Insuficiência Cardíaca: a que sinais devo estar atento?
A insuficiência cardíaca é uma forma de doença avançada do coração, em que o músculo do coração está cansado e por esse motivo não consegue bombear o sangue com eficácia. É habitualmente consequência de outras doenças do coração, a mais frequente o enfarte do miocárdio, uma vez que a morte das células do músculo do coração, transformam-se em cicatriz e esta não tem capacidade de contração. Pode ser também causada por doenças das válvulas do coração, quer pela existência de apertos ou por fugas dessas válvulas. Numa menor percentagem de casos, pode ser de causa hereditária ou ser causada por doenças mais raras, como infeção do músculo do coração, consumo exagerado de bebidas alcoólicas ou tratamento oncológico.
Dada sua gravidade, Ana Timóteo, Cardiologista e Secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, alerta para a necessidade de prevenir os principais fatores de risco associados a doença cardiovascular: hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes, tabaco, excesso de peso, sedentarismo. É que, embora esta seja mais frequente em indivíduos mais idosos, há cada vez mais casos diagnosticados em pacientes jovens, em consequência de um estilo de vida pouco saudável.
Atenção aos sintomas!
Para além do cansaço, falta de ar ou inchaço nos membros inferiores, a cardiologista revela que a insuficiência cardíaca pode apresentar outras manifestações como “dificuldade em dormir por falta de ar quando deitado, tosse, inchaço da barriga”, pelo que deve ficar atento. “O aparecimento destes sintomas, em particular na ausência de outra causa aparente que os explique, deve levar o doente a procurar ajuda médica junto do seu médico assistente”, afirma a especialista.
Após uma avaliação detalhada do doente, “na pesquisa dos sintomas ou das causas associadas a insuficiência cardíaca e na identificação de sinais específicos pela observação”, os exames complementares de diagnóstico, como o eletrocardiograma, são essenciais para identificar a doença. Segundo Ana Timóteo, é importante ainda avaliar as concentrações dos péptidos natriuréticos – hormonas produzidas no coração e que possuem propriedades diuréticas, natriuréticas e vasodilatadoras – que, em caso de Insuficiência Cardíaca, se encontram aumentadas.
Em caso de suspeita da doença, “estes indivíduos devem também fazer um ecocardiograma que é uma ecografia ao coração que permite confirmar que a bomba do coração está a funcionar adequadamente e eventualmente identificar a causa da falha da bomba”, explica a representante da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
Para além das causas, tratamento depende da gravidade da doença
De acordo com Ana Timóteo, quando a causa da Insuficiência Cardíaca está relacionada com um fator externo, “como as bebidas alcoólicas, os tratamentos do cancro, a hipertensão arterial”, estes devem ser suspensos ou controlados de imediato. São também importantes medidas gerais como a redução de consumo de sal.
“Depois, o tratamento passa por medicamentos, alguns para reduzir a acumulação de líquidos e vários outros que podem melhorar os sintomas e o prognóstico da doença, bem como melhorar a qualidade de vida e reduzir os internamentos hospitalares”, adianta.
Alguns doentes podem necessitar da colocação de aparelhos “semelhantes aos pace-makers” e, em casos mais avançados da doença, pode ser necessária a transplantação do coração.
Os doentes com formas de Insuficiência Cardíaca mais ligeiras, “podem ser acompanhados pelo seu médico de família ou cardiologista. Nas formas mais avançadas, o acompanhamento deverá ser realizado em unidades especializadas”.
Embora esta seja uma forma avançada de doença do coração, explica a médica especialista que “com recurso aos tratamentos referidos, a situação pode ficar controlada, nomeadamente quanto ao controlo dos sintomas”.
Não obstante, há que salientar que o seu prognóstico é variável e que as infeções são uma importante complicação associada à doença, podendo “motivar descompensações, a maioria delas levando a internamento hospitalar”.
Por outro lado, salienta Ana Timóteo, o não cumprimento das recomendações médicas, “nomeadamente da medicação prescrita”, podem comprometer o prognóstico deste quadro. “Também o incumprimento de outras medidas, como a restrição de sal nos alimentos pode causar descompensação. Por fim, existe uma série de outras doenças associadas, como anemias, arritmias, crises de tensão arterial muito elevada, que podem também contribuir para a descompensação da insuficiência cardíaca”, esclarece a especialista.
Entre as principais regras para conviver com a doença, a cardiologista destaca:
- Reduzir o sal na alimentação;
- Completa abstinência de bebidas alcoólicas;
- Uma dieta rica em legumes, fruta e peixe, evitando carnes mais gordas ou derivados do leite mais gordo e os alimentos com muito açúcar;
- Controlo rigoroso da tensão arterial, diabetes e do colesterol;
- Deixar de fumar;
- Algum exercício físico adaptado á situação clínica de cada individuo;
- Cumprimento rigoroso da medicação indicada pelo seu médico;
- Autovigilância de aparecimento de sintomas que podem indicar agravamento da situação, como aumento de peso, aparecimento de inchaço nas pernas, falta de ar, agravamento de cansaço;
- Vacinação contra a pneumonia e vacinação anual contra a gripe, uma vez que estas infeções agravam a situação e são causas frequentes de internamento nestes doentes.