrializados varia de 0,5-1,5% e estima-se que em Portugal afete 0,8-1,5% da população, existindo em Portugal mais de 40000 doentes com esta doença. É duas a quatro vezes mais frequente no género feminino, pode surgir em qualquer idade, sendo o seu aparecimento mais frequente em mulheres após a menopausa.

Os sintomas iniciais mais frequentes são a dor e tumefação (inchaço) das articulações de pequeno e médio calibre, nomeadamente as articulações dos punhos, tornozelos e dedos das mãos e dos pés. Associadamente ocorre rigidez, ou seja, prisão dos movimentos, de predomínio matinal ou após períodos de repouso, o que condiciona marcada incapacidade para a realização de tarefas simples do dia-a-dia; lavar os dentes ou apertar botões podem ser um verdadeiro desafio nas primeiras horas da manhã. Menos frequentemente a doença pode surgir de forma repentina e associada a febre, emagrecimento e fadiga. Pode afetar muitos órgãos tais como os olhos, a pele, os sistemas nervoso, respiratório, cardiovascular, renal e hepático.

O diagnóstico precoce e consequente tratamento dos doentes com AR é fundamental, porque esta doença condiciona destruição articular e das estruturas em torno das articulações e sabemos hoje que uma parte significativa deste dano ocorre nos dois primeiros anos de doença. Para além disso a dor associada à doença e as limitações funcionais para a realização de atividades muito simples do dia-a-dia são causadoras de perturbações do sono, limitam a capacidade de desempenho laboral e perturbam, seriamente a funcionalidade destes doentes, com taxas de absentismo laboral muito elevadas, em doentes não tratados.

O tratamento dos doentes com AR deve ser sempre individualizado e realizado por uma equipa multidisciplinar e inclui medidas farmacológicas e não farmacológicas. Compete ao Reumatologista coordenador esta equipa que deverá incluir o médico de família, o fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermeiro, nutricionista e psicólogo, bem como médicos de outras especialidades sempre que seja necessário.

Dentro das medidas não farmacológicas incluímos a promoção de hábitos de vida saudáveis, tais como:

  • deixar de fumar;
  • praticar exercício físico de forma regular, adaptado ao grau de atividade da AR;
  • otimizar o peso;
  • adotar hábitos alimentares corretos.

Dentro das medidas farmacológicas surgem na base do tratamento os medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides e corticosteroides, para aliviarem a dor e a inflamação numa fase inicial da doença ou sempre que surjam agudizações, com vista ao controlo dos sintomas. Em paralelo devem ser usados fármacos modificadores da evolução da doença (DMARDs), que visam controlar a inflamação e o dano estrutural e idealmente induzir remissão clínica e evitarem o aparecimento de deformações articulares. Incluem: “convencional synthetic” DMARDs (csDMARDs), tais como o Metotrexato, Leflunomida, Sulfassalazina, Hidroxicloroquina e os Sais de ouro; “targeted synthetic” DMARDs (tsDMARDs), tais como os inibidores da Janus kinase; “biological synthetic” DMARDs (bDMARDs), anticorpos dirigidos contra citoninas pró-inflamatórias envolvidas no processo inflamatório subjacente ao aparecimento da AR.

Conclusão:

  • A AR é uma doença reumática muito prevalente.
  • Apesar de ser uma doença crónica, existem fármacos que conseguem controlar a atividade da doença, evitar o dano articular e até atingir a remissão ou baixa atividade de doença, permitindo aos doentes ter uma vida perfeitamente normal.
  • São sinais de alerta: o aparecimento de dores e inchaço das articulações, por vezes com calor local, associados a dores noturnas e prisão marcada de movimentos, após repouso, frequentemente associados a fadiga.
  • A orientação precoce para a consulta de Reumatologia e a ulterior orientação por uma equipa multidisciplinar são os pilares para a boa evolução dos doentes com AR.

Autor: 
Dra. Margarida Alexandre Oliveira - Diretora do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar e Universitário da Cova da Beira; Assistente Convidada da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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