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Medicamentos ou suplementos? Ómega3

Atualizado: 
08/07/2019 - 13:11
Conhecidos os benefícios dos ómega 3 é necessário diferenciar suplementos alimentares, indústria alimentar e medicamentos.
Cápsulas de suplementos alimentares

As doenças cardiovasculares continuam a liderar as taxas de morbilidade e mortalidade em Portugal. De entre os principais factores de risco modificáveis estão os hábitos alimentares ricos em gorduras e açúcares, cuja principal consequência é o aumento desmedido e descontrolado dos lípidos. Em consequência verifica-se na população portuguesa uma elevada prevalência na Síndrome Metabólica, uma síndrome que engloba a existência de triglicéridoshipertensão arterialobesidadecolesterol, etc.

As consequências do não controlo destes factores continuam a custar muito caro a todos, quer em custos directos quer indirectos e, por isso, são considerados um grave problema de saúde pública.

Segundo Pedro Marques da Silva, internista do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, “nestes indivíduos é necessária uma abordagem multidisciplinar incluindo medidas não farmacológicas, como seja o exercício físico, hábitos alimentares saudáveis, controlo do peso e do perímetro abdominal, mas também medicamentos se necessário, pois estes doentes têm um elevado risco cardiovascular”.

São várias as “receitas” indicadas e/ou aconselhadas para a prevenção das doenças cardiovasculares. Os ácidos gordos ómega 3 são, conforme indica a medicina baseada na evidência, uma excelente opção. No entanto, na opinião de Pedro Marques da Silva, “ouve-se actualmente falar muito dos ácidos gordos ómega 3 em diferentes mas também errados conceitos. Nessa medida, especialistas alertam para a importância de fazer a destrinça entre suplementos nutricionais e medicamentos e as funções de cada um.

Medicamentos vs suplementos

Os ácidos gordos ómega 3 são um tipo de gordura sem a qual o nosso organismo não funciona adequadamente. Por essa razão, este ácido gordo é chamado de “essencial” e deve ser incluído na dieta alimentar, através de alimentos ricos nesta substância, como medida preventiva. Contudo, “existem no mercado os chamados suplementos com ómega 3, que se apresentam com doses e concentrações inferiores, interferem com factores individuais, como a capacidade de absorção, a interacção com outros medicamentos, o tipo de alimentação, etc., no entanto, os seus benefícios não estão comprovados”, explica Pedro Marques da Silva, sublinhando que são substâncias diferentes.

Também a indústria alimentar promove os benefícios de determinados alimentos ricos em ómega 3, que para os especialistas servem apenas como suplemento dietético. A indústria alimentar tem, segundo o especialista, que continuar a responder de forma positiva a estas questões novas de modelação dos nossos alimentos. “É falta de senso, por exemplo, haver batatas fritas ricas em ómega 3, quando falamos de um alimento rico em gordura e com elevado teor calórico”.

Para Pedro Marques da Silva é importante que “a população tenha presente que o impacto desses alimentos funcionais, nomeadamente os enriquecidos em ómega 3, é diminuto. Não têm qualquer interesse como intervenção farmacológica, porque para esse efeito apenas os medicamentos têm propriedades para intervir”.

Assim, torna-se imperativo diferenciar aquilo que são suplementos alimentares, sem qualquer função terapêutica, os alimentos ricos em ómega 3, onde não se incluem os promovidos pela indústria alimentar e o ómega 3 medicamento, administrado por profissionais de saúde e vendido sob receita médica.

Os especialistas alertam que quando se divulga as vantagens de determinados produtos, como manteigas ou iogurtes, por serem ricos em ómega 3, estamos no mundo da fantasia. Ou seja, não há estudos que demonstrem ou evidenciem esses benefícios. Para já é puro marketing. Ao contrário, um estudo publicado no Journal of the American College of Nutrition concluiu que a dose cardioprotectora de ácidos gordos omega-3 recomendada pela American Heart Association (AHA) - 1000mg diários de ácidos gordos omega-3 DHA (ácido docosahexanóico) e EPA (ácido eicosapentaenóico) - pode diminuir os valores de triglicéridos mas são também, anti-agregantes plaquetários (evitam a aterosclerose), são anti-arrítmicos (principal causa dos enfartes do miocárdio), são anti-trombóticos e anti-inflamatórios.

“Os resultados do mesmo estudo evidenciam que a administração deste medicamento é capaz de modificar a placa aterosclerótica, a base das principais causas de mortalidade em Portugal”, refere o especialista, acrescentando, que consegue baixar os triglicéridos e subir os níveis do chamado bom colesterol e reduzir a tensão arterial. Pode, ainda, funcionar como factor de prevenção primária, ou seja, evitar que surjam alterações metabólicas. 

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Nota: 
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