Já ouviu falar na Doença de Lyme?
Segundo o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Doença de Lyme, também designada por Borreliose de Lyme, é uma doença infeciosa causada por bactérias do complexo Borrelia burgdorferi.
“As borrélias são microrganismos pertencentes a uma vasta família de bactérias em forma de espiral designadas por espiroquetas. Estas são transmitidas aos humanos e animais através da mordedura de carraças infetadas, principalmente do género Ixodes” (1), esclarece o Instituto, acrescentando que embora existam várias espécies de borrélias nem todas transmitem a doença.
Em Portugal são conhecidas pelo menos cinco espécies patogénicas, “nomeadamente B. burgdorferi sensu stricto, B. afzelii, B. valaisiana, B. garinii e B. lusitaniae, esta última, foi isolada pela primeira vez no nosso país, em 2003, da pele de um doente” (2).
Embora tenham sido notificados casos na Europa e na Ásia, a doença de Lyme é mais frequente na América do Norte, onde se estima que, todos os anos, ocorram 300 mil casos.
Sintomas
Os sintomas da doença de Lyme desenvolvem-se em classicamente em estágios, com períodos de remissão e exacerbação e acometimento de diferentes sistemas. Com manifestações clínicas que podem ser muitos variadas, a doença pode acometer um único sistema ou condicionar um comprometimento crónico de pele, nervos e articulações.
Estágio 1: infeção precoce ou localizada
Nesta fase, a manifestação clínica mais importante é o desenvolvimento de «rash» cutâneo característico, chamado de eritema migrans. Em 70 a 80% dos casos, o «rash» surge entre 3 a 32 dias no local da picada da carraça, embora, muitas vezes, os pacientes não se lembrem do momento da infeção.
Trata-se de uma mancha que se expande lentamente até um diâmetro de 50 cm, muitas vezes com uma zona clara no seu centro. No entanto, o seu aspeto pode variar. Por exemplo, o centro pode permanecer vermelho, ou podem surgir vários anéis ao redor do centro vermelho (conferindo o aspeto de alvo). Apesar do eritema migratório não dar comichão nem doer, ele pode ser quente ao toque.
Estima-se que cerca de 25% das pessoas infetadas nunca apresentam ou pelo menos nunca notam a mancha vermelha característica.
Coxas, virilha e axilas são as áreas do corpo mais atingidas.
Eritema Migratório, característico da doença de Lyme. FOTO: MSD Manuals
Estágio 2: infeção disseminada precoce
Dias ou semana após o aparecimento do eritema migratório, podem surgir outrso sintomas como cansaço, arrepios, febre, dores de cabeça, rigidez no pescoço, dores musculares e articulações doridos e inchadas. Estes sintomas da doença de Lyme podem perdurar por semanas.
Neste estágio, o eritema pode surgir em outras partes do corpo, embora apresentando dimensões menores. Com menos frequência, as pessoas podem apresentar dor nas costas, enjoos, vómitos, dor de garganta, linfonodos inchados e aumento do baço.
Apesar de a maioria dos sintomas poder aparecer e desaparecer, a sensação de mal-estar e cansaço pode durar semanas. Esses sintomas podem ser confundidos com gripe ou outras infeções virais comuns, especialmente se não houver a presença de eritema migratório.
É nesta fase também que pode desenvolver-se sintomas mais graves, com acometimento o sistema nervoso central. Estima-se que 15% dos doentes desenvolva meningite e paralisia de Bell, que causa fraqueza em um ou em ambos os lados da face).
Problemas cardíacos, como arritmia, miocardite, ou pericardite, afetam cerca de 8% dos doentes.
Estágio 3: infeção persistente ou tardia
Se a infeção inicial não for tratada, outros problemas começam a se desenvolver meses ou anos mais tarde.
A artrite afeta mais de metade das pessoas, geralmente dentro de vários meses. O inchaço e a dor geralmente atingem algumas das grandes articulações, em particular nos joelhos, durante vários anos. Os joelhos ficam geralmente mais inchados do que doridos, geralmente quentes ao toque e, em casos raros, avermelhados. Cerca de 10% das pessoas com artrite apresentam problemas nos joelhos que persistem mais de 6 meses.
Por outro lado, está descrito que algumas pessoas desenvolvem anormalidades relacionadas ao mau funcionamento do cérebro e dos nervos. Humor, fala, memória e sono podem ser afetados. Algumas pessoas sentem dormência, formigueiro ou dor pontiaguda nas costas, pernas e braços.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na erupção cutânea e nos sintomas típicos, na oportunidade de exposição a carraças e nos exames de sangue para detetar anticorpos contra a bactéria.
“Geralmente, os médicos realizam testes que medem os anticorpos contra as bactérias no sangue. (Anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico para ajudar a defender o corpo contra um ataque específico, incluindo o da Borrelia burgdorferi.) No entanto, os anticorpos podem estar ausentes se o teste for realizado durante as primeiras semanas da infeção ou se forem administrados antibióticos antes que os anticorpos se desenvolvam” (3).
Tratamento
Embora todas as etapas da doença de Lyme respondam aos antibióticos, o tratamento precoce tem mais probabilidade de evitar complicações.
“Antibióticos como a doxiciclina, amoxicilina ou cefuroxima, tomados por via oral durante duas a três semanas, são eficazes durante os estágios iniciais da doença. Se a doença for identificada em seu estágio inicial, eventualmente as pessoas precisarão de tratamento por apenas dez dias. Se as pessoas não puderem tomar nenhum desses medicamentos, às vezes a azitromicina é usada, mas ela é menos eficaz” (4).
Referências:
1 e 2 - Instituto de Higiene e Medicina Tropical
3 e 4 - Manuais MSD