Edentulismo em Portugal e no idoso
Dados em Portugal
Em relação à população portuguesa, cerca de 70% dos portugueses têm falta de dentes naturais (excetuando os dentes do siso) e, destes, 30% já perdeu seis ou mais dentes e 8,7% da não tem qualquer dente natural.
E, entre aqueles que têm falta dentes, há 53% que nada tem a substituir.
Em termos absolutos quer dizer que 7 milhões de portugueses têm falta de um ou mais dentes, destes 2,5 milhões tem falta de seis ou mais dentes, 820 000 sem qualquer dente.
22.0% dos portugueses com falta de seis ou mais dentes não têm nada a substitui-los, ainda assim melhorámos 6 pontos percentuais relativamente a 2019. (In 6ª Edição Barometro da Saude Oral, OMD 2021)
Causas do Edentulismo
O aumento da perda dos dentes com a idade é uma tendência universal, motivando na sociedade o imaginário do idoso desdentado como reflexo natural da dentição humana. Contudo, o edentulismo nos grupos mais velhos é expressão do efeito cumulativo de doença oral ao longo dos anos, sendo a cárie e a doença periodontal os fatores mais prevalentes. Portanto, o edentulismo em idade avançada não é consequência apenas do processo de envelhecimento.
A saúde oral do idoso continua a não estar no centro das atenções quando se trata de discutir a saúde dos idosos como um todo, quando falamos de uma faixa da população com diversas comorbilidades, como doenças cardiovasculares, diabetes, neoplasias que tanto afetam a qualidade de vida dos idosos.
Como todos sabemos só em meados do século XX é que se começou a dar mais atenção à saúde oral, e à preservação de dentes em detrimento da sua extração, isto nos grandes centros urbanos, pois o interior do país era muito pobre em oferta de profissionais.
A falta de literacia e o baixo nível socioeconómico também contribuiu, e continua a contribuir, para a vontade do doente em preferir extrair um ou mais dentes a tratar dos mesmos e consequentemente não os substituir.
Impacto na Saúde
Logo após a perda de um dente, e quando este não é substituído começa a haver uma alteração na posição dos dentes adjacentes, gerando várias consequências:
- Má posição dentária: que pode levar ao aparecimento de espaços entre os dentes, ou apinhamento dificultando a higiene oral e a acumulação de alimentos entre os dentes. Egressão do dente oponente, levando à exposição das raízes e aumento da sensibilidade dentária e aumento da propensão para cárie radicular.
- Diminuição da capacidade mastigatória: A presença de poucos dentes pode ser um dos motivos pelo qual uma grande parte dos idosos apresenta um índice de massa corporal (IMC) acima do indicado para o peso e altura do idoso e de doenças crónicas não transmissíveis como diabetes e hipertensão, pois esta falta de dentes propicia um bolo alimentar menos triturado, ou a adoção de uma dieta mais mole, rica em hidratos de carbono e alimentos multiprocessados. Por outro lado, a dificuldade em mastigar pode provocar anorexia pelo sofrimento que uma refeição pode causar.
- Alterações na fonética, a falta de dentes provoca alterações na pronunciação de algumas letras.
- Alterações na estética oral e facial, alterações no sorriso
- Disfunções Temporo-Mandibulares, manifestando-se através de dores musculares, zumbidos nos ouvidos, dores de cabeça.
- Reabsorção óssea o que dificulta a futura reabilitação, mas não impossibilita.
- Apneia: a perda dentária completa provoca alterações anatómicas que prejudicam a função das vias aéreas superiores, o que compromete a qualidade do sono. Também com o avançar da idade toda a musculatura sofre uma hipotonia que associada com a indentação, provoca obstrução das vias aéreas, levando a períodos sem respirar e comprometendo a qualidade do sono, com isso, o doente ressona muito ou engasga-se durante a noite e acorda inúmeras vezes.
- Doenças psicológicas: a falta de autoestima leva ao isolamento social e à ideia de que não vale a pena substituir os dentes em falta, causando afastamento e isolamento mesmo da família mais próxima. e a dificuldade em mastigar pode provocar anorexia por repulsa do sofrimento que uma refeição pode causar.
Soluções
- Prótese sobre implantes
Os implantes dentários têm poucas contraindicações, e havendo, a maioria são temporárias.
A toma de bifosfonatos, tratamento de quimio ou radioterapia, diabetes descontrolada, fumadores pesados, são as maiores contraindicações.
A idade avançada não é por si um impedimento, tal como em todos os doentes, o médico dentista terá de avaliar a história clínica e o caso que tem à sua frente, a partir das quais decidirá em conjunto com o doente qual a opção mais adequada ao caso.
Esta pode ser fixa, estando aparafusada a 4 ou mais implantes, sendo a solução mais adequada no que diz respeito ao restabelecimento das funções perdidas.
Ou semifixa, sendo esta removível, mas com retenção nos implantes, o que confere maior estabilidade quando comparamos com uma prótese total removível.
Será uma boa solução, ou uma solução de resultados intermédios, quando falamos de idosos que necessitem do apoio do cuidador para a manutenção de uma boa higiene da prótese e dos pilares que ficam em boca e que não pretendam ser sujeitos a tratamentos mais invasivos.
- Prótese removível
A prótese removível ainda tem um peso grande como primeira opção devido ao baixo custo que apresenta, mas não é de todo uma solução considerada definitiva, apesar de em Portugal ser assumida como tal.
No idoso a adaptação nem sempre é fácil, e a própria retenção da prótese, sobretudo inferior torna-se na maioria dos casos impossível devido à grande reabsorção óssea, aos movimentos da língua, e de toda a musculatura inserida no maxilar inferior.
Este tipo de prótese apoia-se na mucosa oral, provocando lesões que têm de ser constantemente avaliadas de forma a prevenir doenças como a Candidíase, lesões pré-malignas ou cancerígenas, sendo a mucosa oral do idoso mais propensa a estes fatores por ser mais fina. As “feridas” provocadas pelas próteses podem ser porta de entrada de bactérias para a corrente sanguínea.
A falta de saliva no idoso e doentes polimedicados também compromete o uso de prótese removível.
Conclusão
Em primeiro lugar devemos continuar a apostar na prevenção e promoção da saúde oral, de forma a que o número de desdentados venha a diminuir ao longo do tempo.
Abordar o idoso como um todo, dando mais importância à saúde oral, já que outras comorbilidades poderão ser prevenidas ou melhoradas se a capacidade mastigatória for reposta.
Desmistificar junto da população, dos cuidadores e dos próprios idosos que vale sempre a pena melhorar a qualidade de vida, não olhando à idade.