Identificação de maus-tratos em crianças pelos professores
As escolas, mais concretamente o pessoal docente e não docente, encontram-se numa posição ideal para perceber quando um aluno/a está a ter problemas. Os profissionais da escola, nomeadamente professores/as e assistentes operacionais, podem ser as pessoas que fazem a diferença na vida dos alunos e alunas que estão a viver situações problemáticas. As escolas podem constituir-se como locais de segurança e apoio para crianças e jovens mais vulneráveis. A identificação precoce das dificuldades pode levar a um apoio e a uma intervenção mais rápida e eficaz junto de crianças, jovens e suas famílias.
A prevalência de maus-tratos num contexto de vulnerabilidade, de baixo nível socioeconómico é elevada, as crianças que apresentam cuidados parentais menos adequados são aquelas que têm pior rendimento escolar. A negligência é o tipo de maus-tratos que mais afeta o aproveitamento escolar, o que parece associar-se a perturbações emocionais e comportamentais.
A desvantagem sociocultural não traduz apenas a escassez de recursos económicos, ela produz outro tipo de vulnerabilidades, tais como disfunções cognitivas, perturbações psicoafectivas, problemas ao nível psicomotor e psicolinguístico, os quais interferem com o processo de aprendizagem.
São os professores que mais tempo passam com as crianças para além da família, e têm, desejavelmente, uma comunicação positiva com elas, desempenhando um papel e uma posição de observadores privilegiados. Por estes motivos, os docentes do ensino básico reúnem as condições desejáveis para detetar situações de maus-tratos, sendo por vezes os únicos que podem dar o primeiro passo na sinalização desta problemática.
É a educação que mais sinaliza situações de risco para as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens. Os profissionais de educação têm uma posição privilegiada para o reconhecimento de casos suspeitos, identificando cerca de 35% das situações de maus-tratos ou casos suspeitos. Seria verdadeiramente importante apostar na formação dos professores sobre este tema e que na própria instituição fosse delineado um plano de sinalização e intervenção nos casos identificados como possíveis vítimas maus-tratos.
Por se tratar de um gravíssimo e complexo problema social torna-se necessário e indispensável conhecer os fatores que conduzem ao aparecimento dos maus-tratos infantis, os diferentes tipos, as principais manifestações, assim como as suas diferentes formas de apresentação e expressão. A conduta mais adequada e as medidas de prevenção, tornam-se tarefas prioritárias para compreender esta problemática e permitem planear e desenvolver estratégias de apoio e acompanhamento às crianças e respetivas famílias.
Por todas estas razões, torna-se indispensável o diagnóstico precoce dos maus-tratos e a sua adequada intervenção, para evitar uma multiplicidade de acontecimentos altamente prejudiciais no percurso de vida de uma criança maltratada.
Pais e professores, devem ensinar formas de autoproteção às crianças. Os estudos demonstraram que, quando são usadas aproximações comportamentais, tais como modelos, exposição e encorajamento social, as crianças de 0 a 6 anos podem aprender habilidades de defesa pessoal.
O abuso sexual pode ser prevenido se as crianças forem capazes de reconhecer o comportamento inapropriado do adulto, reagir rapidamente, deixar a situação e relatar a alguém o que ocorreu.
É importante ensinar o que é comportamento abusivo e como se proteger de aproximações abusivas por parte dos outros, incluindo pessoas conhecidas, e não apenas os estranhos. É fundamental, também, ensinar a criança a ser assertiva e a tomar decisões adequadas no contexto das relações sexuais e sociais, assim como seguir regras simples e concretas.
O envolvimento de educadores como agentes de prevenção é outro aspeto importante. Devido às dificuldades que uma criança apresenta para revelar aos membros da família a ocorrência de abuso sexual e, considerando-se que a maioria dos casos de abuso sexual infantil é intrafamiliar, muitas vítimas podem recorrer à ajuda ou suporte fora da família. Em virtude da acessibilidade dos professores às crianças, estes, podem ser competentes para a identificação de estratégias de intervenção com as crianças vítimas de abuso.
As crianças com menos de seis anos de idade, apresentam mais dificuldade em denunciar o abuso, porque não têm condições cognitivas e verbais necessárias para articular a violência e proporcionar memórias adequadas dos eventos. Desta forma, os professores com competência, poderiam identificar, mais precocemente, sintomas do abuso nesta faixa etária e promover uma intervenção precoce, com o intuito de evitar ou amenizar as consequências imediatas do abuso sexual.
Assim os professores devem estar atentos para alguns sinais e sintomas que podem estar associados a casos de violência contra crianças:
- Mal-estar físico
- Cansaço
- Tristeza ou afastamento dos/as colegas e atividades
- Apatia
- Evitar o toque
- Baixa autoestima e falta de confiança
- Dificuldade em prestar atenção nas aulas, em concentrar-se nos trabalhos e em aprender novas matérias
- Alterações no rendimento escolar
- Pouca ou nenhuma participação na sala de aulas e/ou em atividades de grupo
- Explosões de raiva dirigidas aos profissionais da escola, a colegas e/ou a si próprio/a e/ou à propriedade da escola e/ou colegas
- Violência ou agressão para com colegas dentro e fora da sala de aula
- Faltas às aulas
- Alterações repentinas na marcha e/ou sentar e/ou nas idas ao WC
- Medo em voltar para casa
- Fugas da escola/casa
- Feridas autoinfligidas ou mutilação
- Pensamentos e ações suicidas
- Consumo abusivo de álcool e drogas
- Lesões físicas incompatíveis com a explicação/em locais pouco comuns.
- Marcas evidentes de maus-tratos.
- Versões sucessivas e inconsistentes do mesmo “acidente”
- História de “acidentes” semelhantes.
- Fraturas e/ou lesões em diferentes graus de cicatrização.