Intolerância ao calor como sinal de alerta para uma tiroide desregulada
A intolerância ao calor pode ser uma manifestação de uma disfunção da glândula tiroideia, mais concretamente o hipertiroidismo. “As hormonas tiroideias (T3 e T4) controlam todas as funções do organismo, no qual se inclui a regulação da temperatura corporal. Ao funcionar corretamente, a tiroide é capaz de responder às mudanças de temperatura, ajustando de forma apropriada a taxa metabólica basal e libertando hormonas para promover a libertação de energia ou a retenção de calor, mantendo assim o corpo com uma temperatura confortável e funcional. No entanto, quando a tiroide não está a funcionar adequadamente, o corpo perde muita da sua capacidade de regular a temperatura”, começa por explicar Sara Correia do serviço de Endocrinologia do centro hospitalar Gaia / Espinho.
No hipertiroidismo, acrescenta, “ocorre uma libertação excessiva de hormonas tiroideias, o que provoca um metabolismo celular acelerado, resultando em múltiplos sintomas, incluindo a sensibilidade ao calor, que é independente da época do ano e persistente, caso não seja realizado o tratamento adequado”.
No entanto, há outros sinais aos quais deve estar atento e que compõe o quadro desta disfunção, como é o caso das alterações do humor, irritabilidade, agitação, perda inexplicada de peso apesar de aumento do apetite, tremor, suores, palpitações, diarreia, irregularidades menstruais e aumento do volume cervical (bócio). “Quando a intolerância ao calor é mais exagerada que o habitual, prolongada e principalmente se surgir acompanhada de outros sintomas, deve aumentar a suspeita de puder tratar-se de um hipertiroidismo, pelo que dirigir-se ao seu médico assistente”, aconselha a médica especialista.
Afetando maioritariamente as mulheres, de qualquer idade, o Hipertiroidismo surge, em grande parte dos casos, na sequência de uma doença autoimune da tiroide, designada de Doença de Graves e cujo o pico de incidência se situa entre os 30 e os 60 anos. Esta doença caracteriza-se pela presença de “anticorpos produzidos pelo organismo que atuam na tiroide e estimulam o aumento da síntese das hormonas tiroideias”.
“Outra causa relaciona-se com nódulos na tiroide que autonomamente podem produzir excesso de hormonas tiroideias. Com um excesso de T3 e T4, o organismo fica “acelerado”, podendo causar “exaustão” em alguns dos órgãos, nomeadamente no coração”, explica Sara Correia, advertindo para o facto do seu diagnóstico ser realizado o mais atempadamente possível.
Quanto ao seu tratamento, diz a especialista, este deve ser adequado a cada caso. “A escolha do tratamento varia, dependendo das características clínicas e eventuais preferências do doente”, afirma.
Deste modo, refere que “no caso da Doença de Graves, o tratamento pode incluir: uso de fármacos antitiroideus de síntese, como o metibasol, utilizados para normalizar a produção de T3 e T4, e em casos refratários pode-se realizar tratamento com iodo radioativo ou cirurgia de remoção da tiroide”.
Por sua vez, “o tratamento dos nódulos autónomos quase sempre obriga a terapêutica com iodo”, acrescenta referindo que “há ainda fármacos (bloqueadores beta adrenérgicos) que podem ser utilizados temporariamente para controlar os sintomas de hipertiroidismo”.
Para quem já tem o diagnóstico desta disfunção da tiroide, Sara Correia deixa alguns conselhos para que evite outros problemas associados a esta época do ano:
“Com o aumento do calor, o organismo procura baixar a temperatura do corpo através da transpiração. Mas se este objetivo não for alcançado, pode haver golpes de calor, esgotamento devido ao calor, cãibras e desidratação”, por isso é fundamental manter-se hidratado, fazer refeições ligeiras, proteger-se do calor, evitar a exposição solar direta e prolongada, sobretudo nos períodos de maior calor (entre as 11 e as 17 horas), usar roupa fresca e leve e sempre que possível preferir locais climatizados.
“O excesso de hormonas tiroideias em circulação provoca um aumento no metabolismo, ou seja, na velocidade a que o organismo funciona. O metabolismo acelerado provoca uma maior libertação de calor, o hipotálamo (termóstato do nosso corpo) também está desregulado para uma temperatura superior, tornando todo o corpo mais quente. A pele torna-se mais quente, avermelhada (por aumento da circulação sanguínea) e suada. Assim, os doentes com hipertiroidismo têm grande intolerância ao calor”, estando mais sujeitos aos efeitos nefastos do calor.