Como funciona?

A imunoterapia no tratamento paliativo do cancro do pulmão

Atualizado: 
15/10/2019 - 16:35
Estima-se que todos os anos sejam diagnosticados cerca de 40 mil casos de cancro do pulmão. A grande maioria encontra-se já em estado avançado. No entanto, a introdução da imunoterapia no seu tratamento tem possibilitado um aumento das taxas de sobrevivência.

O cancro do pulmão tem sido, desde há várias décadas, o tumor mais frequente e também o mais mortal em todo o mundo. O tabaco continua a ser o principal fator de risco, a par da exposição a agentes cancerígenos.

Tendo origem nas células responsáveis pela constituição do tecido pulmonar, existem dois grupos principais de cancro do pulmão: o cancro do pulmão de não pequenas células e o cancro do pulmão de pequenas células.

Entre estes, o primeiro é o mais frequente (correspondendo a mais de 80% dos casos) e também aquele que apresenta melhor prognóstico. Este tipo de cancro geralmente cresce e metastiza de forma mais lenta, quando comparado com o cancro de pequenas células – um tipo de tumor mais raro (15% dos casos) e também mais agressivo.

De acordo com Ana Rodrigues, Assistente Hospitalar em Oncologia Médica no IPO-Porto, a idade média de diagnóstico situa-se entre os 60 e 90 anos. Tosse prolongada, ou alteração das características da tosse (no caso dos fumadores), dispneia, dor torácica, astenia (cansaço/fadiga) e anorexia (perda de peso acentuada) estão entre os principais sintomas.

O seu tratamento depende do estadiamento do tumor e pode incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia, em sequência ou combinadas.

A imunoterapia, embora não sendo uma opção de tratamento para todos os doentes oncológicos, têm vindo a ser cada vez indicada para o tratamento do cancro do pulmão. No entanto, e uma vez que “ainda existem situações em que o seu benefício não foi demonstrado”, diz a oncologista, “é necessário contextualizar o estado geral do doente e as suas comorbilidades”.

“A imunoterapia consiste em libertar um travão no nosso sistema imunológico de forma a que sejam as nossas próprias células imunitária a combater o cancro”, explica a Assistente hospitalar do IPO-Porto, acrescentado que esta serve antes como um complemento, “ou mais uma opção terapêutica a adicionar ao arsenal limitado de tratamentos que dispomos no contexto paliativo”, pelo que não substitui a radioterapia ou quimioterapia, embora seja, “regra geral (…) bem tolerada, compatível com uma vida diária sem grandes limitações”.

Entre os principais efeitos secundários, a especialista destaca os processos inflamatórios. “Por vezes, as nossas células imunitárias reconhecem como estranho células normais, desencadeando inflamações”, explica referindo que, muito embora, quase todos os tecidos saudáveis possam ser afetados, as glândulas, a pele, o intestino e o pulmão são os mais atingidos pelos seus efeitos.

Não obstante, a sua utilização tem permitido a estes doentes sobreviver à doença durante mais tempo. “O ensaio Keynote 001, atualizado na ASCO 2019, demonstrou que com a introdução da imunoterapia no tratamento paliativo do cancro do pulmão, não pequenas células, a sobrevivência global aos 5 anos foi de 23%”, revela a oncologista acrescentando que estes números representam “um grande ganho” quando comparados com os 5% alcançados com a quimioterapia.

Segundo a especialista, embora se trate de um tratamento dispendioso, todos os doentes do Serviço Nacional de Saúde podem aceder a esta opção terapêutica “desde que cumpram os critérios”.

O maior entrave continuam a ser os tempos de espera para a realização de exames e início de tratamento e que comprometem “em muito o estado funcional do doente”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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