Doença benigna com grande impacto na qualidade de vida

Já ouviu falar em Polipose Nasal?

Atualizado: 
27/04/2021 - 12:06
Se sofre permanentemente de congestão ou secreção nasal excessiva, se costuma ter dores de cabeça ou na face e sente que tem perda de olfato ou paladar, pode muito bem sofrer de Polipose Nasal - uma doença benigna que provoca o desenvolvimento de pólipos nasais e que está frequentemente associada à inflamação crónica das vias aéreas.

Pouco conhecida, e com sintomas que facilmente podem ser confundidos com uma simples constipação ou alergia, não é improvável que a Polipose Nasal possa encontrar-se subdiagnosticada. No entanto, esta patologia apresenta um grande impacto na qualidade de vida dos doentes pelo que não deve ser subvalorizada nem negligenciada.

Se nunca ouviu falar nesta doença, a especialista em imunoalergologia, Ana Reis Ferreira, explica o essencial sobre o tema, nomeadamente os sinais a que deve estar atento: “a Polipose Nasal é uma doença caracterizada pelo aparecimento de pequenos tumores benignos (pólipos) dentro das cavidades nasais e dos seios peri-nasais (cavidades que existem à volta das fossas nasais). Estes tumores causam obstrução do nariz” e levam ao desenvolvimento de sintomas como “nariz entupido permanente, tendo os doentes que respirar pela boca pois o ar não consegue passar pelo nariz; ausência de olfato e por vezes de paladar; dores de cabeça tipo peso ou pressão na região da testa e/ou sobrancelhas e dor na face; e secreções nasais frequentes, por vezes com mau cheiro, que resultam da infeção nos seios perinasais”.

“Como se pode verificar pela descrição dos sintomas, é como ter uma constipação forte que nunca resolve. Estes sintomas têm uma grande interferência no sono (devido à obstrução permanente do nariz) e um grande impacto na qualidade de vida - já imaginou não conseguir sentir o cheiro ou o sabor dos alimentos?”, acrescenta a especialista.

De acordo com Ana Reis Ferreira, “os pólipos nasais surgem habitualmente quando existe rinossinusite, ou seja, inflamação crónica das cavidades do nariz”. Esta inflamação pode ser causada por alergias (rinite alérgica) ou por alterações estruturais do nariz. No entanto, salienta que “a polipose nasal é mais frequente nos doentes com asma, especialmente nos que também apresentam hipersensibilidade aos anti-inflamatórios”, contribuindo para o agravamento e difícil controlo desta doença crónica.

Embora a Polipose Nasal possa surgir em qualquer faixa etária, a especialista adianta que, na infância, os casos são raros e estão associados a doenças mais graves como a fibrose quística. De um modo geral, esta doença benigna é mais frequente acima dos 40 anos.

O seu diagnóstico “é baseado nos sintomas do doente, na visualização de pólipos nas cavidades nasais e nos resultados na tomografia computorizada (TAC) dos seios peri-nasais”, no entanto, a especialista adverte que a maioria dos casos só são identificados em fases avançadas e mais difíceis de tratar. “Quando os pólipos se começam a desenvolver nas cavidades nasais, o doente sente obstrução do nariz, dor de cabeça e diminuição do olfato, que vão agravando com o tempo. Mas como estes sintomas são muitas vezes confundidos com uma constipação, os doentes tendem a desvalorizar os sintomas e habitualmente só procuram o médico quando a doença já é bastante extensa e mais difícil de tratar”, assinala. Por isso, há que estar atento!

No que diz respeito ao tratamento, a imunoalergologista revela que este passa, inicialmente, “pelo uso de sprays nasais contendo anti-inflamatórios (corticoides)”. “Se o tratamento falhar, poderá ser necessário realizar cirurgia para remoção dos pólipos”, acrescenta. Esta consiste “na retirada dos pólipos das cavidades nasais e limpeza dos seios perinasais, visto que a polipose nasal está habitualmente associada a infeção nos seios perinasais. Nos doentes com alterações na estrutura do nariz que podem facilitar o desenvolvimento de rinossinusite e pólipos nasais (desvio do septo nasal, por exemplo), estas alterações também são corrigidas cirurgicamente, para diminuir o risco de recidiva”.

No entanto, e uma vez que os pólipos têm tendência a recidivar, há casos em que “poderá estar indicada a prescrição de fármacos biológicos, como o Dupilumab, que vão controlar as alterações imunológicas que levam à formação dos pólipos, diminuindo o seu tamanho e/ou impedindo as recidivas após a cirurgia”.

Entre os principais cuidados, a especialista alerta para a necessidade de seguir o plano terapêutico proposto pelo médico, bem como outras recomendações, “mantendo tratamento e seguimento regulares, para evitar a progressão da doença”.

Importa ainda referir que, apesar desta ser uma doença benigna e “causar grande mal-estar e diminuição da qualidade de vida dos doentes, não tem habitualmente tendência à malignização”. No entanto, não deve ser desvalorizada: “a polipose nasal é uma doença crónica que interfere de forma muito negativa na vida dos doentes, diminuindo a qualidade do sono e o seu descanso, a sua produtividade no trabalho e aumentando a gravidade outras doenças, como a asma. Para além disso, retira ao doente a capacidade de desfrutar dos pequenos grandes prazeres da vida, como apreciar uma saborosa refeição ou sentir o cheiro de um bolo acabado de sair do forno”, reforça Ana Reis Ferreira.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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