Opinião

O papel do hematologista no diagnóstico e tratamento dos linfomas cutâneos

Atualizado: 
05/06/2024 - 09:36
Os linfomas cutâneos primários são um grupo heterogéneo de linfomas raros, incluindo linfomas B e T, com procedimentos diagnósticos e uma grande variedade de tratamentos diferentes entre si. Por isso, os doentes com linfoma cutâneo devem ser acompanhados em Consultas Multidisciplinares em centros com experiência. Estas consultas devem incluir, idealmente, todas as especialidades que participam no diagnóstico e tratamento destes linfomas, sendo fundamental a participação dos dermatologistas, hematologistas e radioncologistas. Deste modo, as decisões são tomadas em equipa conjugando a experiência de todas as especialidades. Os dermatologistas são muitas vezes o primeiro contacto do doente com a equipa e são imediatamente associados pelo público em geral a estes linfomas, uma vez que são os especialistas no diagnóstico de doenças da pele. Mas qual o papel do hematologista na equipa de linfomas cutâneos?

Na maioria dos linfomas cutâneos, após o diagnóstico de linfoma, que é realizado numa biópsia da pele, são realizados exames para saber se o linfoma está localizado somente à pele ou se afeta também os gânglios linfáticos, sangue ou outros órgãos (estadiamento). Em alguns subtipos de linfoma cutâneo, é necessária a avaliação da medula óssea para excluir a presença de linfoma nesse órgão. Isto é conseguido através de uma biópsia osteomedular, a qual é realizada somente por hematologistas. Após reunidos todos os resultados dos exames, a equipa multidisciplinar pode chegar ao diagnóstico final e definir um plano de tratamento.

Para além disso, os linfomas cutâneos têm que ser diferenciados de alguns tipos de linfoma sistémico com características semelhantes, uma vez que o seu tratamento e prognóstico é diverso. Pela sua experiência clínica no diagnóstico e tratamento de linfomas sistémicos, o contributo do hematologista é fundamental para esta distinção.

Os linfomas cutâneos são cancros do sangue com apresentação primária na pele. Isto significa que têm origem em linfócitos, células do sistema imunitário, que têm predileção pela pele. Por isso, na maioria dos casos, como só estão localizados na pele, o seu tratamento é local, incluindo cirurgia, radioterapia, fototerapia ou fármacos de aplicação tópica. Na doença avançada, que afeta várias regiões da pele, gânglios linfáticos, outros órgãos ou o sangue, o tratamento é sistémico, incluindo imunoterapia e quimioterapia. Em Portugal, são os hematologistas que prescrevem e gerem estes tratamentos sistémicos para a doença avançada. Estes tratamentos, são administrados por enfermeiros especializados em hemato-oncologia. São também os hematologistas que avaliam a indicação e elegibilidade dos doentes para transplante alogénico de medula óssea na Micose Fungóide e no Síndrome de Sézary (https://www.atlasdasaude.pt/artigos/sindrome-de-sezary-e-o-transplante-de-medula-ossea).

Por fim, os hematologistas, pela sua experiência em acompanhar os doentes desde o diagnóstico oncológico até ao fim da sua vida, contribuem para a gestão das diversas dimensões da qualidade de vida dos doentes com linfoma cutâneo. Podem ainda, dependendo da sua formação, prestar cuidados paliativos de nível básico, sabendo quando referenciar os doentes para acompanhamento por equipas de cuidados paliativos.

Autor: 
Dra. Ana Luísa Martins - Médica especialista em Hematologia Clínica; Consulta Multidisciplinar de Linfomas Cutâneos do Hospital de Santo António dos Capuchos – ULS São José
Nota: 
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