O desafio da alimentação no tratamento da diabetes
Não existe um padrão alimentar único para todas as pessoas com diabetes. Por isso é importante o encaminhamento para um programa terapêutico nutricional individualizado, do qual faz parte o fornecimento das “ferramentas” necessárias para que as pessoas sejam capazes de gerir ou planear as suas refeições, desde as compras à confeção e ingestão dos alimentos, para melhorarem o seu estado de saúde e atingirem os objetivos do tratamento da diabetes: o bom controlo glicémico, a redução de fatores de risco cardiovasculares (colesterol, triglicerídeos, pressão arterial), atingir um peso adequado e prevenir as complicações da diabetes.
As recomendações alimentares baseiam-se nos princípios da alimentação saudável, sendo particularmente importante a educação para a escolha de uma variedade de alimentos equilibrados e ricos em nutrientes, e adequação das doses dos alimentos em cada refeição. As orientações são adaptadas a necessidades nutricionais individuais, à situação clínica, características culturais, intolerâncias e capacidade económica, e envolvendo as pessoas no processo de elaboração do seu plano individual.
Um excelente exemplo de padrão alimentar saudável é o guia português da “Roda da Alimentação Mediterrânica”, que inclui recomendações que têm demonstrado ter benefícios no controlo da diabetes.
Os produtos hortícolas devem ser predominantes nas sopas e no prato (ocupando metade da sua área). A ingestão frequente de peixe e o uso do azeite para cozinhar, temperar e até para pingar no pão, são também alguns conselhos úteis. E é importante ter em consideração a qualidade e a quantidade de hidratos de carbono ingeridos ao longo do dia, já que de todos os nutrientes, os hidratos de carbono (HC) são os maiores determinantes da glicemia após as refeições.
Sob o ponto de vista qualitativo, os HC devem ser provenientes de alimentos simultaneamente ricos em fibras, vitaminas e sais minerais, como os cereais com grãos completos (integrais), as leguminosas, a fruta fresca (não em sumo), e lacticínios não açucarados, em vez de alimentos processados, ricos em açúcares, gorduras e sal adicionados. Desaconselham-se as bebidas açucaradas, e devido ao elevado teor de gordura, açúcar e calorias, os salgados, bolos e fast-food devem reservar-se para dias de exceção. O objetivo é garantir uma alimentação mais equilibrada, evitar o pior controlo glicémico e reduzir o risco de doença cardiovascular.
A quantidade de hidratos de carbono será diferente para cada pessoa, dependendo de fatores como a idade, género, peso, altura e nível de atividade física, entre outros. Para o controlo glicémico há que considerar ainda a quantidade de HC ingerida e o nível de insulina disponível em circulação. Por isso a contagem dos hidratos de carbono é considerada uma estratégia chave para o bom controlo glicémico.
As pessoas tratadas com antidiabéticos orais e/ou doses fixas de insulina, precisam de aprender a fazer refeições equivalentes, ou seja, a manter diariamente a quantidade de HC aconselhada em cada refeição. Já a contagem de hidratos de carbono avançada é um método recomendado para pessoas com diabetes tipo 1 com esquemas de insulinoterapia intensivos, nos quais a dose de insulina de ação rápida é ajustada de acordo com a quantidade de hidratos de carbono de cada refeição, e que requer ensino e treino realizados em contexto de consulta por um nutricionista integrado na consulta de diabetes. Deste programa faz parte o ensino dos procedimentos e da utilização dos materiais recomendados, incluindo a leitura dos rótulos. Realça-se que a utilização do método da contagem de hidratos de carbono não deve descurar os cuidados para uma alimentação saudável.