Stress é uma das maiores causas para o desequilíbrio hormonal e cutâneo

Já ouviu falar em Psicodermatologia? Relação entre mente e pele?

Atualizado: 
30/05/2023 - 09:49
Existem cada vez mais estudos sobre a relação entre a saúde mental e a pele: a parte da ciência que tem estudado este assunto é a Psicodermatologia.

Todos nós no nosso dia-a-dia já experienciamos alguns sinais de que a nossa pele e o nosso cérebro têm uma relação muito próxima. Por exemplo, já todos sentimos o rosto ficar mais vermelho quando sentimos vergonha ou ficarmos com a “pele arrepiada” quando sentimos uma emoção mais forte. Estas são manifestações mais curtas e momentâneas, mas temos também situações em que a manifestação das emoções na pele tem consequências mais duradouras. Por exemplo, quando estamos numa fase de maior stress e, por consequência, aparecem algumas espinhas (também chamadas de comedões) na nossa face. 

E porque é que isto acontece? Em momentos de stress o corpo ativa sistemas neuroendócrinos que libertam diferentes hormonas que permitem que o organismo se adapte ao stress. Esta resposta pode ter diferentes consequências, não apenas na sua saúde física, mas também na pele. Esta reação hormonal e imunológica do organismo pode exacerbar doenças de pele, resultando num ciclo vicioso que prejudica significativamente a qualidade de vida de um paciente.

Para  além do stress, a ansiedade, a tristeza e a angústia podem também levar ao aparecimento de problemáticas na pele. Podem até surgir doenças de pele mais severas como, por exemplo, dermatite, psoríase ou queda capilar. Esta relação íntima entre a pele e a mente pode dever-se à origem embrionária de ambos os órgãos ser comum, a ectoderme.

Vários estudos relatam altas taxas de prevalência de depressão e ansiedade em pacientes diagnosticados com acne, chegando estas taxas a 40%, com casos de suicídio na ordem dos 6-7%, segundo um estudo feito em 2012. 

Outro artigo, uma revisão sistemática realizada em 2020 (“Acne vulgaris and risk of depression and anxiety: a meta-analytic review”) que incluiu 42 estudos, que revelou altas taxas de prevalência de depressão e ansiedade entre pacientes com acne e mostrou ainda uma alta associação de acne com depressão e ansiedade entre adultos. Um outro estudo revelou ainda que ansiedade e os sintomas depressivos foram mais prevalentes em pacientes com doença dermatológica (39,5% pacientes com psoríase e 30,2% com acne).

A relação entre as patologias dermatológicas e o estado psicológico dos pacientes tem sido demonstrado, tendo sido verificado que existe um impacto negativo não só nas suas atividades diárias, mas também nos seus relacionamentos e interação social, com prejuízo muitas vezes das suas funções laborais.

Assim sendo percebemos que a patologia cutânea pode ter um impacto psicológico, mas também vemos a relação inversa, onde se percebe que o estado emocional pode ter consequências na pele. Ou seja, pode existir uma relação de causa ou de efeito, a patologia de pele pode ser a causa de patologia mental, mas também pode ser a consequência, pois sabemos que alguns estados de stress são o motivo para o surgimento deste tipo de reações cutâneas.

É aqui que entra a psicodermatologia que, no fundo, é uma disciplina que permite ajudar os pacientes com patologia de pele crónica a lidar com a ansiedade e o estigma social relacionado com a sua doença, além de intervir diretamente na diminuição do stress que gera ou piora a sintomatologia cutânea, tratando tanto a causa como o efeito.

Esta disciplina integrativa tem mostrado melhor a forma como relacionamos a mente e a pele, e muitos laboratórios têm incorporado nos seus produtos esta ligação.

Por exemplo, a empresa Lilfox tem relacionado a aromaterapia no skincare com a capacidade de “desestressar” a pele, ajudando a melhorar a sua qualidade.

O lema da marca é o “Intelligent Skin Couture”, em que explicam como constroem um produto com base em “óleos orgânicos, manteigas não refinadas, argilas de terras raras e hidrossóis de alta vibração com óleos essenciais aromáticos, cristais carregados pela lua e energias vegetais vibrantes”, conforme descrito no site da própria marca.

Quando pesquisamos por um óleo da marca e vamos aos detalhes do produto percebemos que a base da aromaterapia está em cada produto. A título de exemplo coloco a descriminação de um dos óleos da marca - ORANGE  BLOSSOM  YLANG  BANG: “sorriso, aromas brilhantes para socializar, seduzir e solidão. Uma mistura sexy de folha de chá verde, laranja amarga brilhante, toranja rosa, ylang ylang Madagascan com uma pitada de capim-limão zesty.”

Outra marca em voga neste contexto é a Dr. Brandt, conhecida pela coleção de produtos cosméticos inspirados em procedimentos em consultório,sendo o objetivo principal "Leve o médico para casa" ao adquirir os seus produtos. A marca defende a relação entre a mente e a pele e tem, inclusive, uma Fundação que se dedica a apoiar a saúde mental e o bem-estar da comunidade, assim como a conscientizar sobre questões de saúde mental, como depressão e prevenção do suicídio. O uso de ingredientes como a cafeína tem sido defendido pela marca com o objetivo de combater os efeitos do stress na pele. 

De forma resumida percebemos que o stress é uma das maiores causas para o desequilíbrio hormonal e cutâneo. Então é importante controlar os fatores stressantes para melhorarmos a qualidade da nossa pele. Ficam algumas dicas:

  • Diminua o consumo do açúcar: os hidratos de carbono refinados induzem picos de insulina que levam a inflamação do organismo, estando estes também relacionados com o envelhecimento precoce da pele;
  • Evite o álcool: este pode exacerbar certas patologias de pele como a rosácea, psoríase ou eczema, motivo pelo qual deve ser evitado;
  • Deixe de fumar: além de potenciar o surgimento de patologias como o cancro de pele, o tabaco influencia negativamente o microbioma da pele, potenciando o surgimento de infeções além de promover o envelhecimento precoce;
  • Faça exercício: um estilo de vida ativo melhora o estado da saúde mental. Estudos referem que exercícios como ioga e meditação são benéficos e melhoraram a ansiedade e stress;
  • Procure dormir bem: estudos revelam que o número de horas que dormimos podem interferir na forma como a nossa pele se regenera. A síntese de colágeno ocorre essencialmente durante a noite, motivo pelo qual devemos preservar idealmente entre sete a nove horas de sono diárias.
  • Adapte a rotina de skincare: manter uma rotina com limpeza, hidratação, prevenção e proteção é essencial. Esta rotina deve ser adaptada ao tipo de pele e à patologia cutânea, se existente. Um médico com formação nesta área pode ajudar a ajustar o skincare, e lembre-se que a sua pele muda ao longo do tempo e pode ser necessário ajustar esta rotina regularmente.

Autor: 
Dra. Juliana Pais - Master em Medicina Estética e antienvelhecimento; Diretora Clínica da Laser Clinic e Coolskin
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Freepik