Insuficiência Cardíaca e Diabetes
As complicações cardiovasculares são umas das comorbilidades mais importantes da Diabetes, estimando-se que, quando não tratadas, sejam responsáveis pela morte de sete em cada 10 doentes diabéticos. A insuficiência cardíaca é uma das entidades clínicas associadas à doença. No entanto, ainda são muitos os que desconhecem esta relação.
De acordo com as explicações da cardiologista, Sara Gonçalves, a diabetes é um importante fator de risco para a doença coronária, que está na origem da Insuficiência Cardíaca. “Por outro lado, sabe-se que, mesmo na ausência de doença coronária, a presença da diabetes mellitus origina alterações do metabolismo das células cardíacas alterando o seu normal funcionamento e levando a uma entidade clínica que chamamos de Cardiomiopatia Diabética, que condiciona também a presença de Insuficiência Cardíaca”, acrescenta quanto à relação entre as duas patologias.
Altamente debilitante, quando não tratada, a Insuficiência Cardíaca pode condicionar a qualidade de vida dos doentes, e conduzir à morte, pelo que é essencial que estejam atentos aos sinais: “cansaço, falta de ar (inicialmente quando se fazem atividades como caminhar ou subir escadas e em fases mais avançadas mesmo para pequenos esforços ou em repouso), falta de ar que agrava na posição deitada e/ou edema dos membros inferiores”.
“A Insuficiência Cardíaca é uma doença crónica, em que o coração não bombeia a quantidade de sangue suficiente por minuto para satisfazer todas as necessidades de nutrientes e oxigénio que o nosso organismo necessita para o seu bom funcionamento”, explica a especialista em cardiologia. O que significa que o coração tem dificuldade em funcionar corretamente para corresponder às necessidades do organismo (especialmente durante as atividades físicas) e simultaneamente, dificuldade em eliminar líquidos levando à sua acumulação. Por isso, “os doentes apresentam frequentemente sintomas que se devem ao facto de o sangue não chegar em quantidade suficiente aos vários órgãos e, por outro lado, sintomas secundários à acumulação de líquidos”.
Para além da Diabetes, existem outros fatores que podem condicionar o desenvolvimento desta doença, como a Doença Coronária (doença das artérias do coração que pode levar, por exemplo, a Enfarte Agudo do Miocárdio), a Hipertensão Arterial, a Hipercolesterolémia, a Obesidade, a existência de História Familiar de insuficiência cardíaca e a exposição a gentes cardiotóxicos (por exemplo, quimioterapia, álcool, radiação, anfetaminas).
Quanto ao tratamento, Sara Gonçalves revela que este depende do tipo de insuficiência cardíaca instalada. “Caso se trate de IC em que a “força” contráctil do coração se encontre diminuída (IC com Fração de Ejeção Reduzida), existe tratamento médico que ajuda no alívio de sintomas, na redução do risco de hospitalização e de morte associado à Insuficiência Cardíaca. Felizmente, a maior parte dos doentes melhora com utilização destes medicamentos, que são feitos de forma crónica e mantidos mesmo após a melhoria dos sintomas”, explica. No entanto, afirma que “para alguns doentes além deste tratamento médico é necessária a utilização de dispositivos semelhantes a “pacemakers” que ajudam o coração a contrair de forma mais eficaz (terapia de ressincronização miocárdica) e dispositivos que podem tratar arritmias graves (cardioversores-desfibrilhadores implantáveis)”. Não obstante, numa minoria de doentes “que mesmo assim permanecem sintomáticos, poderá ser necessária a utilização de terapias mais avançadas como o transplante cardíaco”.
Nos doentes em que a “força do coração está preservada” as opções de tratamento centram-se essencialmente na utilização de medicamentos que ajudam no alívio dos sintomas associados à retenção hídrica e ao tratamento das comorbilidades associadas, como a obesidade, diabetes ou hipertensão.
No doente com diabetes o tratamento da insuficiência cardíaca deve ser individualizado, uma vez que “alguns fármacos podem agravar a situação clínica do doente”. Por outro lado, explica a médica “existem várias opções terapêuticas no tratamento da diabetes, sendo que nem todas apresentam o mesmo benefício quando utilizadas no doente que apresente simultaneamente insuficiência cardíaca”. Deste modo, devem ser selecionadas as terapêuticas adequadas a cada caso, tendo em vista o melhor prognóstico destes doentes.
Em todo o caso, relembra a importância da manutenção de um estilo de vida saudável, a correta adesão à terapêutica e o acompanhamento médico regular. “O doente diabético (…) deve controlar os restantes fatores de risco cardiovasculares e discutir com o seu médico assistente quais as melhores opções terapêuticas para o seu caso e para prevenção de complicações, nomeadamente a insuficiência cardíaca e doença renal”.
Apesar dos números atualmente disponíveis não serem conclusivos, estima-se que mais de 45% das pessoas com diabetes apresentam também insuficiência cardíaca, por isso esteja atento!