Sintomas e complicações

A hipertensão arterial na gravidez

Atualizado: 
18/05/2020 - 12:40
A Hipertensão Arterial é uma das entidades clínicas mais frequentes durante gravidez apresentando riscos não só para a saúde da mãe, como do bebé. Neste artigo, e com a ajuda do cardiologista Carlos Rabaçal mostramos-lhe os sinais a que deve estar atenta e os cuidados a ter.

O que é a Hipertensão Arterial?

De acordo com o especialista em cardiologia, Carlos Rabaçal, a “o diagnóstico de hipertensão arterial (HTA) na gravidez não é diferente do da população em geral. Baseia-se essencialmente na medição da pressão arterial (PA) em consulta” e é definida por valores da pressão arterial iguais ou superiores a 140/90 mmHg.

No entanto, na mulher grávida, esta pode surgir sob várias formas:

  • HTA pré-existente (HTA crónica): a HTA precede a gravidez ou desenvolve-se antes das 20 semanas de gestação e, geralmente, persiste para lá do parto.
  • HTA gestacional: a HTA desenvolve-se depois das 20 semanas de gestação e, habitualmente, desaparece nas 6 semanas após o parto.
  • HTA pré-existente com sobreposição de HTA gestacional com proteinúria (HTA crónica com sobreposição de pré-eclâmpsia).
  • Pré-eclâmpsia: HTA gestacional com proteinúria significativa (>0.3 g/24h).
  • HTA inclassificável antes do nascimento: quando o primeiro registo de PA é posterior às 20 semanas de gestação e não se sabe se havia HTA pré-existente. Só a avaliação 6 semanas depois do parto ajudará a distinguir entre HTA pré-existente e HTA gestacional.

Quanto às causas, embora não se conheçam os fatores associados à hipertensão gestacional, esta é mais frequente entre as mulheres que, segundo o especialista, “têm uma história familiar pesada de hipertensão arterial crónica ou que são obesas”. Por outro lado, o facto de as mulheres engravidarem cada vez mais tarde, fumarem ou serem sedentárias contribui para elevar este risco.

Sinais a que deve estar atenta

Para além de apresentar valores elevados de pressão arterial, a grávida hipertensa pode apresentar:

  • dores de cabeça constantes, sobretudo afetando a região da nuca;
  • dores fortes na barriga;
  • alterações na visão (como visão embaciada ou turva);
  • pernas, mãos ou face inchada

Tratamento

De acordo com o cardiologista, Carlos Rabaçal, “o timing e a intensidade do tratamento farmacológico dependem dos níveis tensionais apurados”.  E explica: “a HTA gestacional classifica-se como ligeira (se a PA entre 140–159 mmHg e/ou 90–109 mmHg) ou grave (se a PA é ≥ 160/110 mmHg)”.

Nos casos de hipertensão arterial ligeira, e uma vez que, como afirma o especialista, o tratamento farmacológico “não é consensual”, a “limitação da atividade física e o repouso frequente, se possível, em decúbito lateral esquerdo podem ser benéficos”. No entanto, as recomendações são as seguintes: “grávidas com PA>150/95 mmHg devem iniciar tratamento farmacológico” e as que apresentam níveis de PA ≥ 170/110 mmHg, devem ser consideradas “em risco elevado de complicações e hospitalizadas para tratamento”.

Em caso de hipertensão arterial pré-existente, as grávidas devem manter a medicação habitual caso esta não seja contraindicada na gravidez, “devido ao potencial de efeitos adversos que provocam no feto”. “É, por isso, aconselhável seguir as indicações médicas”, refere o especialista.

“Embora não haja dados que definam, para lá de qualquer controvérsia, o nível tensional ótimo, aceita-se que as grávidas sob tratamento com fármacos anti hipertensores tenham como objetivo-alvo uma PA< 140/90 mmHg”, acrescenta quanto as valores ideias de pressão arterial.

Complicações

Segundo o especialista em cardiologia, “a hipertensão arterial gestacional é causa importante de morbimortalidade materna, fetal e neonatal, particularmente quando se complica de pré-eclâmpsia”.

Os riscos maternos incluem o descolamento da placenta e algumas doenças graves, como o acidente vascular cerebral.

No feto pode ocasionar atraso no desenvolvimento, prematuridade e morte intrauterina. A pré-eclâmpsia é uma emergência médica cujo tratamento mais efetivo é a indução do parto.

Quando há o risco de ocorrer pré-eclâmpsia?

De acordo com o cardiologista Carlos Rabaçal, “há várias condições que aumentam o risco de pré-eclâmpsia” e que podem ser agrupadas em:

  • alto risco - doença hipertensiva em gravidez prévia, doença renal crónica, diabetes, doenças autoimunes e HTA crónica;
  • risco moderado - primeira gravidez, idade igual ou superior a 40 anos, obesidade, múltiplas gravidezes e história familiar de pré-eclâmpsia.

“O conhecimento e controlo destas condições, quando possível, pode ajudar a prevenir a ocorrência de pré-eclâmpsia”, assegura o médico.

Cuidados a ter

Embora seja normal a pressão arterial sofrer oscilações durante a primeira metade da gravidez, este período carateriza-se pela presença de valores mais baixos do que aqueles que existiam antes de engravidar, e não o contrário.

Por isso, quando ocorre HTA gestacional, para além da vigilância regular da PA, “idealmente com a realização de MAPA”, a grávida deve ser mais rigorosa na adoção de comportamentos saudáveis (incluindo períodos de repouso adequado, elevação das pernas quando parada, etc.) e estar atenta a sintomas/sinais (perturbações visuais, cefaleias, dores abdominais, edemas das pernas, etc.) que traduzam risco aumentado de progressão para pré-eclâmpsia, complicação que ocorre em até 1/3 das grávidas com HTA gestacional.

“É relativamente frequente a grávida, em particular, na fase final da gravidez ter algum edema das pernas. O repouso com as pernas elevadas pode ser benéfico e eficaz. Já merece outra atenção e cuidado a edemaciação exuberante e rápida das pernas, das mãos ou da face”, explica o médico.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay