Espasticidade: um dos sintomas mais frequentes após AVC
Com uma prevalência de entre 30 a 80%, a espasticidade desenvolve-se gradualmente, semanas ou mesmo meses após um AVC, e torna-se uma sequela crónica, pelo que é muito importante detetá-la e tratá-la precocemente para evitar complicações graves ou limitações funcionais que interfiram com as atividades diárias e com a qualidade de vida dos doentes. A administração de tratamentos específicos, a reabilitação e os cuidados de saúde são fundamentais para a recuperação após um AVC.
Como se pode detetar a espasticidade e quais são as suas repercussões?
A espasticidade pode ser percebida por uma sensação de rigidez ou tensão aumentada nos músculos, que pode ser acompanhada por dor e/ou espasmos. É uma importante sequela motora e está presente em muitos doentes que, após o AVC, apresentam alguma forma de sequela, embora também ocorra noutras afeções do sistema nervoso central, como na esclerose múltipla, paralisia cerebral infantil, traumatismos crânioencefálicos ou lesões da medula.
Pode ser facilmente detetada porque acarreta a adoção de posturas anormais que limitam o movimento. Manifesta-se normalmente com alguns destes padrões: abdução e/ou rotação do ombro, punho cerrado, flexão do cotovelo, pulso dobrado, antebraço pronunciado, polegar na palma da mão, joelho e ponta dos pés rígidos.
Se a espasticidade não for detetada precocemente e tratada a tempo, pode levar a limitações funcionais que interferem com as atividades diárias e têm um grande impacto na qualidade de vida do doente após AVC. Entre as principais repercussões da espasticidade figuram as seguintes:
- Limita a mobilidade, afetando, por exemplo, a deslocação, a movimentação na cama ou a facilidade em sentar-se.
- Produz dor, espasmos e contrações.
- Favorece o aparecimento de lesões na pele por pressão (chagas, úlceras…).
- Limita a destreza (comer, vestir-se, manter a higiene, escrever…)
- Favorece a deformidade articular (no braço, cotovelo, pulso, mão e perna) limitando o movimento.
Uma correta avaliação clínica é essencial para prevenir complicações
O diagnóstico precoce da espasticidade é fundamental para se poder fazer o tratamento adequado em tempo oportuno, para assim prevenir complicações. A gestão da espasticidade é complexa e requer uma equipa multidisciplinar composta, entre outros, por médicos especialistas (em medicina física e de reabilitação, neurologia, geriatria, ortopedia...), enfermeiros, terapeutas (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional...).
Esta equipa desempenha um papel crucial no trabalho com o doente e os seus cuidadores para avaliar o grau e o impacto da espasticidade, identificar os objetivos do tratamento, encaminhar para aconselhamento especializado, implementar programas de gestão, monitorizar os efeitos das intervenções e acompanhar o processo de reabilitação.
O tratamento da espasticidade inclui a combinação de várias modalidades de fisioterapia, terapia ocupacional, tratamento farmacológico (toxina botulínica, medicação oral, medicação intratecal, neurólise com fenol) e cirurgias (cirurgia ortopédica e neurocirurgia). O aconselhamento e apoio a doentes, familiares e prestadores de cuidados devem ser sempre considerados.
Em linhas gerais, os principais objetivos do tratamento da espasticidade são: melhorar a funcionalidade (marcha e mobilidade geral, equilíbrio e postura sentado e transferência para a cadeira ou para a cama) e melhorar a qualidade de vida e o nível de bem-estar do doente (alívio da dor, melhoria da qualidade do sono, facilitar os cuidados e as atividades diárias, tais como a higiene, o vestir-se e a alimentação, e aliviar o trabalho do cuidador).