Dia Mundial da Visão | 10 de outubro

Oftalmologia veterinária: A visão que transforma vidas

Atualizado: 
10/10/2024 - 09:39
Porque sou Oftalmologista Veterinário? A resposta é simples: acredito profundamente na importância da visão para a qualidade de vida dos animais. No meu consultório, tenho uma frase escrita na parede que reflete essa convicção: “Só tenho olhos para ti.” Essa frase, embora leve, tem um significado profundo — os meus olhos são melhores quando estão focados em tratar os olhos de quem mais merece: os nossos animais de companhia.

A visão é um dos sentidos mais complexos e importantes. Define-se como “o processo pelo qual percebemos e interpretamos a luz e as imagens ao nosso redor. Envolve a captação de luz pelos olhos, que é então convertida em sinais elétricos enviados ao cérebro, onde essas informações são processadas e interpretadas. A visão permite-nos perceber cores, formas, profundidade e movimento, e é essencial para a interação com o ambiente”. Portanto, sem ver, as nossas capacidades de interação com o mundo estão amplamente limitadas. O mesmo se passa com os animais.

Costuma-se dizer que, nos cães e gatos, a visão não é o sentido mais potente, com o olfato e a audição desempenhando papéis mais intensos. E é verdade. No entanto, não podemos subestimar o impacto que a visão tem na forma como esses animais percebem o mundo. Eles podem até "ver" com o nariz ou os ouvidos, mas é através dos olhos que reconhecem movimentos, obstáculos, o prato de comida e, talvez o mais importante, as feições humanas. A visão é, indubitavelmente, importante para a qualidade de vida em pleno dos animais, apesar de estes apresentarem uma capacidade absolutamente “sobre-humana” para compensarem a condição invisual com os outros sentidos. Esta é a regra e é uma realidade que um cão invisual tem qualidade de vida.

Os animais têm uma notável capacidade de adaptação. É comum ver cães totalmente cegos que, se não fosse a ausência dos olhos, passariam despercebidos. Muitos continuam a viver com grande qualidade de vida, utilizando outros sentidos para compensar a perda visual. Mas, como em qualquer regra, existem exceções. E, por vezes, são essas exceções que nos fazem refletir sobre a verdadeira importância da visão nos animais.

O caso do Ruca, um cão amistoso de 14 anos de vida bem preenchidos, é um exemplo disso. Com o passar dos anos, o Ruca começou a apresentar dificuldades cognitivas e motoras, além de perder a visão devido a uma catarata no único olho que ainda possuía, após ter o outro removido por causa de um glaucoma. Tornou-se invisual, o que limitou determinantemente a sua qualidade de vida. Notava-se que tinha dificuldade em encontrar o prato da comida e da água, para além de embater frequentemente em tudo o que era obstáculo. O seu cuidador, o Sr. Márcio, percebendo a gravidade da situação, procurou uma solução corajosa: a cirurgia da catarata.

Após a cirurgia, o Ruca recuperou a visão por um curto período, mas logo enfrentou uma nova batalha, quando a pressão ocular aumentou drasticamente (41 mmHG, quando o normal é até 25 mmHG), necessitando de outra cirurgia arriscada para tratar o glaucoma. O caminho foi árduo, com dezenas de consultas, tratamentos pós-operatórios difíceis e muita ansiedade. Mas, graças à persistência e ao amor do seu cuidador, o Ruca finalmente recuperou a visão e a sua qualidade de vida, movimentando-se sem bater em obstáculos e interagindo com o mundo ao seu redor.

Esta história é um exemplo de perseverança e coragem — tanto do cuidador quanto do próprio Ruca. É um testemunho de que a visão é, sim, um sentido crucial para os nossos animais e de que vale a pena lutar por ela. Cada caso é uma oportunidade de oferecer uma vida melhor e mais plena para os nossos heróis de quatro patas.

Neste Dia Mundial da Visão, quero dedicar os meus pensamentos ao Ruca, ao Sr. Márcio e a todos os cuidadores que, com amor e dedicação, procuram oferecer aos seus animais o melhor cuidado possível. E, claro, uma homenagem a todos os oftalmologistas veterinários que, diariamente, trabalham para que os nossos animais continuem a perceber "cores, formas, profundidade e movimento," mantendo-se conectados ao mundo que os rodeia.

Autor: 
Dr. Diogo Magno - médico oftalmologista veterinário no AniCura Restelo Hospital Veterinário
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Márcio