Entrevista a Dr. André Ferreira, Oncologista na ULS Leiria
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1. Qual é a importância do rastreio no diagnóstico precoce do cancro da próstata e como é que pode impactar as taxas de sobrevivência?
O rastreio do cancro da próstata permite detetar a doença num estádio mais precoce, aumentando a probabilidade do tratamento ser mais eficaz. Vários estudos, em especial o European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer (ERSPC), demonstraram que o rastreio pode reduzir a mortalidade por cancro da próstata em até 20%. Contudo, estes estudos também demonstraram que o rastreio está associado a falsos positivos e a sobrediagnóstico, o que pode causar ansiedade e levar os homens a serem submetidos a métodos de diagnóstico invasivos e a tratamentos desnecessários. Assim, a realização do rastreio na idade recomendada é uma estratégia que permite uma deteção precoce do cancro da próstata, evitando o sobrediagnóstico do mesmo.
2. Atualmente, recomenda-se o rastreio a partir dos 50 anos, ou dos 45 com histórico familiar. Considera que estas idades são adequadas face à realidade atual, ou defende uma revisão para rastreio mais precoce em determinados grupos?
A Associação Europeia de Urologia recomenda o rastreio a todos os homens a partir dos 50 anos ou a partir dos 45 anos se existir história familiar. Por outro lado, a Associação Americana de Urologia recomenda que todos os homens devam realizar o rastreio a partir dos 45 anos ou a partir dos 40 anos se existir história familiar. Apesar de existir cancro da próstata em homens com idade inferior a 50 anos, sou da opinião que esse número é bastante reduzido e que não será custo-efetivo a realização de rastreio de cancro da próstata em homens com idade inferior a 50 anos sem história familiar.
3. Quais os exames de rastreio mais eficazes para detetar o cancro da próstata numa fase inicial e assintomática? Deve ser dada prioridade a algum exame específico?
O valor do PSA isolado não é um bom método de rastreio dado que o PSA pode estar aumentado em doenças prostáticas não oncológicas como é o caso da prostatite ou da hiperplasia benigna da próstata. Desta forma, os exames de rastreio mais eficazes são a combinação do PSA com métodos de imagem, como a ressonância magnética ou a ecografia prostáticas. Desta forma consegue-se determinar a densidade do PSA que corresponde ao quociente entre os níveis de PSA e o volume prostático. Quando este quociente é superior a 11%, há um maior risco de se tratar de cancro da próstata, estando nestes casos recomendada a realização de biópsia prostática.
4. Existem fatores de risco, além do histórico familiar e da idade, que devam ser considerados para recomendar o rastreio do cancro da próstata de forma mais precoce?
A raça negra aparenta ter maior tendência para desenvolver cancro da próstata comparativamente com homens de outras raças. 1 em cada 4 homens negros terá cancro da próstata durante a sua vida. Desta forma, várias sociedades médicas recomendam que os homens negros devam iniciar o rastreio do cancro da próstata a partir dos 45 anos.
5. Que estratégias podem ser implementadas para aumentar a adesão dos homens ao rastreio do cancro da próstata e ultrapassar eventuais barreiras como o medo ou o desconforto?
A principal estratégia passa pela literacia em saúde através de campanhas de consciencialização sobre a importância do rastreio, como palestras, distribuição de folhetos informativos ou a divulgação por meios de comunicação social.