A fertilidade não dura para sempre. Preserve-a!
A infertilidade é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (O.M.S). Define-se como a incapacidade de um casal conceber ou levar a bom termo uma gravidez, depois de um ano de relacionamento sexual regular sem qualquer proteção. Estima-se que em Portugal, a infertilidade possa atingir cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva.
Existem diferentes causas de infertilidade, não estando sempre associadas à mulher. Cerca de 20 a 30% das situações devem-se a fatores masculinos, maioritariamente relacionadas com o número, mobilidade, qualidade e ou ausência de espermatozoides. Entre 30 a 40% das situações são por fatores femininos, tais como, alterações hormonais, ausência da ovulação, obstrução das trompas e doenças uterinas. Aproximadamente 30% das causas referem-se a ambos os elementos do casal e 5 a 10% dos casos são causas desconhecidas.
A infertilidade também pode ter uma origem genética e atualmente também está associada aos “life style factors”, como o tabaco, o álcool, as drogas, a obesidade e o sedentarismo. Por exemplo, o tabaco tem componentes tóxicos que reduzem a probabilidade de engravidar e diminuem o sucesso dos tratamentos de fertilidade.
Cada vez mais, as mulheres oriundas de países ocidentais adiam a sua primeira gravidez. Justificam esta decisão nos vários fatores como a evolução da sua formação académica, nos projetos profissionais, alegam ainda motivos de ordem financeira e de instabilidade conjugal. Além das questões sociais e económicas, é preciso ter em conta que a probabilidade de engravidar decresce com a idade, mais acentuadamente a partir dos 35 anos. Sendo a taxa de conceção natural duma mulher aos 40 anos inferior a 10%. Felizmente, é possível recorrer à Procriação Medicamente Assistida (PMA), com a ajuda de equipas multidisciplinares.
As mulheres e casais não devem ter receio ou adiar a realização de análises e exames indicados por médicos especialistas, sobretudo quando há suspeita de alguma situação. Cerca de 85% das causas de infertilidade são diagnosticadas e com os resultados é feita a abordagem e terapêuticas mais adequadas para resolução da infertilidade. Esta pode ser mais simples, como uma Indução de Ovulação ou Inseminação Artificial Intrauterina (IIU) ou recorrer a tratamentos com técnicas laboratoriais mais invasivas como a Fertilização in vitro (FIV) ou Microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides, vulgarmente conhecida por ICSI. As taxas de sucesso variam entre os 10% e os 50%, consoante os tratamentos realizados. Em 2019, 3,5% do total das crianças nascidas em Portugal resultaram destes tratamentos, segundo os dados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA).
Tem também vindo a crescer a necessidade de tratamentos com recurso a doação de gâmetas e embriões. Em Portugal, a utilização de óvulos e espermatozoides de dadores é legal, como está descrito na Lei n. º32/2006 e n. º48/2019. Existem indicações clínicas para ambos os casos. Nas mulheres, por ausência ou insuficiência congénita dos ovários, eliminação cirúrgica dos ovários, pelo envelhecimento ovárico natural ou precoce em mulheres com idade acima dos 35 e sobretudo com mais de 43 anos. Nos homens, a principal indicação é a ausência total de espermatozoides. Doenças de origem genética e tratamentos de quimioterapia (doenças oncológicas) são também indicação para o recurso de gâmetas doados. Nos tratamentos com doação de óvulos as taxas de sucesso são de 50 a 60%. Com a doação de espermatozoides, as taxas de sucesso variam entre os 20 e os 50%, consoante a técnica de Inseminação utilizada.
A incidência das doenças oncológicas em mulheres e homens cada vez mais jovens tem igualmente incrementado. O tratamento destas doenças tem como base drogas citotóxicas ou radiações que podem destruir os gâmetas femininos e masculinos, tornando a mulher e o homem inférteis. É necessário continuar a informar sobre a atual possibilidade de preservar a fertilidade, através do congelamento dos óvulos, dos espermatozoides, tecidos ovárico e testicular. A preservação da fertilidade é também indicada para doenças autoimunes, genéticas, ou noutras situações clínicas que o justifiquem. Com as mais recentes técnicas de congelamento conseguimos ter taxas de sobrevivência celular alta e também boas taxas de sucesso nos tratamentos de infertilidade.
Penso que a «take home message» é não adiar a decisão de engravidar depois dos 35 anos de idade, como melhor forma de promover a fertilidade.