Neuropatia Diabética
Como se define a neuropatia diabética?
É uma lesão dos nervos periféricos e do sistema nervoso autónomo, que ocorre nas pessoas com diabetes e que é denominada de neuropatia diabética (ND). A definição rigorosa de ND é motivo de discordância entre os especialistas, provocando algumas dificuldades no que respeita à definição das causas, ao diagnóstico diferencial com outras neuropatias não relacionadas com a diabetes, à história natural, à prevalência e às medidas terapêuticas.
Para os médicos, a ND é um estado clínico de lesão nervosa, que está associado a queixas (sintomas) como a dor e parestesias (perturbação anormal da sensibilidade- formigueiro, picada, adormecimento, etc). Pode ainda manifestar-se pela diminuição da sensibilidade ao nível das extremidades (pés e mãos).
A lesão do sistema nervoso autónomo (SNA) pode coexistir, e vai apresentar sintomas ou sinais relacionados com o funcionamento de sistemas que trabalham de forma autónoma, como o sistema cardiovascular. O SNA controla o coração, a bexiga, o estomago, os intestinos, os órgãos sexuais e os olhos, pelo que uma lesão poderá provocar falta de avisos das baixas de glicose no sangue (hipoglicemias), problemas na bexiga, alterações no ajustamento da visão, entre outros.
Prevalência da neuropatia diabética
Pode variar entre 10% a 80%, dependendo da definição utilizada. Mas, segundo um estudo nos EUA - o DCCT (Diabetes Control and Complications Trial) -, a prevalência nas pessoas com diabetes tipo 1, incluídas neste estudo, ultrapassa os 50%. Por outro lado, o estudo EURODIAB, realizado na Europa, mostrou uma prevalência de ND de 35% (diagnóstico baseado em sintomas e sinais físicos anormais. Esta discrepância de resultados pode ser uma consequência relacionada com problemas de definição ou diferenças nas populações que foram estudadas.
Em Portugal, está em curso o estudo PREVANEDIA, realizado pelo Grupo de Estudos de Neuropata Diabética (GRENEDI) da SPD (Sociedade Portuguesa de Diabetologia), que conta com a colaboração de médicos de Medicina Geral Familiar.
Diagnóstico da neuropatia diabética
Durante algum tempo poderá não haver sintomas, mas, posteriormente, poderá ser causa de grande sofrimento, não só pelas dores que provoca, como pela incapacidade física e pelas suas repercussões sobre o sistema nervoso autónomo. A neuropatia diabética manifesta-se através de sintomas como: dormência ou sensação de queimadura ou entorpecimento nos membros inferiores; formigueiro; picadas; choques; agulhadas nas pernas e pés; desconforto ou dor; e perda da sensibilidade táctil, entre outras.
A neuropatia sensitivo-motora é o principal fator de risco para o desenvolvimento de úlceras no pé diabético, que, por sua vez, são responsáveis por cerca de 85% das amputações ocorridas em pacientes diabéticos. Portanto, o investimento na sua prevenção é fundamental.
Na observação, o médico começa por fazer a história clínica da doença e das suas complicações. De seguida, será feita uma inspeção e uma avaliação da força muscular, dos reflexos tendinosos e da sensibilidade ao toque e à vibração (com um aparelho chamado diapasão). Durante o exame, o medico fará ainda a palpação dos pulsos arteriais (se estiverem diminuídos na amplitude, pode ser sinónimo de insuficiência arterial periférica). O médico pode fazer ainda alguns testes como:
- Teste do monofilamento, que tem como objetivo ver se o doente tem sensibilidade, e se sente o toque na pele, através da passagem de um filamento de nylon em determinadas áreas do pé;
- Sensibilidade vibratória, ao nível dos membros, bem como a sensibilidade às mudanças de temperatura local (com aparelhos próprios).
Poderá ainda ser necessário fazer um exame complementar chamado eletromiografia. Por outro lado, para avaliar a lesão do SNA, é necessário fazer alguns testes complementares, para determinar se a pressão arterial e a frequência cardíaca se alteram, por exemplo, com as mudanças de posição (deitado e de pé) ou com a respiração profunda.
Causas da Neuropatia diabética
As causas exatas da ND não são conhecidas. No entanto, o controlo eficaz da hiperglicemia pode retardar a progressão da ND, em pessoas com diabetes tipo 1, sendo os efeitos mais modestos nos diabéticos tipo 2. Estas diferenças têm motivado a comunidade científica a estudar as causas da ND. Os investigadores admitem que a hiperglicemia (o aumento da glicose no sangue) vai lesar os nervos e impedir que estes enviem os sinais próprios da sua função.
São considerados fatores de risco:
- Mau controlo da glicose no sangue;
- Duração da diabetes – se tiver diabetes há mais tempo, maior será a probabilidade de ter ND;
- Doença dos rins - a diabetes pode afetar os rins, que poderão reduzir as suas funções, acumulando toxinas com efeitos lesivos para os nervos;
- Sobrecarga de peso;
- Ser fumador - o hábito de fumar pode diminuir o diâmetro das artérias, que podem ficar mais endurecidas, reduzindo o fluxo sanguíneo nas artérias.
Tratamento da Neuropatia diabética e medidas preventivas
O tratamento da neuropatia periférica deve ter em conta três elementos importantes:
- Controlo glicémico – primeiro, ver como está e, se for caso disso, corrigir o controlo da glicose. Há estudos que sugerem que os sintomas podem melhorar com o controlo glicémico mais rigoroso;
- Cuidados a ter com os pés - os pés das pessoas com diabetes devem ser inspecionados todos os dias, para ver e tratar algumas situações como: pele seca, gretas, calosidades, sinais de infeção entre os dedos e nas unhas. O exame regular dos pés é muito importante, mas se a pessoa com diabetes for portadora de ND, o exame será mais importante ainda, para se evitar úlceras, infeções e amputações. É também essencial a utilização de sapatos adequados ao pé, e evitar o uso botijas de água quente na cama, aproximar os pés dos aquecedores, e andar descalço (mesmo na praia);
- Tratamento da dor - nem todos os diabéticos têm dor associada à ND. Se tiverem dor, convém confirmar se está relacionada com a ND - a história clínica e o exame físico podem ajudar no diagnóstico diferencial com outras causas de dor. Compete ao médico atender à eficácia da medicação, aos efeitos adversos e às contraindicações dos fármacos. É ainda fundamental avaliar o efeito da dor no estado psicológico do paciente. Atuar a este nível pode melhorar a resposta do doente e a sua adesão ao tratamento, porque a ND pode estar associada a depressão e ansiedade.
É também muito importante ter cuidados multifatoriais, que incluem: otimização dos fatores de risco cardiovascular, como o estilo de vida (vida sedentária, alimentação pouco saudável, hábito de fumar); atuação contra o aumento das gorduras do sangue (colesterol- (dislipidemia); tratamento da hipertensão arterial; correção da disfunção eréctil e o stress.