Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Maternidade Alfredo da Costa

Mulheres com rastreios positivos para o HPV devem ter uma vigilância clínica mais regular

Atualizado: 
21/02/2024 - 05:58
O Papilomavirus Humano (HPV) não escolhe idades ou género, é silencioso, e pode provocar diversos tipos de cancro. De acordo com Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Unidade de Patologia do Colo da Maternidade Alfredo da Costa, o HPV é responsável pela quase totalidade dos cancros do colo do útero, a segunda causa de morte por cancro em mulheres entre os 25 e os 45 anos. Por isso, a médica defende o reforço da prevenção e da vigilância.

“As mulheres com rastreio positivo para HPV de alto risco devem ter uma vigilância clínica mais regular para que o médico possa ponderar a melhor abordagem em função do risco, e assim evitar que a infeção evolua para uma doença maligna, alerta a médica, em vésperas de mais um Dia Internacional de Consciencialização sobre o HPV, que se assinala a 4 de março. 

Ana Gonçalves Andrade explica que esta vigilância não só previne uma evolução para o cancro do colo do útero, como evita tratamentos desnecessários e reduz os níveis de ansiedade associados a um rastreio positivo. “Apesar de sabermos que 80 a 90% das infeções podem regredir espontaneamente, a vigilância regular (wait and see ou esperar para ver) pode ser difícil de aceitar pela doente. Mas, nesta fase, é fundamental explicar à doente que, consoante o tipo de lesão identificada, podem não ser necessários tratamentos invasivos, como a cirurgia, e que existem outras formas de gerir e tratar a infeção até à cura efetiva. 

De acordo com a especialista cerca de 80% das pessoas sexualmente ativas terá, pelo menos, um episódio de infeção pelo papilomavirus humano (HPV) durante a vida. Existem mais de 200 tipos diferentes, mas só alguns com potencial cancerígeno. “Uma vez que a infeção persistente por HPV promove o desenvolvimento do cancro do colo do útero e que depende, em parte, do status imunitário do aparelho genital, estratégias que permitam melhorar a imunidade vaginal, equilibrando o seu microbioma, podem ser importantes na prevenção da infeção persistente e na progressão de lesões de baixo risco, salienta. 

A estratégia para a eliminação do cancro do colo do útero assenta em três pilares: prevenir a infeção HPV, diagnosticar lesões precursoras e tratar lesões com elevado risco de progressão. A vacinação contra o HPV é a base da prevenção primária. Disponível em Portugal, a vacina nonavalente, incluída no Programa Nacional de Vacinação, cobre os serotipos responsáveis por 90% dos cancros do colo do útero. 

A implementação do rastreio permite identificar as mulheres em risco de desenvolver cancro do colo do útero e, ao vigiá-las, reduzir a sua incidência e mortalidade. Daí que seja importante a vigilância da doente em Unidades especializadas em patologia do colo, para ir avaliando a evolução da infeção e de eventuais lesões. Estratégias de intervenção terapêutica, como produtos de aplicação vaginal, podem ser utilizados como forma de estimular a regeneração dos tecidos, potenciando a neutralização natural do HPV, e, ao mesmo tempo, diminuir os níveis de ansiedade. Por exemplo, diversos estudos indicam que o carboximetil beta-glucano, um polímero hidrofílico mucoadesivo, contribui para reequilibrar o microbioma vaginal e apoia a regeneração das células que revestem o colo do útero*. Contudo, alerta que a sua utilização não exclui a necessidade de manter uma vigilância clínica regular em centros diferenciados. 

Ana Gonçalves Andrade sustenta que, “existem atualmente um conjunto de medidas preventivas custo-eficazes que tornam o cancro do colo do útero uma doença evitável”. E relembra que “a consciencialização da população para a importância da infeção HPV é fundamental para uma adequada adesão a todas estas medidas preventivas e para tornar o cancro do colo do útero uma doença do passado”.  

PERGUNTAS E RESPOSTAS: 

O que torna o colo do útero tão suscetível? 

O HPV infeta as células basais dos epitélios através de micro abrasões decorrentes das relações sexuais. Por ser uma zona de metaplasia ativa, a zona de transformação do colo é particularmente suscetível. No interior da célula o vírus completa o seu ciclo de replicação, destrói a célula infetada e liberta novas partículas virais que perpetuam a infeção (infeção produtiva; lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau). Se a infeção persistir o vírus integra o seu DNA no genoma da célula hospedeira conferindo-lhe a capacidade de transformação neoplásica (infeção transformante; lesão intra-epitelial escamosa de alto grau – precursora do cancro do colo do útero). 

Quais os tipos de HPV mais perigosos? 

Entre os HPV de alto risco, os 16 e 18 são os mais perigosos e responsáveis pela esmagadora maioria dos cancros do colo do útero. Daí que sejam fundamentais a vacinação e o rastreio. Os HPV de baixo risco causam doença benigna, os condilomas. 

O HPV está relacionado com que tipos de cancro? 

O Papilomavirus Humano é um dos carcinogéneos mais potentes e está na origem de múltiplas neoplasias: mais de 90% dos cancros do colo do útero, 88% dos cancros anais, 70% dos da vagina, metade dos cancros do pénis; cerca de 43% das neoplasias da vulva e está relacionado com 26% dos casos dos cancros da orofaringe. 

 

Referências: 

*Lavitola G, Della Corte L, De Rosa N, Nappi C, Bifulco G. Effects on Vaginal Microbiota Restoration and Cervical Epithelialization in Positive HPV Patients Undergoing Vaginal Treatment with Carboxy-Methyl-Beta-Glucan. Biomed Res Int. 2020 Apr 27;2020:5476389. doi: 10.1155/2020/5476389. PMID: 32420349; PMCID: PMC7201736. 

 

Fonte: 
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Nota: 
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