Medicina Dentária: A Especialidade Médica esquecida?
Quando nascemos temos três funções inatas: sucção, deglutição e respiração e a cavidade oral está presente em todas. A importância do órgão mastigatório e sua interacção com as diferentes estruturas como a articulação temporo mandibular, o sistema neuro muscular, o sistema nervoso central não deve ser esquecido.
Um dos motivos de consulta em Medicina Dentária é a estética: “dentes tortos”, “dentes escuros”, “gengiva retraída”, outros são motivos como “dor num dente”, “dente fracturado”, “dor nos maxilares” e cabe-nos a nós, Médicos Dentistas, repor a função com a estética em mente, ou vice-versa, mas avaliar o paciente é crucial.
Perceber o porquê que “fraturou um dente”, o porquê “tem a gengiva retraída”, o porquê que “mastigamos mais de um lado do que outro” e as implicações que isso acarreta no desenvolvimento oro-facial e equilíbrio postural e muscular de cada paciente é essencial para uma práctica de Medicina Dentária de excelência.
Actualmente dispomos de meios auxiliares de diagnóstico que são facilitadores de uma visão integral do nosso paciente, devendo integrar a ortopantomografia como o básico, para depois podermos fazer uma avaliação clínica do paciente a qual deve incluir a anamnese, palpação muscular, análise da cavidade oral em estática e dinâmica, e ainda a telerradiografia de perfil, o scan intra oral, as fotografias intra e extra orais e ainda o CBCT quando necessário.
A área especifica da Ortodontia permite trabalhar o plano oclusal e de facto guiar o crescimento, prevenir, tratar disfunções craneo-faciais em pacientes nos vários estadios da vida. Para desenhar este sorriso ideal para cada paciente, dispomos de softwares que nos proporcionam sermos nós a definir a posição final de oclusão do nosso paciente e como vamos proceder para chegar a esse fim, sendo da responsabilidade do médico definir qual o plano de tratamento (se provocamos alterações que permitam uma adaptação anterior da mandibula vs se distalizamos dentes superiores – como exemplo), tendo em conta a estética e a função, obviamente.
Os alinhadores vieram proporcionar à Ortodontia mais uma opção como aparatologia, mas trazer também a obrigação de definirmos à priori qual o nosso objectivo de tratamento permitindo um VTO (Visualization of Treatment Objectives), necessitando de uma correcta avaliação do paciente e plano de tratamento. Este tipo de tratamento tem sido cada vez mais solicitado pelos próprios pacientes, sendo o seu conforto inegável, e como aparatologia é eficaz, apesar de o tipo de alinhador e o médico serem factores cruciais no processo. Para mim, a Invisalign é a marca de referência, apresentando um software com todos os instrumentos que nos permitem desenhar a posição final e sequência do tratamento do paciente e produz alinhadores num material que gera eficazmente as forças de forma a termos previsibilidade no resultado final.
A sociedade procura sorrisos como os apresentados nos media, de pessoas famosas, como sinal de felicidade, saúde, de serem bem-sucedidos, de sorrisos brancos proporcionados por branqueamentos, dentes com formatos harmoniosos com a face desenhados por facetas e/ou coroas, restaurações de caries, mas todas estas questões reabilitadoras vão de mãos dadas com uma função equilibrada. Como disse Claude Bernard: “A função cria o órgão e o órgão adapta-se à função”. A função tem de estar bem para o órgão também se manter em equilíbrio com o organismo como um todo, daí a necessidade de trabalharmos cada vez mais com otorrinos, alergologistas, pediatras, fisioterapeutas/osteopatas, terapeutas da fala/motricidade orofacial, nutricionistas, ... pois juntos adicionamos no tratamento que podemos proporcionar aos nossos pacientes.