Menopausa: cada mulher "tem a sua vivência, com ou sem queixas"
De acordo com o estudo “Menopausa: Como é vivida pelas mulheres em Portugal”, promovido pela Wells, mais de 80% das mulheres não sabe distinguir a perimenopausa da menopausa, assim começo por lhe perguntar o que as distingue?
A menopausa é a idade em que as mulheres têm as últimas perdas menstruais, assim como a menarca é a idade em que as mulheres apresentam as primeiras perdas menstruais. A menopausa é diagnosticada depois de ocorridos 12 meses consecutivos sem menstruação. Já a perimenopausa é um período mais longo, essencialmente dominado por queixas (irregularidades menstruais são as mais comuns) e que termina um ano após a entrada na menopausa.
A partir de que idade pode uma mulher entrar na menopausa? Quais os primeiros sinais que podem indicar a entrada na menopausa?
Estima-se que a menopausa surge aos 50-51 anos. Neste estudo e nesta amostra, a idade média referida foi 49 anos. Os primeiros sintomas podem surgir a partir dos 40 anos e correspondem, sobretudo, a irregularidades nas menstruações.
De que modo esta fase da vida condicionar a qualidade de vida de uma mulher? E qual o seu impacto na saúde mental?
Existem diferentes aspetos na vida das mulheres que podem ser impactados por esta fase: irregularidades menstruais (as mulheres não estão habituadas ou não aceitam a perda da previsibilidade das suas perdas menstruais); o receio de engravidar (por isso, é necessário a contraceção eficaz nesta fase da vida); a apresentação de sintomas ligeiros de calores/suores frios/alterações do sono, sintomas estes que criam ansiedade. Além disso, psicologicamente pode ocorrer, até de forma exagerada, a sensação da perda da função feminina/do ser mulher. Paralelamente, esta fase pode ainda corresponder a mudanças às vezes profundas na vida social das mulheres (alteração do estado social, de emprego, de convívio social, perdas de entes próximos ou doença graves pessoais ou de entes próximos).
A partir de quando devem as mulheres preparar-se para este momento das suas vidas? Alguns especialistas defendem que a mulher deve começar no período da perimenopausa a tomar consciência das alterações a que irá estar sujeita e tomar algumas medidas no que diz respeito a melhorar a sua qualidade de vida. Que medidas são estas?
A partir dos 40 anos começam a ocorrer mudanças nos ovários que indicam uma transição de função, progredindo para a falência ovariana. As irregularidades menstruais são um dos sintomas mais pronunciados desse processo, e a consciencialização da mulher é importante. As oscilações hormonais podem produzir alterações na composição corporal, existindo assim a necessidade de uma maior educação alimentar, de mais disciplina para combater o sedentarismo (utilizar cada vez mais formas de dissipar a energia consumida), de adotar comportamentos mais regrados para minimizar o stress, de incentivar a mulher a priorizar o seu bem-estar (ouvimos constantemente as mulheres dizerem que “perdi tempo com os outros e agora tenho de olhar para mim”), e de consultar as pessoas que ajudem na promoção da saúde.
Já durante a menopausa, a atividade física e cuidados com a alimentação são tidos como alguns dos cuidados que podem aumentar o bem-estar da mulher. Quais as recomendações, neste âmbito?
Depende dos objetivos que as mulheres querem atingir. No entanto, destaco a necessidade de educação alimentar e dissipação da energia. É importante consultar um nutricionista ou procurar ajuda na motricidade humana. Para isto, a iniciativa e motivação pessoais são essenciais. É igualmente importante ter a noção de que será necessário tempo e disciplina para surgirem resultados.
Qual o tratamento para menopausa e sua importância? Quais as principais dúvidas das mulheres quanto a este tema?
O tratamento hormonal na pós-menopausa tem como principal objetivo aliviar os sintomas vasomotores e está recomendado em mulheres sintomáticas, cujas queixas interferem com a atividade diária. Algumas mulheres têm sintomas ligeiros e não necessitarão de suplementação hormonal. As evidências clínicas são perentórias na indicação do tratamento hormonal. As mulheres assintomáticas não necessitam de tratamento hormonal.
O maior receio no tratamento hormonal é o risco de cancro da mama. Este aspeto deve ser corretamente explicado às mulheres, que precisam de ter toda informação necessária na sua posse para tomarem decisões informadas. A verdade é que segundo um estudo realizado e publicado no Lancet Oncology, em 20 milhões de casos de cancro da mama, apenas 1 milhão de casos estão relacionados com a utilização do tratamento hormonal; então e os restantes 19 milhões de casos?
Na sua opinião por que motivo “assusta" tanto falar sobre menopausa? Que mitos ainda existem e que condicionam as mulheres a saber conviver com a menopausa?
São puramente mitos, porque esta é uma fase da vida de todas as mulheres e curiosamente a experiência de cada mulher é individual; cada uma tem a sua vivência, com ou sem queixas. No entanto, o que verifico é que as mulheres entre os 40 a 50 anos começam a procurar informação em consulta de ginecologia sobre esta fase da vida. O que mais realço é que ficam apreensivas com as primeiras irregularidades menstruais e questiono sempre “trata-se de alguma surpresa?”
Neste sentido, e tendo por base as conclusões do estudo, que conselhos deixa às mulheres que estão ou vai entrar na menopausa?
É importante que as mulheres entre os 40 e os 50 anos, caso estejam curiosas com esta fase da vida, consultem profissionais de saúde habituados a abordar a menopausa/pós-menopausa, independentemente de serem especialistas em ginecologia. Estes profissionais provavelmente estarão mais capacitados se tiverem diferenciação na área.