"Psicologia da Pandemia"

É importante que os pais falem de forma tranquila sobre a pandemia

Atualizado: 
09/12/2020 - 15:52
A pandemia continua a paralisar a vida de uma percentagem considerável de portugueses, impactando negativamente a saúde mental não só dos adultos como das crianças. Por isso, ajudá-las “a sentirem-se seguras, manter rotinas saudáveis, gerir as suas emoções e comportamento e desenvolver resiliência”, é, de acordo com os psicólogos Mauro Paulino e Rodrigo Dumas-Diniz, autores do livro "Psicologia da Pandemia”, fundamental neste período excecional.

Desde o início da pandemia que muito mudou na vida dos portugueses. O isolamento, a incerteza sobre o futuro e sobre a doença, de um modo geral, criou estados de ansiedade muitas vezes difíceis de gerir. Segundo Mauro Paulino, um dos autores de “Psicologia da Pandemia”, “o medo do desconhecido e, neste caso, do alastramento da doença e do impacto sobre as pessoas, na saúde, nos hospitais e na economia, por exemplo, não só tem provocado o aumento da ansiedade em indivíduos saudáveis, bem como naqueles com problemas de saúde mental pré-existentes”. No entanto, diz o especialista embora se espere que “este impacto na saúde mental continue a ser, regra geral, mais expansivo, prolongado no tempo e debilitante, em comparação com os impactos físicos (…) não é expectável que a maioria dos portugueses venha a sofrer de perturbações psicológicas resultantes da pandemia e do seu impacto, mesmo não sendo esta fase atual inócua”. É que, de acordo com o especialista, para a grande maioria da população espera-se que “as respostas ao stresse pandémico sejam de curta duração e transitórias”. Seja como for, é importante estar ciente de que, em alguns casos, o impacto da pandemia pode ter repercussões mais graves a nível da saúde mental.

Para já, “as investigações científicas realizadas até à data sugerem que pessoas com patologias pré-existentes são mais suscetíveis a apresentar consequências de saúde mental decorrentes da pandemia”, explica Rodrigo Dumas-Diniz, coautor deste livro.

“Em Portugal, um estudo online com 10.529 participantes e que mereceu a publicação em revista científica internacional, constatou que 49,2% avaliaram o impacto psicológico da situação como moderado-severo, 11,7% relataram sintomas depressivos moderados a graves, 16,9% sintomas de ansiedade moderados a grave e 9,2% níveis de stresse moderados a graves, valores representativos dos desafios significativos que a pandemia tem colocado aos portugueses, no âmbito da saúde mental”, revela corroborando a ideia de que “embora maioria das pessoas com reações agudas de stresse à pandemia recupere sem tratamento, uma proporção notável poderá apresentar sintomas persistentes significativos de perturbação de stresse pós-traumático, resultando em angústia ou incapacidade de funcionamento”.

Tudo isto realça e representa, segundo Mauro Paulino, “a clara necessidade de maior investimento para a saúde mental”. À medida que a pandemia se prolonga, prevê-se uma procura ainda mais elevada de serviços de saúde mental, os quais ao longo dos últimos anos sofreram de subfinanciamento crónico. “É importante compreender que o investimento na saúde mental traz recompensas futuras”, reforça o especialista.

Entre os grupos de maior risco estão os profissionais de primeira linha, enumera Rodrigo Dumas-Diniz.

No entanto, estes efeitos não se fazem apenas sentir na população adulta. Também crianças e jovens têm vindo a apresentar elevados níveis de stresse ou ansiedade em tempos de pandemia.

“As evidências emergentes da pandemia sugerem vários fatores que influenciam a saúde mental e o bem-estar de crianças e jovens, incluindo nomeadamente o stress associado ao medo de que membros da família (incluindo pais, avós e irmãos), amigos ou eles próprios fiquem infetados, ou resultante da intensificação da cobertura mediática (as mensagens de redução do risco podem amplificar a ansiedade)”, refere Mauro Paulino, pelo que é tão importante que os pais possam falar de forma tranquila com as crianças sobre o que se está a passar. “A própria Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibilizou material nesse sentido para que os pais o possam fazer com maior segurança”, revela.

Para os ajudar, Rodrigo Dumas-Diniz deixa alguns conselhos aos pais: “Em primeiro lugar, é importante ajudar as crianças a sentirem-se seguras, manter rotinas saudáveis, gerir as suas emoções e comportamento e desenvolver resiliência. As crianças confiam nos seus pais para a segurança, tanto física como emocional, daí que se torna necessário que os pais assegurem que estão lá para eles para ultrapassar isto em conjunto. Por outro lado, falar com as crianças sobre qualquer notícia assustadora que elas ouçam. Não há problema em dizer que as pessoas estão a ficar doentes, mas deve-se relembrar que as medidas de segurança como lavar as mãos, usar máscaras e passar mais tempo em casa, ajudará a sua família a manter-se saudável”.

Enquanto não for possível visitar os familiares, “as conversas telefónicas ou em videochamada podem ajudar a aliviar a ansiedade”, acrescenta o especialista.

Por outro lado, reforça a importância da criação e manutenção de rotinas: “nesta fase, é mais importante do que nunca manter a hora de dormir e outras rotinas, criando um sentido de estabilidade num tempo muito incerto. As crianças têm frequentemente mais problemas na hora de dormir durante qualquer período stressante, o que pode tornar mais difícil aprenderem e gerirem as suas emoções”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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