Na descoberta de uma microbiota saudável
Em 2013, a prestigiada revista Science considerou como um “Breakthrough of the Year” o facto de os estudos nesta área revelarem que os triliões de bactérias que vivem no interior do corpo humano desempenham um papel crucial na determinação do modo como o organismo responde a desafios tão diferentes como má nutrição e cancro.
Estes progressos na compreensão do papel da microbiota na saúde humana foram possíveis devido, em parte, a avanços recentes na tecnologia de sequenciação que permitiram o uso do gene 16s rRNA como método fácil e eficiente para identificar as bactérias presentes nos vários órgãos do corpo humano. “Trata-se de um gene ribossómico presente exclusivamente em archaea e bactérias, que permitiu classificar filogeneticamente as bactérias através da metodologia do relógio molecular”, explicou Karina Xavier.
Sabe-se que os antibióticos causam alterações na composição da microbiota e que o tratamento prolongado com estreptomicina provoca o desaparecimento de muitas bactérias.
Uma microbiota saudável pode ser recuperada ou ver repostas as suas funções através de um transplante fecal, com a introdução de micróbios das fezes de dadores “saudáveis”. O que se procura é a reprogramação de microbiota doente (ex. de aplicações – tratamento contra infeções com Clostridium difficile).
Também se pode atingir esse objetivo com a utilização de probióticos – suplemento de espécies específicas de micróbios (ex. Lactobacillus, Bifidobacteria).
Pretende-se a reposição de funções específicas da microbiota, com a produção de agentes antimicrobianos e fatores bacterianos que ativam o sistema imune e a promoção da competição direta com potenciais patogénicos.
Com os prebióticos – complementos químicos (ex. fibras dietéticas) – conseguir-se-á a promoção do crescimento de bactérias específicas. “Através de engenharia bacteriana e manipulação da expressão genética, também é possível recuperar uma microbiota saudável”, afirmou a investigadora, “como demonstrado no estudo que publicámos, em 2015, na Cell Reports”.