Coronavírus

Entenda por que as doenças crónicas podem agravar quadro de infeção por Covid-19

Atualizado: 
05/08/2021 - 16:36
Qualquer pessoa pode ser infetada com o novo coronavírus. E se, na maioria dos casos, a doença evolui com sintomas ligeiros a moderados, não sendo necessária a sua hospitalização, outros constituem-se como grupo de risco para doença grave. Entre os grupos mais vulneráveis à infeção estão todos aqueles que apresentam uma doença crónica. Entenda porquê.
Homem de cabelo grisalho com máscara de oxigénio

De um modo geral, as doenças crónicas provocam um maior desgaste do sistema imunitário que fragilizado terá mais dificuldade em realizar o seu papel de defesa do organismo. Em grande parte, a medicação que estes doentes têm de tomar é responsável por esta fragilidade deixando-os mais suscetíveis ao ataque de agentes infeciosos, como o novo coronavírus.

Assim, ao contrário do que poderia pensar, não são só os mais idosos que estão em risco. Saiba que doenças como a diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, cancro e até as doenças neurológicas podem contribuir para o agravamento de um quadro de infeção pode coronavírus. Eis porquê:

Diabetes e hipertensão

Diabetes e hipertensão, por exemplo, contribuem para o “enfraquecimento” dos neutrófilos, o tipo de glóbulo branco que existe em maior número no nosso corpo e que está na linha da frente na defesa do organismo contra agentes agressores, como bactérias e vírus.

Ora quando enfraquecidos, deixam de conseguir eliminar estes agentes agressores permitindo que os quadros de infeção se agravem ou se espalhem.

Deste modo, quanto mais mal controladas estiverem estas doenças, pior funcionam os neutrófilos o que deixa o organismo mais vulnerável aos vírus e bactérias. No caso do coronavírus, este terá tendência para se disseminar e atingir órgãos, como os pulmões, onde se aloja e espalha, provocando uma pneumonia.

Cancro e doenças cardiovasculares

Os tratamentos oncológicos geralmente enfraquecem o sistema imunitário, mesmo muito tempo depois de os tumores desaparecem, o que torna este grupo de doentes mais suscetíveis ao Covid-19 e de desenvolver complicações. Como aliás, explica a Sociedade Portuguesa de Oncologia, acontece com outras infeções.

A novidade é que como este vírus é recente ainda não se sabe ao certo como e porquê atinge com maior gravidade algumas pessoas, por isso o melhor mesmo é prevenir e evitar o contágio.

Em declarações prestadas à SIC Notícias, Ana Raimundo, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, afirmou que “este maior risco de complicações obriga os doentes e seus familiares a cumprirem de forma ainda mais rigorosa os protocolos de proteção e de diminuição de contactos com outras pessoas".

No que diz respeito às doenças cardiovasculares, a American Heart Association explica que, quando pulmões são afetados pelo novo coronavírus, um coração já doente precisa trabalhar ainda mais para bombear sangue oxigenado por todo o corpo.

Um estudo publicado em março na revista Springer Nature, que analisou 150 pacientes com covid-19 em Wuhan, demonstrou que "casos com doenças cardiovasculares têm um risco significativamente maior de morte ao contrair o novo coronavírus".

No entanto, a Associação Americana de Cardiologia afirma que os efeitos específicos da covid-19 no sistema cardiovascular ainda não são claros.

O que se sabe é que as doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão aumentam os níveis de uma substância no corpo conhecida como enzima conversora da angiotensina, que atua no sistema de controlo da pressão arterial.

Alguns estudos apontam que o novo coronavírus é capaz de se ligar às células por meio desta enzima, especialmente no pulmão, e gerar uma maior agressão aos tecidos do corpo, aumentando assim o risco de se desenvolver uma síndrome pulmonar grave.

Doenças Respiratórias Crónicas

Os doentes respiratórios crónicos à partida já apresentam uma saúde pulmonar mais debilitada, o que faz com que, em caso de agressão do novo agente, possam surgir infeções secundárias.

Por outro lado, alguns especialistas também afirmam que infeções respiratórias, como a provocada pelo novo coronavírus, podem desencadear e agravar sintomas de doença já instalada, como é o caso da asma ou doença pulmonar obstrutiva crónica.

A este respeito a Sociedade Portuguesa de Pneumologia aconselha quem está preocupado com o novo vírus a manter a doença sob controlo, seguindo as recomendações do seu médico. Na página da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, pode obter mais informações sobre este tema.

Problemas neurológicos e Demência

De acordo com os especialistas também as pessoas que sofrem de demência ou que sofrem de outro problema neurológico podem desenvolver complicações por causa do novo coronavírus.

Segundo a informação divulgada, sabe-se que este vírus leva à produção de uma grande quantidade de secreção respiratória. Os doentes com demência e outros problemas neurológicos podem não perceber ou conseguir livrar-se dessas secreções que inevitavelmente acabam por ser aspiradas para o pulmão, levando consigo inúmeras bactérias.  

Idosos têm imunidade mais baixa

A combinação da covid-19 com doenças crónicas em idosos é ainda mais grave porque, a partir dos 60 anos, o sistema imunitário tende a se deteriorar, um fenómeno chamado “imunossenescência”, o que prejudica ainda mais a resposta do organismo a vírus e bactérias.

Isso significa que o sistema imunitário pode reagir não só de forma insuficiente e não conseguir combater o invasor, como ter uma resposta exagerada quanto ao agente agressor.

O que acontece é que, quando enfraquecido, o sistema imunitário pode não conseguir modular a resposta, dando origem uma inflamação descontrolada que favorece a desorganização do microambiente pulmonar. Deste modo, mesmo as bactérias que ali vivem em harmonia com o organismo, diante da inflamação, podem proliferar produzindo um quadro infecioso mais difícil de debelar. Além disso, as células do sistema imunitário que deveriam apenas matar as células infetadas acabam por atingir também as sãs, provocando mais lesões.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
Sociedade Portuguesa de Pneumologia; Sociedade Portuguesa de Oncologia; BBC
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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