Candidíase vaginal e Vaginose bacteriana

As infeções vaginais mais comuns: como prevenir e tratar para uma boa saúde sexual e reprodutiva

Atualizado: 
31/05/2023 - 14:24
De entre os diversos problemas que podem afetar a saúde sexual e reprodutiva, as infeções vaginais destacam-se como uma preocupação comum, mas muitas vezes negligenciada.

Importa compreender que a morfologia e normal funcionamento da vagina e da vulva (área genital externa) mudam ao longo do tempo. Durante as diferentes fases da vida, surgem importantes variações influenciadas sobretudo pelo estado hormonal, assim como fatores externos, como o uso de contracetivos, a atividade sexual, o uso de pensos diários e desodorizantes vaginais, a utilização de antibióticos, ou outros medicamentos com atividade imune ou endócrina, que influenciam a composição vaginal e alteram a predisposição para o desenvolvimento de desequilíbrios.

As vulvovaginites (inflamação que ocorre a nível da mucosa vulvar e vaginal) mais frequentes são a vaginose bacteriana e a candidíase, sendo as suas manifestações e tratamento distintos.

A vaginose bacteriana resulta de um distúrbio em que há substituição da flora vaginal (“bactérias boas”) por concentrações elevadas de bactérias com efeitos deletérios. São alguns fatores de risco para o seu surgimento: novos ou múltiplos parceiros sexuais, duches vaginais, tabagismo, utilização de antibióticos, stress, assim como a presença de infeções sexualmente transmissíveis, entre outros. Geralmente, manifesta-se como corrimento abundante, a maior parte das vezes com odor intenso, e desconforto vaginal que agravam nas relações sexuais. O tratamento implica a utilização de antibiótico tópico (óvulos ou creme vaginal) ou oral.

Por outro lado, a candidíase resulta da proliferação de um fungo, na maioria dos casos Candida albicans. Esta infeção é muito frequente, sobretudo quando há fatores que alteram a imunidade e/ou a flora vaginal. São exemplos a gravidez, a diabetes mal controlada, a infeção por VIH ou a utilização de certos medicamentos, com antibióticos, citostáticos ou imunossupressores. Ao contrário da vaginose, a candidíase geralmente manifesta-se com um corrimento sem odor, mas que se associa a sintomas intensos de prurido (coceira) e, por vezes, sensação de ardor, eritema vulvar (vermelhidão) e fissuras. Normalmente, alivia na menstruação. O seu tratamento passa pela toma de antifúngico oral ou aplicação local (creme ou óvulos).

É essencial, contudo, compreender que as infeções vaginais não afetam apenas a saúde física, podendo ter um significativo impacto na saúde mental, emocional e relacional da pessoa afetada. Os sintomas e receios daí resultantes podem causar constrangimento, ansiedade, assim como afetar a autoestima. Prevenir estas infeções e tratá-las quando presentes é, portanto, parte fundamental para a saúde sexual e reprodutiva como um todo.

Algumas medidas gerais que poderão ajudar a prevenir infeções vaginais são:

  1. Manter uma boa higiene íntima – utilizar produtos adequados, suaves e sem perfume, e evitar duches vaginais;
  2. Usar roupa interior de algodão – permite alguma ventilação e evita humidade;
  3. Evitar roupas apertadas e/ou sintéticas, assim como pensos diários – causam retenção de calor e humidade, propiciando o desenvolvimento de fungos;
  4. Utilizar antibióticos apenas nas situações recomendadas pelo seu médico;
  5. Utilizar métodos de barreira (ex. preservativo) quando tem relações sexuais - é a única forma de evitar as infeções sexualmente transmissíveis durante as relações.

É importante ter em conta que apesar da vaginose bacteriana e da candidíase serem as infeções vaginais mais frequentes, existem variados outros agentes causadores de doenças sexualmente transmissíveis com sintomatologia vulvovaginal, como a tricomoníase, a gonorreia, a infeção por clamídia, entre outros. Essas infeções não tratadas podem ter importantes implicações na saúde sexual e reprodutiva, podendo ser causa de doença inflamatória pélvica, aumentado o risco de dor pélvica crónica, infertilidade ou gravidez ectópica (gravidez fora do útero).

Assim, na presença de sintomas de infeção vaginal ou de fatores de risco para infeções sexualmente transmissíveis, deve procurar a observação por um médico, de forma a ter um diagnóstico correto e tratar corretamente a infeção, não só para aliviar os sintomas, mas também para prevenir eventuais consequências futuras.

E não esquecer: a prevenção, o autocuidado e a manutenção da saúde sexual reprodutiva são fundamentais para o bem-estar como um todo.

Autor: 
Dra. Carolina da Costa Gomes - Ginecologista e membro da Sociedade Portuguesa da Contraceção (SPDC)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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