Incontinência Urinária: em vez de falarem sobre o problema, mulheres tentam disfarçá-lo
Segundo os últimos dados divulgados sobre o tema, estima-se que em Portugal, apesar de 33% das mulheres acima dos 40 anos apresentarem queixas associadas à incontinência urinária, apenas uma pequena percentagem (cerca de 10%) procura o médico. Para Alexandra Henriques, Médica assistente Hospitalar Graduada em Ginecologia e Obstetrícia da Equipa de Uroginecologia do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria, há três razões para que isto aconteça: “primeiro porque têm que admitir que sofrem deste problema e muitas mulheres entendem que é normal com a idade ter incontinência e acham que não há nada a fazer; segundo não é fácil comentar com o companheiro, com familiares ou com as amigas porque é embaraçoso falar de perda de urina; terceiro quando vão ao médico, e não é diretamente questionado, este problema também é difícil de abordar (os próprios médicos podem não estar alerta para perguntar sistematicamente)”.
Entre os fatores que condicionam o desenvolvimento desta condição clínica, destacam-se “a genética; as gravidezes e os partos; o envelhecimento - sobretudo após a menopausa; a obesidade e outras condições que aumentam a pressão intra-abdominal como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crónica ou tosse crónica por tabagismo; algumas doenças como a diabetes mal controlada, doenças do colagénio; o estilo de vida e os hábitos comportamentais”. Assim, sublinha a especialista, a melhor forma de prevenir o problema é manter um estilo de vida saudável. Evitar a obesidade, não fumar manter bons hábitos miccionais (urinar aproximadamente de 2 em 2 horas ou 3 em 3 horas); evitar o consumo de estimulantes (bebidas alcoólicas, gaseificadas, comida picante, café, chocolate) e manter uma boa ingestão de água (cerca de 1,5L /dia), enumera. Por outro lado, há que manter algumas das patologias pré-existentes sob controlo. “Como a diabetes, a doença pulmonar ou doenças psiquiátricas”, acrescenta.
Como sinais de alerta, Alexandra Henriques, destaca: “perda de urina associada ao esforço (por exemplo com tosse, espirro ou riso), vontade urgente de urinar associada ou não a perda de urina, aumento do número de micções (o normal é até 7 vezes por dia) ou noctúria (acordar mais que uma vez para urinar durante a noite)”, são sintomas que a devem levar a procurar o médico.
Embora não esteja associada a complicações graves, “o mau funcionamento da bexiga pode estar associado a situações que propiciam infeções urinárias de repetição e, isso sim, poderá ser gerador de outras complicações”, no entanto a médica admite que estes casos remetem para outras situações clínicas que merecem ser investigadas.
Não obstante, a incontinência urinária tem um grande impacto na qualidade de vida das mulheres que dela sofrem, estando associada a um dia-a-dia vivido sempre com grande ansiedade. “Medo de cheirar mal, medo de ficar suja, medo de perder urina durante as relações sexuais ou medo de não conseguir encontrar uma casa de banho”, são uma constante na vida destas mulheres.
“O verão, que agora se avizinha, pode ter maior impacto na vida das pessoas que sofrem de incontinência urinária de esforço e/ou de urgência (bexiga hiperativa) essencialmente devido aos hábitos e comportamentos sociais que temos tendência a ter nesta época do ano”, acrescenta Alexandra Henriques, sublinhando que os eventos sociais geram sempre muita ansiedade. “As idas à praia, passeios no jardim, caminhadas à beira-mar, são locais onde habitualmente não existem casas de banho de fácil acesso, o que pode ser um motivo de ansiedade e desconforto para as pessoas que sofrem de incontinência”, revela.
“As viagens longas também podem constituir um problema porque há necessidade de fazer várias paragens para ir à casa de banho; esta situação pode ser bem ou mal acolhida por familiares e amigos e pode ser motivo de embaraço para a mulher”, adianta sublinhando que a ansiedade vivida agrava a sensação de urgência miccional.
De um modo geral, explica a especialista, “a incontinência urinária de esforço e/ou de urgência (bexiga hiperativa) podem melhorar através de mudanças simples no estilo de vida das pessoas, nomeadamente através da manutenção do peso ideal (alimentação e exercício físico), treino da bexiga, deixar de fumar, fisioterapia dos músculos do pavimento pélvico”.
Em todo o caso, salienta, quanto à incontinência urinária de esforço, “deve ser ponderada a necessidade de correção cirúrgica”. Já nos casos de bexiga hiperativa, podem ser indicados alguns medicamentos.
Deste modo, e reforçando a ideia de há “medidas que podem melhorar a qualidade de vida” de quem sofre de incontinência urinária, não hesite em procurar apoio médico se apresentar alguns destes sintomas.
“Para quem quiser aprofundar mais sobre o assunto existe um site, Na Bexiga Mando Eu, feito com o apoio da Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia e o site https://www.yourpelvicfloor.org/leaflets/, feito pela International Urogynecological Association, ambos têm muita informação útil sobre este tema, estão disponíveis gratuitamente e em linguagem acessível”, recomenda a especialista.