O doente invisível: Uma história de Natal que é de todos os dias…
Um homem contou que esteve deitado numa maca de um Serviço de Urgência durante 10 horas sem que alguém o visse… chamava… pedia ajuda… muitos passavam mas ninguém olhava, ninguém reparava nele… não o viam… porque razão permanecia ali deitado há tanto tempo, sem uma informação, sem comer ou beber o que quer que fosse … nada… ninguém dava pela sua existência … e o homem sentiu-se invisível!
Uma mulher disse que ficou num corredor durante toda uma longa noite, sentada numa cadeira (não havia macas…), também no Serviço de Urgência.… muitos passaram por ela, falando alto e discutindo coisas que nada tinham que ver com a sua situação… mas ninguém se importava com ela… e a mulher sentiu-se invisível!
Um jovem politraumatizado esteve internado numa enfermaria, completamente imobilizado, sem se poder mexer… na hora da refeição aparecia uma senhora que depositava um tabuleiro com comida ao fundo da cama e rapidamente desaparecia… e ele, sem se poder mexer, completamente imobilizado, não tinha como alcançar a comida… ninguém o vinha ajudar, ninguém queria saber da sua particular situação… e o jovem sentiu-se invisível!
A mãe de uma jovem internada e que por várias vezes se dirigiu pessoalmente ao hospital (por telefone não tinha conseguido que a atendessem…) para tentar falar com os médicos sobre a condição da sua filha… nunca o conseguiu… naquele hospital também alguns médicos se tornavam invisíveis…
Uma senhora de meia-idade, ao pedir indicações na entrada de um hospital, foi tratada de forma hostil pelo funcionário da secretaria… a sensibilidade, o respeito, a cortesia, a empatia e a compaixão eram muitas vezes invisíveis naquele hospital…
Muitos outros não contam, não falam, calam a dor, a tristeza, o enxovalho, o desprezo a que são votados …. ficando afinal, também, invisíveis...
Esta história de Natal (que é de todos os dias) devia acabar bem, como acontece com todas as histórias de Natal. Mas, tristemente, não é assim que termina… e assim continuará, enquanto todos nós permanecermos cegos, surdos e mudos para esta realidade e, portanto, invisíveis!