“Não fiquem com medo. Ficar com medo é deixar o tempo passar e permitir que a doença nos vença!”
O cancro do ovário é diagnosticado geralmente após os 50 anos. Mas, há exceções. Ana Cristina Melo, 35 anos, é uma dessas exceções. Tinha apenas 31 anos quando lhe foi diagnosticado cancro do ovário. Submetida a cirurgia e quimioterapia, um novo tumor/recorrência foi detetado cerca de um ano depois, obrigando a mais quimioterapia e radioterapia. Por ter história familiar de cancro e pela idade jovem ao diagnóstico, foi efetuado um estudo genético que confirmou predisposição familiar para cancro hereditário – Síndrome de Lynch.
A Ana está neste momento em vigilância e sem evidência de doença. A recorrência do tumor, em vez de a desanimar, deixou-a ainda com mais forças para enfrentar a doença. “Estava farta desta doença que não me queria largar. Fazia-me lembrar uma pastilha na sola do sapato. Mas só me deu mais força. Já tinha a experiência anterior e pensei para mim mesma: não és tu que vais vencer, não és tu que ditas as regras da minha vida”, afirma Ana Cristina Melo.
Foi essa força que lhe deu mais esperança e ânimo para encarar mais uma batalha. “Não vou ficar agarrada ao medo dessa probabilidade. Tenho de acreditar que vou sempre conseguir, que vou ter um desfecho positivo e acreditar na equipa médica que está ao meu lado”, explica. Apesar disso, confessa que nem sempre teve um espírito elevado. O confronto com o diagnóstico foi difícil, sobretudo porque tinha muitos projetos e sonhos em mente, incluindo o da maternidade. “É uma notícia que ninguém quer receber. Temos toda uma série de projetos que, de repente, começam a ruir. Quando ouvimos a palavra cancro abre-se um fosso e toda a nossa perspetiva de futuro muda completamente”, revela.
Ultrapassado o embate inicial, conta que aprendeu a dar “um passinho de cada vez” e a gerir toda a frustração, tristeza e angústia para encontrar forças para lutar contra uma doença que lhe queria roubar a vida. Aprendeu que os projetos podem não ser sonhos para sempre desfeitos, mas adaptados à nova condição. Aprendeu também a separar o importante do acessório e a preocupar-se mais consigo mesma, com o tempo em família e com os amigos.
Por isso, deixa uma mensagem a todas as mulheres, jovens ou menos jovens, porque há casos que escapam à norma: “se o corpo estiver a dar sinais de que algo está errado peçam ajuda, tentem informar-se, peçam exames.
Ana Cristina Melo lembra que “o cancro é uma doença que não espera, é evolutivo, e que quanto mais cedo for diagnosticado melhor será o prognóstico”. E, por isso, apela: “não fiquem com medo; ficar com medo é deixar o tempo passar e permitir que a doença nos vença”.
Fatores de risco estão identificados
De acordo com Cristiana Pereira Marques, a causa exata do cancro de ovário permanece desconhecida, mas muitos fatores de risco estão identificados, entre os quais estão a obesidade, menarca precoce, menopausa tardia, baixo número de gestações e a história familiar. Cerca de 10-20% dos cancros do ovário associam-se a uma síndrome de predisposição familiar para o cancro, como é o caso da Ana Cristina Melo.
Também foram identificados fatores protetores de cancro do ovário, como o uso de anticoncecional oral, laqueação de trompas de Falópio e a amamentação. “O cancro do ovário constitui um desafio diagnóstico, pois não existe um método de rastreio validado na população e os sintomas são frequentemente tardios. Nos últimos anos, surgiu uma nova classe de fármacos, que revolucionou o tratamento do cancro do ovário”, refere a médica oncologista.
Esteja atenta aos sinais
O cancro do ovário, que atinge sobretudo mulheres após os 50 anos, é um tipo de neoplasia que tem origem nos tecidos ováricos, onde são formados os óvulos e produzidas as hormonas femininas. Os sintomas são, geralmente, inespecíficos e tardios, daí a importância de serem mantidas rotinas médicas.
No entanto, existem sinais/sintomas que devem motivar avaliação médica como a distensão abdominal persistente, o enfartamento precoce, a perda de apetite, a dor abdominal, sintomas urinários (frequência ou urgência urinária), a alteração do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação), fadiga extrema ou perda de peso.