Hiperidrose: como se trata a transpiração excessiva?
Esta é uma patologia caracterizada pela produção excessiva de suor, que ultrapassa a que é necessária para a termoregulação, podendo ser acompanhada de odor desagradável, a bromidrose. O tipo de hiperidrose mais comum, a primária, caracteriza-se por uma estimulação excessiva das glândulas de suor devido a um inapropriado funcionamento do sistema nervoso autónomo, enquanto que a secundária detém uma patologia de base, como os distúrbios hormonais, neoplasias ou infeções ou secundariamente ao uso de fármacos, como os antidepressivos, causando a hiperprodução de suor.
Na hiperidrose primária, existe uma distribuição focal e bilateral, sendo as axilas a região mais afetada, seguindo-se as mãos, os pés, o couro cabeludo e as virilhas. Verifica-se que, a densidade das glândulas de suor é normal, mas parece existir uma produção excessiva de suor, bem como a existência de triggers como a ansiedade, stress, calor, exercício físico e álcool que desencadeiam esta situação.
Esta é, sem dúvida, uma patologia subdiagnosticada devido ao embaraço social e devido à subjetividade dos sintomas.
Após a exclusão das causas secundárias, o diagnóstico da hiperidrose primária baseia-se no excesso de sudorese focal, por um período mínimo de 6 meses, sem causa aparente, com pelo menos dois dos seguintes critérios: excesso de sudação simétrica e bilateral, interferência com atividades de vida diária, pelo menos um episódio por semana, idade inferior a 25 anos, história familiar positiva e ausência de sudorese durante o sono.
A primeira linha para o tratamento da hiperidrose passa pela evicção dos triggers da doença, bem como o uso de roupas largas e de fibras naturais, seguindo-se a aplicação de antitranspirantes ricos em cloreto de alumínio, de uso limitado, cerca de 6 semanas, devido aos efeitos secundários como a irritação local.
Após o insucesso das abordagens iniciais, segue-se a aplicação intradérmica de toxina botulínica, que com adequada anestesia tópica ao nível das axilas, é um tratamento bem tolerado, com uma redução significativa da produção de suor 1-2 semanas após a aplicação e durabilidade até cerca de 6 meses, altura em que o suor retorna gradualmente, podendo o tratamento subsequente ser realizado nessa altura.
O tratamento mais promissor para a hiperidrose axilar, consiste na tecnologia controlada na região das axilas de aplicação de energia térmica focada para a eliminação das glândulas sudoríparas, ex: miraDry®, podendo ser realizadas uma a duas sessões, com reduzido tempo de recuperação, tem sido das terapêuticas com maior grau de satisfação.
Ao nível das palmas e plantas, a aplicação de toxina botulínica é bastante menos tolerável, sugerindo-se a utilização da iontoforese, ex: PalmaDry®, consistindo na imersão das plantas e palmas numa tina com água ligada à corrente eléctrica, com sessões diárias de 30 minutos até controlo da sudorese, mantendo depois sessões de manutenção a cada 2 ou 3 semanas, em alguns pacientes. Efeitos secundários como, as feridas no local do tratamento podem dificultar a realização do mesmo.
Para averiguar a localização da área a tratar, bem como verificar a eficácia aos tratamentos realizados, aconselha-se a realização de testes semi-quantitativos, ex: Minor starch iodine test (teste de iodo-amido) que cora as glândulas sudoríparas.
Para os não respondedores às abordagens terapêuticas descritas, a opção cirúrgica, simpatectomia torácica, é uma opção. No entanto, o grau de complicações associada à cirurgia, bem como os efeitos secundários como a hiperidrose compensatória, ou seja, sudorese em qualquer parte do corpo que não eram habituais antes da cirurgia, ex: tronco, pernas, abdómen, coxas, virilhas, faz com que esta opção não seja habitualmente escolhida.
A hiperidrose não é uma patologia rara, tem grande impacto na vida de quem padece desta doença, pelo que requer uma atenção especial, pois pode ser uma forte causa de estigmatização social ou mesmo deter na sua base uma patologia de extrema importância e potencialmente tratável.